8 de dezembro de 2011

E ENTÃO É NATAL!





















Podem me chamar de mal humorado, mas a verdade é que não sei lidar bem com esse Natal embrulhado, empacotado e empurrado goela abaixo que se vive nos dias atuais.

Há trinta e quatro anos que sou atormentado pelas mesmas músicas, mesmos programas de televisão, mesmas frases prontas nos cartões de Natal, enfim, uma nauseante repetição em favor de uma tradição religiosa que há muito se converteu em objeto de puro comércio.

Concordo com a resposta do poeta Drummond quando perguntado sobre o que pediria ao Papai Noel se o encontrasse: “Pediria a ele que parasse de encher o meu saco!”

O leitor pode até achar que estou exagerando, mas quando entro em um Shopping Center e escuto aquelas músicas natalinas “inéditas”, chego a sentir calafrios.

Ora, convenhamos que as crianças sentem-se eufóricas com o Natal não porque tal data representa, simbolicamente, o nascimento de Jesus de Nazaré. A verdade é que as crianças querem ganhar os presentes que o velhinho pop star do capital tem a obrigação de lhes dar. Leram bem: “obrigação”.

Pergunte a uma criança o que significa o Natal e ela provavelmente responderá: “Papai Noel e brinquedo.” A culpa, obviamente, não é da criança, mas sim dos adultos que acham linda essa ideia inteligente de reduzir e converter uma tradição prenhe de significados a uma troca de bens materiais.

Sejamos sinceros, pouca gente se lembra do motivo da festividade. Os presépios, por exemplo, deveriam sinalizar a simplicidade e a humildade do ambiente em que nasceu o grande ícone do Cristianismo. Porém, devido a pirotecnia comercial do luxo hipermoderno quase não se veem presépios nas comemorações natalinas. O que mais se vê mesmo é a figura do Papai Noel com o seu saco abarrotado de presentes.

De certa forma é até bom que a imagem do presépio não esteja tão presente nas vitrines, pois não duvidaria ver os manequins das personagens vestindo roupas de grife internacional, relógios dourados nos pulsos, um berço de dez mil reais e outros adereços escandalosamente etiquetados.

Pecado? Bom, pecado hoje é não gastar bastante dinheiro com presentes no Natal! Quem tem dinheiro ou crédito (porque não é mais necessário ter dinheiro), mas se recusa a colaborar com o giro da grande roda, pratica tamanha atrocidade que certamente irá para o mais profundo dos infernos, sem escalas, tampouco direito de defesa.

E então é Natal, festa de luz, reunião de familiares que muitas vezes falam mal uns dos outros pelas costas, mas que na noite de véspera cumprimentam-se simpaticamente, forçam sorrisos e aguentam (quando aguentam) algumas horas de convivência sob o mesmo teto. Encerrada a comemoração, inicia-se mais um ano de maledicência, rancor e mágoas.

E então é Natal, o empregado ambicioso que pisa na cabeça dos colegas, o político corrupto, o cidadão corruptor, o chefe impiedoso com os subordinados e outras figuras tão humanas têm o intervalo de algumas horas para sentirem-se comovidos. A consciência não chega a doer, mas faz leves cócegas a ponto de convencer os menos resistentes a fazer uma boa ação em favor dos miseráveis e desafortunados.

E então é Natal, pinheiros com neve de algodão, alto índice de suicídios, picos de depressão, crediário, inadimplência em janeiro e fevereiro, cartões de crédito, promoções, comércio, comércio e mais comércio.

E então é Natal, tomara que os dias passem rapidamente. Sempre que se inicia o mês de Dezembro, espero ansiosamente pelo dia vinte e seis.

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