21 de dezembro de 2012
20 de dezembro de 2012
SOZINHA NO BRASIL
Numa época, meados do século 19, em que máquinas fotográficas eram
um trambolho e, ao mesmo tempo, um luxo, quem retratava a natureza eram os
artistas viajantes, com seus lápis e pincéis. Por sorte, ainda havia muita
natureza a retratar, principalmente no Brasil, embora, entre uma viagem e outra,
os europeus que nos visitavam já percebessem o começo da devastação.
Um desses artistas só está sendo revelado agora: a inglesa
Marianne North (1830-1890). Sua viagem ao Brasil, em 1872-73, lhe rendeu 112
pinturas a óleo sobre papel da nossa paisagem e flora -o que supera em número a
obra de Thomas Ender, Rugendas e Debret no gênero, além de antecipar em cem anos
a de outra inglesa, a querida Margaret Mee (1909-1988). A íntegra de sua
produção brasileira está no livro "A Viagem ao Brasil de Marianne North", com
texto de Julio Bandeira, recém-lançado pela Sextante.
Marianne veio ao Brasil sozinha, o que não foi pouca façanha, e,
pelo que pintou e escreveu, nunca se arrependeu. Era fascinada pelas árvores,
plantas, flores, frutas, borboletas e cobras com que deparava, e deixou um
exuberante registro pictórico de tudo isso -com o qual, em Londres, matava seus
conterrâneos de inveja.
Segundo Bandeira, o único desgosto de Marianne era constatar, a
cada passo, a aversão dos brasileiros à floresta, vista como um lugar ameaçador,
"um pesadelo a ser destruído". O que a mata virgem provocava na gente da terra
era "o nojo, um terror iluminado apenas pelo clarão ardente das queimadas". E
não se conformava com a total ausência de naturalistas brasileiros -como se a
riqueza natural não fosse digna de estudo.
Quase 150 anos depois, se Marianne voltasse aqui, não lhe
faltariam brasileiros com quem discutir a mata. Entre esses, os defensores de
códigos florestais movidos a motosserras.
A crônica foi publicada no Jornal Folha de S. Paulo, mas eu li no www.irbianchi.com
16 de novembro de 2012
2 de novembro de 2012
SUICÍDIOS EM BLUMENAU E REGIÃO
No último dia 12 de Outubro, o jornalista Luis Nassif postou em seu blog artigo destacando o número de 90 suicídios apurados entre os meses de janeiro e agosto de 2012.
Segundo a OMS, o número de suicídios considerado normal é de 4 para cada 100 mil habitantes, o que assusta quando se compara com os números apurados em Blumenau (município com 250 mil habitantes).
Nessa mesma linha, soube oficiosamente (pois não há divulgação oficial) que a minha cidade (Jaraguá do Sul - SC), localizada a aproximadamente 60km de Blumenau e com população de aproximadamente 150 mil habitantes, apresentou 20 casos de suicídio entre os meses de janeiro e setembro de 2012, um número significativamente menor do que Blumenau, mas além da taxa de "normalidade".
Apesar de ser uma região desenvolvida e rica, o excessivo apego material, o uso excessivo de drogas lícitas e ilícitas e a pressão para a obtenção do sucesso como pressuposto para a aceitação social, podem ser fatores importantes para a formação dessa estatística.
Quando leio assuntos dessa natureza, sempre me recordo do pensamento de um Poeta Português, que dizia o seguinte: "Todo suicída quer ser encontrado, vivo ou morto!"
Quem quiser ler o artigo do Luis Nassif, segue o link: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/suicidio-uma-questao-de-saude-publica-em-blumenau
23 de outubro de 2012
AUTO-RETRATO (MÁRIO QUINTANA)
No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore…
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança…
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão…
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança…
Corrigido por um louco!
26 de setembro de 2012
21 de setembro de 2012
4 de setembro de 2012
YOGA E MEDITAÇÃO PARA "LIBERTAR" PRESOS
Condenado a quatro anos em regime fechado, acusado de roubo, o mineiro Manoel Fagundes, de 45 anos, diz que viu uma porta se abrir diante dele no Presídio Evaristo de Moraes, em São Cristóvão, onde está preso há um ano e seis meses. As grades que cercam o lugar continuam bem trancadas e, segundo Manoel, essa experiência só foi possível graças aos cursos de meditação e ioga oferecidos dentro da casa de detenção, semanalmente, para cerca de 40 internos. As aulas fazem parte do projeto voluntário Prision Smart, criado pela Fundação Arte de Viver, voltado para a reabilitação de presos.
