Na semana passada, ressuscitou do meu inconsciente um acontecimento da infância. Lembro-me de estar sentado próximo de um formigueiro, sobre o qual estava sendo derramada uma generosa porção de polenta cremosa. Conhecendo a memória de minha família, certamente eu estava participando de alguma simpatia.
Para quem não sabe, uma simpatia é uma receita absolutamente ilógica, baseada em elementos ou ingredientes aleatórios, com o objetivo de obter um benefício igualmente absurdo e improvável.
Já deu para notar que nutro certa antipatia às simpatias, mas não é por acaso.
Como é que alguém, no seu perfeito juízo e razão, consegue acreditar em receitas para: amarrar namorado, esquecer homem casado, afastar amante, vender terreno, recuperar dinheiro perdido, terminar com vícios como cigarro ou álcool, dentre outras mil hipóteses. Ora, quando o meio não tem fundamento, nem o céu serve de limite.
Aprecio muito a cultura popular e os regionalismos, mas excluo dessa preferência as crendices em geral. Para se ter uma ideia do ponto a que se chega com a prática das simpatias, vale relembrar algumas bastante comuns.
Amiga leitora, você está apaixonada por um homem que é comprometido. Ele retribui o olhar, mas você não quer confusão, não deseja ficar mal falada. Chega dessa agonia! Basta você usar a simpatia para esquecer homem casado. É muito simples: vá a uma igreja qualquer e faça uma prece para ele e para a esposa. Depois deposite uma oferenda no cofre da igreja, em nome do anjo da guarda dele, pedindo para afugentá-lo da sua vida. Pronto, mais um homem fora da sua memória!
E aquele terreno que está empacando a sua vida? Ninguém deseja comprar aquela grota que você recebeu de herança e que só gera IPTU todo ano? Muito simples, basta usar a simpatia para vender terreno, que é a seguinte: junte três punhados da terra do seu terreno e deposite dentro de uma caixinha e amarre uma fita verde. Depois, basta colocar a caixa na frente de um Registro de Imóveis e logo aparecerá um interessado.
A vida está difícil? O seu marido briga todo dia quando chega do trabalho e ainda mete a mão na sua cara de vez em sempre? É hora de mudar! Daqui para frente só paz e amor no lar. Pegue duas gemas de ovo, escreva o seu nome e o do marido estressado num papel branco, coloque tudo num pires e cubra com mel. Deixe durante sete (sempre serão sete, mas não pergunte o motivo) dias em um canto de sua casa e depois jogue tudo em água corrente.
E a velha patroa em casa? Está bebendo mais do que um Maverick? Para que perder tempo com tratamentos médicos, internações e remédios. O mais simples é fazer uma simpatia! Basta escrever o nome da Dona esponja com um pedaço de giz branco numa folha grande de cartolina preta. Feito isso, coloque um copo branco virgem (copo virgem?) cheio de água em cima da cartolina (bem no meio) e diga: Fulana, deixe de beber, (falar o nome da bebida em que a pessoa está viciada), e que só goste de beber água. Fale isso três vezes seguidas. Deixe esta simpatia no mesmo lugar durante sete dias (novamente o sete). Depois desse período, jogue tudo na praia. A pessoa que bebe não pode saber dessa simpatia (até porque se souber é caso de internar quem a fez).
Mas a verdade é que se eu não acredito em simpatias o problema é só meu. Cada um que acredite no que quiser. Só não venha fazer simpatia para mim, porque eu já aviso que tenho o corpo fechado e que bati três vezes na madeira pra isolar, certo?
Um comentário:
Gostei muito, Darwinn. Bem humorada, divertida... Obviamente me identifiquei, pois também não creio nas bruxas, mas que elas existem, existem!! rs...
Abração, amigo, sabes da minha admiração por quem pensa algo e consegue colocar no papel de forma atraente!
Cris Driessen
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