O vocábulo "sádico" deriva do nome do escritor e e filósfo francês Donatien Alphonse François de Sade, popularmente conhecido como Marquês de Sade (1740-1814).
Segundo o que o Dicionário On-Line de Português, "sádico" é quem se regozija do sofrimento alheio.
Mas será que o Marquês de Sade merece ser lembrado pelos tempos afora, como aquele que se regozija, ou seja, que sente felicidade pelo sofrimento do próximo.
Já tive a oportunidade de ler várias obras do Marquês de Sade e, particularmente, entendo que ele não deveria ser lembrado dessa forma.
Para provar a minha teoria, transcrevo alguns trechos de obras do autor:
A razão, meu amigo, tão-somente a razão nos deve advertir que prejudicar nossos semelhantes jamais nos tornará felizes, e nosso coração, que contribuir para a felicidade deles é a melhor coisa que a natureza pode nos conceder na Terra. Toda a moral se encerra nestas palavras: tornar os outros tão felizes quanto desejamos sê-los nós mesmos, e jamais fazer-lhes maismal do que gostaríamos de receber.
(in Diálogo entre um padre e um moribundo. p. 27. Trad. Contador Borges. Iluminuras: São Paulo. 2001).
O que é a guerra, senão a ciência de destruir? Estranha cegueira a do homem que ensina publicamente a arte de matar, que recompensa quem nela mais se distingue e pune aquele que por motivos particulares de desfaz de seu inimigo! Já não é tempo de nos afastarmos desses erros tão bárbaros?
(in Filosofia na alcova. p. 164. Trad. Contador Borges e Alain François. Iluminuras: São Paulo. 2001).
Desses primeiros princípios decorre, percebe-se, a necessidade de se fazer leis suaves, e sobretudo de aniquilar para sempre a atrocidade da pena de morte, porque a lei que atenta contra a vida de um homem é impraticável, injusta, inadmissível.
(in Diálogo entre um padre e um moribundo. p. 79. Trad. Contador Borges. Iluminuras: São Paulo. 2001).
Reconheço que o Marquês se perdia (e muito) quando tratava de sexualidade. Seus escritos pareciam sair de uma mão enloquecida, uma vez que não encontrava limite de qualquer natureza nessa matéria.
Já o seu conhecido ateísmo, para mim, era infantil. A forma que ele tratava a questão do sagrado se aproxima demais da ideia da criança que joga pedras na cruz para ver se algo acontece. Ele grita, como que desesperado, para ver se alguém o ouve do outro lado. Parece não se conformar com a ideia de estar sozinho. No fundo, no fundo, de tão agressor às divindades ele poderia muito bem ser tido como um grande crente desesperado por um "sinal".
Para quem se interessa por filosofia, espero que esta postagem tenha trazido um olhar diferente sobre um vulto que carrega, talvez injustamente, uma imagem tão negativa, tão pesada. Será castigo divino?
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