Cerca de 400 detentos já foram beneficiados pelo programa no Evaristo de Moraes que, por enquanto, é a única cadeia do estado do Rio de Janeiro a ter esse tipo de atividade.
Fundada há 30 anos, presente em 156 países e há dez anos no Brasil, a Arte de Viver oferece cursos de fortalecimento individual e ensina técnicas de respiração que ajudam os internos a eliminar emoções negativas. As aulas têm o mesmo conteúdo dos cursos realizados fora da prisão. Na cadeia o objetivo é o mesmo e, segundo Manoel, quando medita o preso consegue sentir amor, fé e esperança, sentimentos que ajudam os detentos a conviver com a privação de liberdade.
- Os presos aprendem técnicas de limpeza, esvaziam a mente. Ensinamos a sudarshan kriya, uma técnica de respiração que funciona como uma ação purificadora, traz a visão clara e ajuda a eliminar toxinas. É uma limpeza em nível celular - diz a advogada Carolina Jourdan, que dá aulas para os presos e integra a Arte de Viver, fundada pelo líder espiritual indiano Sri Sri Ravi Shankar, que está em visita ao Brasil.
Segundo ela, as mudanças de comportamento são visíveis:
- Você vê que a transformação é verdadeira, não tem como dissimular. Eles são muito sinceros, não têm máscaras.
- É como um espelho que está sendo limpo, um fenômeno mágico - diz o interno, que alega segredo de Justiça para não dar detalhes sobre sua condenação, mas não esconde a satisfação ao tentar mudar o seu destino. - Estou aprendendo a viver o presente. A gente fica preso ao passado, às angústias e, com a meditação, afloram muitas sensações. Costumo dizer que médicos dão remédios para curar os males do corpo e, para curar conflitos sociais e jurídicos, levam para a casa de detenção. Mas ainda não há um tratamento para isso, é preciso pensar nisso, se antecipar, oferecer tratamento psicológico para quem está no presídio.
Há 26 anos vivendo no sistema carcerário, com passagens por unidades que já foram desativadas e até demolidas, como o presídio da Frei Caneca, Cristiano José da Silva perdeu a liberdade aos 23 anos. Hoje, aos 49, faz uma análise fria da cadeia: segundo ele, o modelo tradicional de detenção no país não é capaz de recuperar os internos.
- Nunca tinha visto nada que levasse bem-estar ao preso. Eram só brigas e mortes. Vi algumas rebeliões. Mas, graças a Deus, a Arte de Viver me trouxe uma paz inexplicável. Sinto mais amor hoje em dia - diz Cristiano, que foi condenado a 68 anos de prisão por assalto, tráfico e homicídio e, para se reencontrar, teve que passar por um processo de desintoxicação pessoal. - Tivemos uma aula muito intensa, falei durante cinco minutos sobre mim mesmo, não estava preparado, não sabia controlar minha respiração. No dia seguinte não consegui sair da cela, senti náusea, tive diarreia, fiquei deitado durante dois dias. Depois eu soube que isso já ocorreu com outras pessoas.
Os detentos que fazem o curso de meditação são orientados a passar uma semana em silêncio e usam uma plaquinha no peito, indicando que não podem falar. A tarefa é complicada porque os companheiros de cela ficam curiosos, mas tentam colaborar.
Fonte: O Globo
3 de setembro de 2012
SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DO DIREITO DE MORRER
A resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que permite aos pacientes dizer não à sobrevida artificial em casos de doenças crônicas e terminais esbarra na falta de um respaldo legal. Apesar de terem entrado em vigor ontem, as diretivas antecipadas de vontade foram entendidas por especialistas no tema como o pontapé para que o Congresso Nacional legisle sobre o assunto.
O deputado federal Hugo Leal (PSC-RJ), autor do único projeto de lei sobre o assunto na Câmara, espera que o texto, parado desde 2009 na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, ganhe força para voltar ao fluxo de tramitação. “A decisão do CFM é válida, mas falta uma marco regulatório”, defende. A expectativa de Leal é de que o tema entre em discussão e se aperfeiçoe. Uma das alterações sugeridas por ele é a criação de um modelo de manifestação da vontade com abrangência maior que a do prontuário — como ficou definido na resolução do CFM. “Pode ser o mesmo formato da doação de órgãos, com planejamento semelhante. Atualmente, essa opção fica registrada na carteira de identidade. Poderíamos adotar o método e deixar explícito o cuidado que a pessoa quer”, defende. O parlamentar, porém, reconhece que o procedimento é complicado e, por isso, merece uma discussão.
