28 de julho de 2011

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"Puto, o medo é uma cena que...a mim não me assiste."

SIMPATIA















Na semana passada, ressuscitou do meu inconsciente um acontecimento da infância. Lembro-me de estar sentado próximo de um formigueiro, sobre o qual estava sendo derramada uma generosa porção de polenta cremosa. Conhecendo a memória de minha família, certamente eu estava participando de alguma simpatia.

Para quem não sabe, uma simpatia é uma receita absolutamente ilógica, baseada em elementos ou ingredientes aleatórios, com o objetivo de obter um benefício igualmente absurdo e improvável.

Já deu para notar que nutro certa antipatia às simpatias, mas não é por acaso.

Como é que alguém, no seu perfeito juízo e razão, consegue acreditar em receitas para: amarrar namorado, esquecer homem casado, afastar amante, vender terreno, recuperar dinheiro perdido, terminar com vícios como cigarro ou álcool, dentre outras mil hipóteses. Ora, quando o meio não tem fundamento, nem o céu serve de limite.

Aprecio muito a cultura popular e os regionalismos, mas excluo dessa preferência as crendices em geral. Para se ter uma ideia do ponto a que se chega com a prática das simpatias, vale relembrar algumas bastante comuns.

Amiga leitora, você está apaixonada por um homem que é comprometido. Ele retribui o olhar, mas você não quer confusão, não deseja ficar mal falada. Chega dessa agonia! Basta você usar a simpatia para esquecer homem casado. É muito simples: vá a uma igreja qualquer e faça uma prece para ele e para a esposa. Depois deposite uma oferenda no cofre da igreja, em nome do anjo da guarda dele, pedindo para afugentá-lo da sua vida. Pronto, mais um homem fora da sua memória!

E aquele terreno que está empacando a sua vida? Ninguém deseja comprar aquela grota que você recebeu de herança e que só gera IPTU todo ano? Muito simples, basta usar a simpatia para vender terreno, que é a seguinte: junte três punhados da terra do seu terreno e deposite dentro de uma caixinha e amarre uma fita verde. Depois, basta colocar a caixa na frente de um Registro de Imóveis e logo aparecerá um interessado.

A vida está difícil? O seu marido briga todo dia quando chega do trabalho e ainda mete a mão na sua cara de vez em sempre? É hora de mudar! Daqui para frente só paz e amor no lar. Pegue duas gemas de ovo, escreva o seu nome e o do marido estressado num papel branco, coloque tudo num pires e cubra com mel. Deixe durante sete (sempre serão sete, mas não pergunte o motivo) dias em um canto de sua casa e depois jogue tudo em água corrente.

E a velha patroa em casa? Está bebendo mais do que um Maverick? Para que perder tempo com tratamentos médicos, internações e remédios. O mais simples é fazer uma simpatia! Basta escrever o nome da Dona esponja com um pedaço de giz branco numa folha grande de cartolina preta. Feito isso, coloque um copo branco virgem (copo virgem?) cheio de água em cima da cartolina (bem no meio) e diga: Fulana, deixe de beber, (falar o nome da bebida em que a pessoa está viciada), e que só goste de beber água. Fale isso três vezes seguidas. Deixe esta simpatia no mesmo lugar durante sete dias (novamente o sete). Depois desse período, jogue tudo na praia. A pessoa que bebe não pode saber dessa simpatia (até porque se souber é caso de internar quem a fez).

Mas a verdade é que se eu não acredito em simpatias o problema é só meu. Cada um que acredite no que quiser. Só não venha fazer simpatia para mim, porque eu já aviso que tenho o corpo fechado e que bati três vezes na madeira pra isolar, certo?

Veja mais crônicas em http://www.cronologicas.blog.com/

27 de julho de 2011

VÍDEO DA BRIGA OCORRIDA NA ÚLTIMA STAMMTISCH DE JARAGUÁ DO SUL



Uma parte das pessoas que comparecem anualmente no evento Stammtisch de Jaraguá do Sul, não compreende que o objetivo é proclamar a fraternidade e o reforço de laços de solidariedade entre os munícipes e entre os próprios grupos de amigos.

É por essas e outras que, há uns bons anos não compareço ao evento e também não tenho a menor vontade de voltar a frequentar. 

15 de julho de 2011

A CULTURA DO EU COMIGO MESMO E MEU UMBIGO (RAPHAEL ROCHA LOPES)

Quem sabe em vez de chamar de “cultura do eu comigo mesmo e meu umbigo” seja melhor denominar “síndrome do eu comigo mesmo e meu umbigo”. Uma síndrome dos tempos modernos, embora já vista, sem dúvida, desde as mais priscas eras.

