22 de dezembro de 2011

ADEUS 2011, BEM-VINDO FIM DO MUNDO

Quem ainda não ouviu falar no grande “evento” de fim do mundo programado para o final de 1999 e, depois, para a virada entre os anos 2000 e 2001? Teve até um grupo inteiro de uma seita que se suicidou (isso que é ansiedade) para não ter que passar pelo sofrimento do fim do mundo.

Lembro-me que, na época, assisti ao vídeo em que uma religiosa aconselhava as pessoas a manter as portas e janelas lacradas, fazer estoque de alimentos, imposição de mãos para magnetizar a água (?) e demais providências para aumentar a sobrevida durante o apocalipse.

Ora, se fosse realmente para acabar o mundo de que adiantaria fazer estoque de alimentos? Melhor seria sentar num barranco na beira de um rio e esperar o show de fogos.

Mas o milênio virou e, para a desgraça de muitos, a vida no planeta continuou. Religiões, seitas, profetas, adivinhos e outros esclarecidos tiveram que fazer mudanças, afinal, previsão de fim do mundo que se preze muda de data!

Sim, porque depois daquele fim do mundo frustrado, a onda agora é outra, muito mais sofisticada. O lance é que estávamos nos baseando no calendário errado, entendeu? Também, como é que poderia se esperar algo do calendário Gregoriano?

Certo mesmo é o calendário dos Maias! Esse é muito mais legal, dividido em duas contagens de ciclos e, para demonstrar o fim do grande ciclo temos que levar em conta a chamada contagem longa. Pois bem, essa tal contagem longa não tem previsão de recomeço. Ora, se não há previsão de novo ciclo, então a única conclusão plausível é que se trata do fim do mundo, certo?

Simples, claro e indiscutível, não?

Assim sendo, nos últimos anos, milhares ou milhões pelo mundo se impressionaram com a chamada “Profecia Maia” que, aliás, de profecia não tem nada. Trata-se de um equívoco hermenêutico que está sendo capitalizado por alguns e comprado por uma multidão de ingênuos assustados. 

Por conta disso, temos que ficar aguentando os meios de comunicação explorando, torcendo e distorcendo o tema à exaustão, para atrair audiência e vender comerciais.

Pessoalmente, não suporto mais esses pseudo documentários do Nat Geo e do History Channel falando da Profecia Maia e das Profecias de Fim do Mundo em geral.

Com tantos temas interessantes de história, vida animal, sociologia, antropologia e arqueologia, esses canais continuam exibindo besteirol de péssima qualidade e procedência.

Não quero dizer que sou um cético para tudo que não seja evidenciado pelos meus cinco sentidos, mas o bom senso recomenda certos limites.

A respeito do fim do mundo, prefiro pensar que muitas pessoas estão acabando individualmente com os seus mundos e suas vidas, ao tomarem decisões erradas ou ao serem vítimas de seus semelhantes. No conjunto, infelizmente, estamos lentamente cometendo a mesma tolice ao não cuidar do planeta, do ambiente que nos cerca e privilegiando o imediatismo, o lucro fácil, alienado e irresponsável.

Porém, o planeta sobreviverá ainda por algum tempo suportando a ganância humana em subtrair-lhe todos os recursos sem piedade. Não seremos nós, caros leitores, que presenciaremos o término da vida na Terra.  

Agora, uma coisa é certa, os Maias nunca imaginaram que tanta gente iria, num futuro distante, interpretar tão pateticamente o seu calendário astronômico.

15 de dezembro de 2011

QUEM É VOCÊ?

No cotidiano são constantes as apresentações nas relações interpessoais, sejam físicas, telefônicas ou virtuais por e-mail, blog, twitter, facebook e outras ferramentas de relacionamento.

Nesses momentos, particularmente, não gosto de apresentações rotuladoras, que são as mais comuns. Tenho esse direito. Não gosto de rotular os outros e, por isso, não gosto de ser rotulado.