Fonte: Correio Braziliense
24 de agosto de 2012
UNIÃO POLIAFETIVA
Após três anos de convivência sob o mesmo teto, duas mulheres e um homem optaram por regularizar a situação matrimonial e estabelecer, em cartório, as mesmas regras atribuídas ao casamento. O caso ocorreu em Tupã (a 435 km de São Paulo), em maio deste ano, mas só foi divulgado nesta semana, depois da publicação no Diário Oficial do Estado de uma Escritura Pública de União Poliafetiva.
O documento, uma espécie de contrato, foi feito no Cartório de Notas e Protestos da cidade pela tabeliã Cláudia Domingues. Segundo ela, essa escritura pode ser a primeira que trata sobre uniões poliafetivas no País. "O desejo dessas pessoas foi declarar publicamente essa situação e ter a garantia dos seus direitos", disse a tabeliã. Os nomes foram mantidos em sigilo pelo cartório. O trio já havia procurado outros profissionais da cidade, que não quiseram registrar o documento. Mas, após analisar a questão, Cláudia avaliou que não existia impedimento.
Para o juiz Nilton Santos Oliveira, da 2.ª Vara de Direito da Família de Araçatuba, o documento é um instrumento legal. "Não vejo nada de irregular. A sociedade avança e não podemos fechar os olhos para isso. Temos de acompanhar a evolução e adequar a legislação com base em casos concretos."
Para a vice-presidente do Instituto Brasileiro de Família (Ibdfam), Maria Berenice Dias, a sociedade deve se preparar para os diversos tipos de relacionamento que existem hoje em dia. Por meio de nota, Maria Berenice diz que é preciso "respeitar a natureza privada dos relacionamentos e aprender a viver nesta sociedade plural, reconhecendo os diferentes desejos". "O princípio da monogamia não está na Constituição, é cultural. O Código Civil proíbe apenas casamento entre pessoas casadas, o que não é o caso. Essas pessoas trabalham, contribuem e devem ter seus direitos garantidos. A Justiça não pode chancelar a injustiça."
A escritura lavrada em Tupã trata dos direitos e deveres dos envolvidos, das relações patrimoniais e da eventual dissolução da união e seus efeitos jurídicos. Um dos principais trechos diz: "Os declarantes, diante da lacuna legal no reconhecimento desse modelo de união afetiva múltipla e simultânea, intentam estabelecer as regras para a garantia de seus direitos e deveres, pretendendo vê-las reconhecidas e respeitadas social, econômica e juridicamente, em caso de questionamentos ou litígios surgidos entre si ou com terceiros, tendo por base os princípios constitucionais da liberdade, dignidade e igualdade."
Conforme o Ibdfam, o documento garante direito ao trio no que diz respeito à divisão de bens em caso de separação e morte, mas não trata, por exemplo, de pensão por morte ou financiamento bancário. Segundo o Ibdfam, a escritura estabelece um regime patrimonial de comunhão parcial, análogo ao regime da comunhão parcial de bens estabelecido pelo Código Civil Brasileiro.
No documento ficou decidido que um dos conviventes administrará os bens. Dentre os direitos e deveres dos envolvidos está a assistência material e emocional eventualmente para o bem-estar individual e comum, o dever da lealdade e a manutenção da harmonia na convivência entre os três.
Fonte: Jornal O Estado de São Paulo
Notícia encaminhada por: Bruna M. Piazera.
19 de agosto de 2012
ELEIÇÕES OU HIPÓDROMO?
Há
alguns meses escrevi uma crônica a respeito da campanha publicitária dos
biscoitos Tostines, que fez muito sucesso na década de 1980.
O
mote da campanha era o dilema desafiador: “Tostines vende mais porque é
fresquinho, ou é fresquinho porque vende mais?”
A
partir disso, diversas dúvidas do cotidiano passaram a ser ludicamente
apelidadas de “Dilemas Tostines”. Eu faço parte dessa geração e, portanto, até
hoje brinco com esses problemas que propõem soluções contraditórias.
Agora
em época de campanha política, surgem os dilemas próprios dessa época, como por
exemplo: Fulano é um bom candidato porque é bem votado ou é bem votado, porque
é um bom candidato?