Lembro-me desse assunto porque no último final de semana, sábado mais precisamente, estava almoçando com minha namorada no shopping lotado e, ao mesmo tempo, observando as pessoas. Na realidade observando o comportamento das pessoas.

Numa determinada mesa (na realidade duas mesas conjugadas) amontoavam-se possivelmente uma dezena ou uma dúzia de homens. Homens feitos, não moleques, adolescentes ou jovens. Adultos mesmo. Estavam comendo, bebendo e se divertindo. Nada demais até então. O que, de certa forma, me incomodou foi o fato de saírem e deixarem seu piquenique em cima das mesas, sem qualquer consideração com as pessoas que estavam esperando lugar para sentar.

Alguns podem dizer: “Ah, Raphael, mas estão lá para comer e se divertir, não para limpar as mesas, que é obrigação dos funcionários do shopping”. Ok, vá lá, tem gente que só pensa assim mesmo. É a tal síndrome. Mas, sabemos todos, que a sistemática de uma praça de alimentação de shopping center é diferente. Nos shopping centers há, sim, pessoas para limpar e organizar a praça de alimentação, mas é costume que os usuários levem os restos e bandejas de suas refeições para os lixeiros e lugares próprios que existem lá.

E mesmo que alguém não conhecesse essa sistemática, o simples fato de ver pessoas procurando lugares para se acomodar já seria suficiente para quem estivesse saindo colaborar retirando seus restos das mesas. No mínimo uma gentileza que não acarretaria mal algum (ao contrário) e nem faria cair o braço.

Infelizmente não é apenas nos shopping centers que se percebe a “síndrome do eu comigo mesmo e meu umbigo”. Motoristas que simplesmente fingem não ver só para não dar passagem. Baderneiros que perambulam pelas madrugadas berrando como se as outras pessoas não estivessem dormindo. Vizinhos que reclamam do choro do neném do casal do lado, mas que não se importam em escutar som em volume muito mais alto do que o necessário. Vereadores que não escutam a voz do povo e enclausuram-se nos seus projetos meramente político-partidários. Administradores públicos que não atentam para a letra da lei e empregam a família ou os amigos dos amigos. Banhistas que pensam que a praia é um lixeiro a céu aberto e deixam o lixo de tudo que consomem na areia. Fumantes que jogam restos do cigarro pelas janelas ou no meio da rua. Todos pensando que o mundo só gira para eles próprios.

São o que poderíamos chamar de soberbos, que o Aurélio define como arrogantes.

E para eles, os soberbos, pelo menos de acordo com Dante em sua Divina Comédia, “o grave peso de seu castigo constringe-os a caminhar curvados para o solo (...) dobrados sob o fardo de grandes pedras”.

Grande ideia!

8 de julho de 2011

INUTENSÍLIOS

Panela eletrônica para o arroz, escova de dentes robotizada com MP3, esfregão com cabo articulado e triplo processo de absorção, processadores de alimentos que fazem tudo, tudo mesmo, cuidam do bebê e até fazem companhia para a mulher moderna em seus momentos de solidão.

Parece que a sobrevivência era um desafio muito maior antes do surgimento do Harpic Master Ultra Plus que mata 99% das bactérias, deixa cheiro de flores e não agride seu animal de estimação.

Como era possível suportar a amarga existência humana sem o Turbo Body Action que promete dar o abdômen dos sonhos em apenas quinze dias ou ainda, daquele automassageador que elimina a celulite em uma semana sem suor e sem esforço?

Agora com o Instant Hair Plus, você será um homem calvo realizado. Mudas de cabelo crescerão a olhos vistos e, em breve, poderá ganhar a vida como cover do guitarrista Slash.

Já você, garoto feio, rejeitado e com o rosto coberto de acne, compre o desodorante Axe que as mulheres cairão do céu, rastejarão babando loucamente e atravessarão o oceano para conhecê-lo.

O marketing eficiente cria necessidades no público consumidor, que já não consegue imaginar sua vida sem um tênis com duplo sistema de absorção de impacto ou daquela escova de cabelos giratória que emite íons e desembaraça o fio até a raiz, dando brilho e mais cor.

Mas espere!

Ligando agora para comprar o super grill giratório que brilha no escuro e deixa sua comida sem gordura, você recebe inteiramente grátis um maravilhoso avental, um incrível ralador de beterrabas de última geração e um livro de receitas que vai revolucionar a sua vida.

Mas atenção!

Essa promoção é válida somente para as primeiras cem ligações. Por isso, descabele-se, arranque a aposentadoria das mãos da sua avó, corra para o telefone e não perca!

- Compre, compre, compre! Diz, gesticulando nervosamente, o vendedor multimídia de felicidade.