Nunca vou me esquecer da apresentação pessoal que, estarrecido, fui obrigado a presenciar. Sem mentiras ou exageros, ouvi as seguintes palavras: “- Muito prazer, meu nome é Fulano de Tal, sou advogado, tenho uma imobiliária e um Audi A6”.

Como assim? Quem perguntou o que você tem, cara pálida? Então você é o que você tem? Por si mesmo não é nada? Com uma apresentação dessas, fica a impressão de se estar conhecendo um patrimônio e não uma pessoa.

Com essa falta de tolerância já surpreendi telefonistas de empresas naquele diálogo inicial de apresentação:

- FSJ Equipamentos, bom dia!

- Alô, eu gostaria de falar com o Sr. Marcos.

- Quem fala?

- É o Darwinn.

- Darwinn de onde?

- Da minha casa.

- O Sr. é de qual empresa?

- Não moça, eu sou o Darwinn e quero falar com o Sr. Marcos, podes passar a ligação por favor?

- Certo Sr., um minuto…

Ora, quer dizer agora que tenho que ser “de alguém”? Meu nome já não é mais suficiente para me apresentar? Quantos “Darwinns” será que eles atendem por dia, mês ou ano?

Na internet a apresentação passa, necessariamente pelo conceito de perfil e, geralmente decorre de uma resposta à seguinte questão: “Quem sou eu?”

No momento de responder a essa pergunta, pouca gente pára e reflete sobre a profundidade da questão que está por trás da descrição do seu perfil pessoal. As respostas mais comuns são algo como o perfil do narcisista: “Sou divertido, loiro, alto, gosto de malhar e de conhecer pessoas novas.”

Há também aquela apresentação de estilo Poliana: “Sou extrovertida, simpática, gosto do meu trabalho e dos meus amigos”. Ao intitular-se “simpática” já perdeu, pelo menos, três pontos.

E o que dizer dos perfis curriculares encaixotados: “Sou matemático, fiz pós em trigonometria na UNESP, gosto de jogar xadrez e da série The Big Bang Theory”.

Mas pense um pouco no título dessa crônica: “Quem é você?” Será que consegue responder com certeza ao se abstrair de seus papeis sociais?

Será que somos a nossa profissão ou classe social? Será que somos a cor dos nossos olhos ou do nosso cabelo? Será que somos o sorriso solto ou a cara amarrada?

Particularmente prefiro o caminho inverso, o da exclusão, ou seja, o de responder aquilo que sei que não sou. Talvez por exclusão se atinja um resultado mais exato. Por exemplo: eu sei que não sou a minha profissão, sei que não sou a cor dos meus olhos ou cabelos, tampouco meu humor ou classe social.

Fisicamente, por telefone ou via internet continuaremos diariamente a nos apresentar, dizendo uns aos outros o que achamos que somos, uns despreocupados, outros, torcendo para serem bem aceitos, uns querendo se vender para o mundo, outros desejando doar-se, uns querendo entrar e outros, sair.

8 de dezembro de 2011

E ENTÃO É NATAL!





















Podem me chamar de mal humorado, mas a verdade é que não sei lidar bem com esse Natal embrulhado, empacotado e empurrado goela abaixo que se vive nos dias atuais.

Há trinta e quatro anos que sou atormentado pelas mesmas músicas, mesmos programas de televisão, mesmas frases prontas nos cartões de Natal, enfim, uma nauseante repetição em favor de uma tradição religiosa que há muito se converteu em objeto de puro comércio.

Concordo com a resposta do poeta Drummond quando perguntado sobre o que pediria ao Papai Noel se o encontrasse: “Pediria a ele que parasse de encher o meu saco!”

O leitor pode até achar que estou exagerando, mas quando entro em um Shopping Center e escuto aquelas músicas natalinas “inéditas”, chego a sentir calafrios.

Ora, convenhamos que as crianças sentem-se eufóricas com o Natal não porque tal data representa, simbolicamente, o nascimento de Jesus de Nazaré. A verdade é que as crianças querem ganhar os presentes que o velhinho pop star do capital tem a obrigação de lhes dar. Leram bem: “obrigação”.