O
dilema faz sentido, porque o pensamento invertido modifica o fundamento do
voto.
Ora,
votar em alguém simplesmente porque parece que será bem votado demonstra uma
ignorância sem proporções, mas é fato comum, ou você, caro leitor, nunca ouviu
alguém dizer vai votar em quem está ganhando “para não jogar o voto fora?”
Votar
em quem aparece na frente das pesquisas é algo tão comum, que muitas delas são encomendadas
com resultado predeterminado apenas serem divulgadas com o objetivo de iludir o
eleitor. Trata-se de velha ferramenta de marketing
político.
Em
casa, com seus botões, o ilustrado eleitor quando vê o resultado das pesquisas,
desenvolve então o seguinte tirocínio: “se Fulano está na frente é porque deve
ser bom, então vou votar nele(a).” Pronto, está consumado o equívoco.
Sim,
equívoco, porque o eleitor pode até acertar votando em uma pessoa que
posteriormente se revele um bom político, mas o critério de seleção foi errado.
É
como se os eleitores, em vez de refletir nas propostas apresentadas e na vida
pregressa dos candidatos, apostassem com seus votos no candidato que vai ganhar
a corrida. Algo semelhante como ir ao hipódromo.
Votar
em quem aparece na frente é como votar no candidato mais bonito. É um critério
ridículo, mas na época da campanha presidencial do Fernando Collor de Mello,
ouvi mais de uma mulher dizendo que votaria nele porque era jovem e muito
bonito.
Mas isso não é "privilégio" das mulheres, afinal, a Mulher Melão (apesar de não eleita) conquistou graças à sua "bagagem política", nada menos do que 1.568 votos em sua campanha para a função de Deputada Estadual pelo PHS do Rio de Janeiro.
Ainda
falta muito tempo para que tenhamos uma população politizada e preocupada
efetivamente com a “res publica”, porém acredito que já está melhor do que foi
e o avanço será contínuo na proporção do desenvolvimento da educação no País.
2 de agosto de 2012
NÃO CREIO NESSE DEUS
Não sei se és parvo, se és inteligente
— Ao desfrutares vida de nababo
Louvando um Deus, do qual te dizes crente,
Que te livre das garras do diabo
E te faça feliz eternamente.
Não vês que o teu bem-estar faz d’outra gente
A dor, o sofrimento, a fome e a guerra?
E tu não queres p’ra ti o céu e a terra.
— Não te achas egoísta ou exigente?
A dor, o sofrimento, a fome e a guerra?
E tu não queres p’ra ti o céu e a terra.
— Não te achas egoísta ou exigente?
Não creio nesse Deus que, na igreja,
Escuta, dos beatos, confissões;
Não posso crer num Deus que se maneja,
Em troca de promessas e orações,
P’ra o homem conseguir o que deseja.
Escuta, dos beatos, confissões;
Não posso crer num Deus que se maneja,
Em troca de promessas e orações,
P’ra o homem conseguir o que deseja.
Se Deus quer que vivamos irmãmente,
Quem cumpre esse dever por que receia
As iras do divino padre eterno?…
P’ra esses é o céu; porque o inferno
É p’ra quem vive a vida à custa alheia!
Quem cumpre esse dever por que receia
As iras do divino padre eterno?…
P’ra esses é o céu; porque o inferno
É p’ra quem vive a vida à custa alheia!
(António Aleixo, in “Este Livro que Vos Deixo)
1 de agosto de 2012
DEMAGOGIA
A
palavra demagogia deriva do grego “demagogós” e, quando decomposta, revela ser
a junção de “demas”, povo, com “agein”, conduzir.
Portanto,
a tão propalada demagogia não é nada mais do que a estratégia de conduzir a
vontade do povo (especialmente em relação ao voto), para alcançar o exercício
do poder público.
Na
sua origem, a palavra não detinha o sentido pejorativo que lhe foi atualmente
emprestado. Ao contrário, representava apenas aquele que tinha a missão de conduzir
o povo, o líder.
Com
o passar dos tempos, a demagogia passou a ser vista cada vez mais como forma de
alcançar o poder a qualquer custo, inclusive enganando e iludindo o povo com os
mais diversos artifícios.
Não
é preciso dizer que a demagogia ressurge com vigor a cada pleito eleitoral. É
durante as campanhas que ela mostra a sua face.
