Quem sabe em vez de chamar de “cultura do eu comigo mesmo e meu umbigo” seja melhor denominar “síndrome do eu comigo mesmo e meu umbigo”. Uma síndrome dos tempos modernos, embora já vista, sem dúvida, desde as mais priscas eras.
Lembro-me desse assunto porque no último final de semana, sábado mais precisamente, estava almoçando com minha namorada no shopping lotado e, ao mesmo tempo, observando as pessoas. Na realidade observando o comportamento das pessoas.
Numa determinada mesa (na realidade duas mesas conjugadas) amontoavam-se possivelmente uma dezena ou uma dúzia de homens. Homens feitos, não moleques, adolescentes ou jovens. Adultos mesmo. Estavam comendo, bebendo e se divertindo. Nada demais até então. O que, de certa forma, me incomodou foi o fato de saírem e deixarem seu piquenique em cima das mesas, sem qualquer consideração com as pessoas que estavam esperando lugar para sentar.
Alguns podem dizer: “Ah, Raphael, mas estão lá para comer e se divertir, não para limpar as mesas, que é obrigação dos funcionários do shopping”. Ok, vá lá, tem gente que só pensa assim mesmo. É a tal síndrome. Mas, sabemos todos, que a sistemática de uma praça de alimentação de shopping center é diferente. Nos shopping centers há, sim, pessoas para limpar e organizar a praça de alimentação, mas é costume que os usuários levem os restos e bandejas de suas refeições para os lixeiros e lugares próprios que existem lá.
E mesmo que alguém não conhecesse essa sistemática, o simples fato de ver pessoas procurando lugares para se acomodar já seria suficiente para quem estivesse saindo colaborar retirando seus restos das mesas. No mínimo uma gentileza que não acarretaria mal algum (ao contrário) e nem faria cair o braço.
Infelizmente não é apenas nos shopping centers que se percebe a “síndrome do eu comigo mesmo e meu umbigo”. Motoristas que simplesmente fingem não ver só para não dar passagem. Baderneiros que perambulam pelas madrugadas berrando como se as outras pessoas não estivessem dormindo. Vizinhos que reclamam do choro do neném do casal do lado, mas que não se importam em escutar som em volume muito mais alto do que o necessário. Vereadores que não escutam a voz do povo e enclausuram-se nos seus projetos meramente político-partidários. Administradores públicos que não atentam para a letra da lei e empregam a família ou os amigos dos amigos. Banhistas que pensam que a praia é um lixeiro a céu aberto e deixam o lixo de tudo que consomem na areia. Fumantes que jogam restos do cigarro pelas janelas ou no meio da rua. Todos pensando que o mundo só gira para eles próprios.
São o que poderíamos chamar de soberbos, que o Aurélio define como arrogantes.
E para eles, os soberbos, pelo menos de acordo com Dante em sua Divina Comédia, “o grave peso de seu castigo constringe-os a caminhar curvados para o solo (...) dobrados sob o fardo de grandes pedras”.
Grande ideia!
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