Pergunte a uma criança o que significa o Natal e ela provavelmente responderá: “Papai Noel e brinquedo.” A culpa, obviamente, não é da criança, mas sim dos adultos que acham linda essa ideia inteligente de reduzir e converter uma tradição prenhe de significados a uma troca de bens materiais.

Sejamos sinceros, pouca gente se lembra do motivo da festividade. Os presépios, por exemplo, deveriam sinalizar a simplicidade e a humildade do ambiente em que nasceu o grande ícone do Cristianismo. Porém, devido a pirotecnia comercial do luxo hipermoderno quase não se veem presépios nas comemorações natalinas. O que mais se vê mesmo é a figura do Papai Noel com o seu saco abarrotado de presentes.

De certa forma é até bom que a imagem do presépio não esteja tão presente nas vitrines, pois não duvidaria ver os manequins das personagens vestindo roupas de grife internacional, relógios dourados nos pulsos, um berço de dez mil reais e outros adereços escandalosamente etiquetados.

Pecado? Bom, pecado hoje é não gastar bastante dinheiro com presentes no Natal! Quem tem dinheiro ou crédito (porque não é mais necessário ter dinheiro), mas se recusa a colaborar com o giro da grande roda, pratica tamanha atrocidade que certamente irá para o mais profundo dos infernos, sem escalas, tampouco direito de defesa.

E então é Natal, festa de luz, reunião de familiares que muitas vezes falam mal uns dos outros pelas costas, mas que na noite de véspera cumprimentam-se simpaticamente, forçam sorrisos e aguentam (quando aguentam) algumas horas de convivência sob o mesmo teto. Encerrada a comemoração, inicia-se mais um ano de maledicência, rancor e mágoas.

E então é Natal, o empregado ambicioso que pisa na cabeça dos colegas, o político corrupto, o cidadão corruptor, o chefe impiedoso com os subordinados e outras figuras tão humanas têm o intervalo de algumas horas para sentirem-se comovidos. A consciência não chega a doer, mas faz leves cócegas a ponto de convencer os menos resistentes a fazer uma boa ação em favor dos miseráveis e desafortunados.

E então é Natal, pinheiros com neve de algodão, alto índice de suicídios, picos de depressão, crediário, inadimplência em janeiro e fevereiro, cartões de crédito, promoções, comércio, comércio e mais comércio.

E então é Natal, tomara que os dias passem rapidamente. Sempre que se inicia o mês de Dezembro, espero ansiosamente pelo dia vinte e seis.

DARWINISMO

7 de dezembro de 2011

PROCON DE SÃO PAULO MULTA REDE MC DONALD´S EM MAIS DE R$ 3 MILHÕES

A Fundação Procon de São Paulo multou a rede lanchonetes McDonald’s em R$ 3,192 milhões pela prática de venda de alimentos com brinquedos, no conjunto conhecido com McLanche Feliz. A multa partiu de denúncia do Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, organização não governamental (ONG) que trata de consumo infantil.

A denúncia foi feita em 2010. A ONG argumenta que a associação entre a venda de alimentos e brinquedos “cria uma lógica de consumo prejudicial e incentiva a formação de valores distorcidos, bem como a formação de hábitos alimentares prejudiciais à saúde”.

A estratégia da rede de fast food é juntar ao lanche um brinde com personagens conhecidos pelo público infantil. De acordo com o Procon, desde a denúncia, em 2010, mais de 18 campanhas dirigidas a crianças foram feitas pelo McDonald’s. Na atual, os brindes são personagens do filme O Gato de Botas.

A rede MC Donald´s pode recorrer da multa.


1 de dezembro de 2011

QUEM É NORMAL?

Lá nos idos de 1896, Machado de Assis escreveu uma crônica tratando da paciência que tinha para ouvir o que as pessoas queriam lhe contar. Ele dava valor ao ato de ouvir o interlocutor. Eram notícias e discursos inflamados, vindos de pessoas que arregalavam os olhos durante a conversa, apertavam-lhe o braço ou puxavam-no pela gola da camisa. 