Sim, a televisão é aquela melhor amiga que pede que ninguém resista aos seus comandos. Seja você mais um cadáver adiado a comprar promessas de apoteose e felicidade eterna, endividando-se por impulso, comprando tudo em “apenas” doze vezes sem juros no cartão de crédito. Afinal, se a parcela cabe no orçamento só pode ser um ótimo negócio.

Ansiedade, depressão, alienação e falta de referências, são elementos que impulsionam as vendas de produtos dispensáveis e descartáveis que atravessam claramente a fronteira do ridículo. Inutensílios que se acumulam entulhando as caixas urbanas que nos servem de residência passageira.

Veja mais crônicas em http://www.cronologicas.blog.com/

6 de julho de 2011

ESTACIONAMENTO ROTATIVO

Desde segunda-feira (04/07), quando voltou a vigorar o sistema de estacionamento rotativo na cidade de Jaraguá do Sul (SC), tem-se a impressão de que um terço da população foi dizimada.

Ruas limpas, vazias, vagas em qualquer lugar nas ruas centrais em que o sistema foi implantado. O efeito está sendo, a meu ver, positivo para a cidade.

4 de julho de 2011

A CRÔNICA E O FLANELINHA

A crônica, a meu ver, é um gênero que fica situado no limbo, entre a literatura e o caráter informativo. Trata de uma descrição particular de fatos na linha do tempo.

Falo em descrição de fatos na linha do tempo, pois a crônica nada mais é do que um relato da atividade humana no espectro regido por Cronos, o deus grego criado à imagem e semelhança dos homens.

Mas, afinal, o que é o tempo senão uma convenção humana de medida de variação de movimento no espaço? A cronologia não existe por si só, depende da vivência e observação do homem para vir a ser, assim como os acontecimentos mais banais que preenchem a nossa existência e que podem ser alvo de comentários, as crônicas.

Acontecimentos banais do cotidiano, tais como o desconforto trazido pela “privatização informal de logradouros públicos”, uma expressão eufemística para a atividade dos flanelinhas.

Estava eu numa cidade litorânea próxima, quando, ao estacionar o carro, comecei a perceber alguém no escuro mexendo-se como louco, fazendo gestos e giros com os braços. Dito e feito, era um desses profissionais liberais do trânsito.

Mal havia estacionado o carro, sem necessidade de qualquer auxílio, quando ouvi o “toc-toc-toc” soar no vidro lateral do carro.

Olho para o relógio, são 22h30min de sábado e o que vejo então é um par de incisivos superiores queimados, provavelmente pela fumaça quente do crack.

Abaixo o vidro: - pois não?

- “Déizão” pra estacionar aqui patrão!

Diante do tom imperativo e seguro do rapaz, inicia-se neste momento o raro fenômeno da combustão espontânea em minhas entranhas.

É claro que não adiantaria debater com o mancebo a respeito da natureza pública do espaço de que ele havia decidido tomar como seu, tampouco perguntar se ele tinha crachá de identificação de empresa contratada para explorar estacionamento rotativo.

Olhei para o lado e vi minha mulher pronta para o jantar. Certamente não era hora de discursos ou manifestações acaloradas de indignação.

Respirei fundo, desatei o cinto de segurança e desci do carro procurando falar na mesma sintonia: - “Déizão” não, né meu amigo?

Aqueles olhos opacos então negociaram sem referências: - Pois é né, “déizão” é só pra patrão. Vai cinco mesmo, só pra colaborar com a gente...

Nisso já vi a nota de cinco sendo apontada pela minha mulher. Bastou entregar e ir embora, torcendo para que o calor interno abrandasse.

Na volta, como já era de se esperar, o zeloso profissional cuidador de carros não estava.

Deve ter ido fumar o “cincão”.

2 de julho de 2011

CRONOLÓGICAS - ESPAÇO DA CRÔNICA JARAGUAENSE

Neste mês de julho de 2011, foi criado o Cronológicas. Nesse sítio serão publicadas seis crônicas por semana, obedecendo a seguinte ordem: Ítalo (segundas), Luciana (terças), Liandro (quartas), Darwinn (quintas), João (sextas) e, aos sábados, será a vez de convidados diversos que ajudarão a enriquecer o blog.

Escolhemos esse formato de apresentação dos nossos trabalhos, para dar uma maior dinâmica ao blog, permitindo que o leitor se depare com diversas formas de crônicas, de redação, enriquecendo nosso sítio.

Não somos hipócritas em dizer que é uma forma inédita de se apresentar um blog de crônicas, pois é uma maneira bastante usada e, pelo que acompanhamos, funciona.

Assim, contamos com sua ajuda para fazer o Cronológicas ganhar vida e participar do cotidiano de muitas pessoas.