Contou também que havia perdido o sentimento de segurança desde a noticiada fuga no “Hospício de Alienados”. A partir disso, uma dúvida passou assaltar-lhe o sossego. Como poderia dali para frente ter ele a segurança de que o seu interlocutor não era um dos loucos fugitivos do hospício? Quem lhe asseguraria a normalidade mental do interlocutor? Qual o método para distinguir o louco do normal?

Voltando ao tempo presente, posso dizer que a inquietação Machadiana prossegue. Quem é normal? Eu mesmo não tenho certeza se atinjo o padrão de normalidade almejado pela sociedade. Talvez nem seja esta a minha vontade.

Sim, pois a sociedade transmite e impõe o padrão de conduta a ser seguida pelo cidadão dito “normal”. Nesse padrão constam as aspirações corretas, as profissões a serem seguidas, o que cabe ser feito em cada idade, a forma de se vestir, de crer, de falar e de se portar.

Portanto, se você já atingiu os seus 20 e poucos anos prepare-se: é o momento de estabelecer um relacionamento monogâmico estável e pensar no casamento heterossexual. Esse é o normal. Quem não se casa é delicadamente etiquetado de “solteirão”, “solteirona” ou “encalhado”. Quem estabelece relacionamento homossexual, por sua vez, ainda é vítima de discriminação e comentários pejorativos de toda a espécie.

Mas não basta casar, você deve sim fazer uma festa e chamar muitos convidados, mesmo que estes depois saiam falando mal do jantar, da música ou das roupas. Essa festa é, sobretudo, um débito social, uma prestação de contas que merece fotos em colunas sociais, enfim, uma confirmação de que você aderiu ao padrão social daquilo que se entende por normalidade.

Quem se casa precisa comprar uma casa. Se você optar por alugar um imóvel ficará sendo obrigado a repetidamente ouvir a mesma pergunta: – “Afinal, Fulano, quando é que você irá comprar a sua casa”?

Depois de se casar, não se esqueça de que você precisa ter filhos. Não ter filhos é sinônimo de infelicidade e também uma desonra à sociedade e aos avós. Estão absolvidos dessa acusação de desonra aqueles que tentam, mas não conseguem procriar por limitações naturais.

Você deve também comprar um carro, preferencialmente novo, mesmo que seja financiado em muitas parcelas mensais ou que a dificuldade de pagar custe-lhe noites de sono.

Para ser bem visto você deve trabalhar muito. Na verdade precisa trabalhar mais do que o seu corpo e a sua mente aguentam, afinal você se casou, assumiu compromissos, deve sustentar a estrutura do lar, as despesas geradas pelos filhos, os custos de manutenção da casa, do carro, dos empregados, etc. Além disso, deverá ter dinheiro para satisfazer os desejos de consumo que a televisão empurra diariamente para dentro da sua casa, sob pena de estar impedido de acessar a felicidade pós-moderna.

Mas fique tranqüilo! Se você não conseguir pagar as suas contas, poderá então fazer empréstimos, utilizar o bondoso limite do cartão de crédito ou o do cheque especial, mas deve fazer o dinheiro girar no mercado, esta é a sua contribuição mais importante como cidadão normal.

Com tudo isso, caso você comece a sentir tremores, embaraço mental, tristeza, frustração, taquicardia, suor, desespero e outros sintomas de insanidade, procure um médico e tome ansiolíticos, antidepressivos, calmantes e outros dispositivos de manutenção e sedação mental. Isso faz parte e é socialmente bem aceito, pois você está demonstrando que se esforça para ser “normal”.

Por essas razões, assim como Machado de Assis, eu também não me espanto quando me procuram com olhos arregalados para conversar, quando lágrimas e suor escorrem aparentemente do nada, quando sussurram e gritam alternadamente ou quando demonstram medo e agonia em suas falas. São apenas cidadãos socialmente desejáveis que pretendem continuar sendo normais.