As
estratégias utilizadas são as mais diversas, mas destacam-se os discursos
populistas e vazios de conteúdo, os falsos elogios dirigidos ao povo, a
apresentação de propostas mirabolantes e sabidamente irrealizáveis, a concentração
de obras públicas justamente durante o período de campanha, e por aí vai.
Demagogo
é aquele que mexe com o ego, com a vaidade e com os sonhos do eleitor para
obter a vitória nas urnas, mesmo consciente da falsidade de seus discursos e promessas.
É
certo que uma boa quantidade de políticos dessa estirpe obterá êxito nas
próximas eleições, afinal Maquiavel já advertia no Século XV que “os homens são tão simplórios, e tão dominados
por suas necessidades imediatas, que um mentiroso sempre encontrará súditos
prontos para serem enganados.”
Apesar
disso, o melhor antídoto contra esses espécimes nefastos que poluem a vida
pública, é o raciocínio crítico acerca das propostas apresentadas, o
conhecimento a respeito da vida pregressa do candidato, sua qualificação
profissional e idoneidade moral.
Não
existem alternativas. Sem um criterioso exame por parte dos eleitores, não haverá
evolução na qualidade dos eleitos.
25 de julho de 2012
SOBRE ADORNOS SOCIAIS
Basta dar um passeio
despretensioso pelas ruas da cidade ou circular por uma festa com os olhos
atentos, para notar como as pessoas gostam de se enfeitar com colares, correntes,
brincos, aneis, pulseiras, óculos, gargantilhas, piercings, alargadores, implantes e tatuagens.
O uso de adornos corpóreos faz
parte da cultura-mundo, ou seja, trata-se de valor presente desde tempos
imemoriais e nos mais remotos grupos sociais do globo. O que mudam são as
espécies e técnicas de enfeites, mas todo grupamento humano os utiliza.
Na grande aldeia dos homens
pós-modernos, existem enfeites (quase) despropositados, mas há outros que
procuram transmitir uma mensagem expressa como é o caso de algumas tatuagens ou
mesmo implícita, como é o caso das joias de alto valor econômico.
No caso das tatuagens, as
variações são tantas quantas as personalidades existentes sobre a face da
Terra. Vê-se desde frases do tipo “pára-choque de caminhão” até demonstrações
de fé religiosa, protestos de revolta e ódio, juras de amor, idolatria,
comerciais de marcas famosas, nome dos filhos, dos pais ou do namorado, imagens
tribais, eróticas, caveiras, dragões, tigres, seres mitológicos e tudo mais que
a imaginação pode proporcionar.
Por outro lado, em se tratando das
joias de alto valor econômico, além do elemento estético, podem vir a ser
utilizadas como mensagem de poder financeiro e também de pertencimento a
determinado grupo ou classe social.
Essa espécie de mensagem
implícita de diferença social também pode ser vista no ato de aquisição de
bolsas femininas, automóveis, motocicletas de luxo e, claro, roupas.
Há quem não consiga sair de casa
sem estar etiquetado, ou seja, com as logomarcas ou siglas de grifes estampadas
no peito, na bolsa, nos pés e demais partes do corpo. Ao que parece, certas
pessoas sentem-se inferiorizadas ou inseguras se não tiverem marcas que falem
por elas ou as apresentem ao público em geral.
É como se preferissem ficar
ocultos atrás dos escudos das marcas, com medo de rejeição de sua essência
humana ou de permanecer no lugar-comum. Há um desejo narcisista de diferenciar-se,
de superar a massa dos iguais, de receber atenção especial.
Nada contra o uso de grifes ou
marcas que podem também representar a reconhecida qualidade de um produto. Porém,
a dependência psicológica e inconsciente das marcas é que não se mostra
saudável, principalmente em relação às crianças já educadas desde a mais tenra
idade com a supremacia desse tipo de valor.
No livro “Darwin vai às compras”,
o Professor de Psicologia Evolucionista Geoffrey Miller explica detalhadamente
como as técnicas utilizadas pelo marketing seduzem batalhões de consumidores (muitas
vezes iludidos) ávidos por serem socialmente bem aceitos e poderem atrair
parceiros sexuais e amigos através da aquisição de determinados produtos ou
serviços.
Não é por acaso que vemos a
propaganda do desodorante masculino “Axe” que, ao ser utilizado, atrai mulheres
rastejantes que surgem do nada, bem como a mensagem publicitária de que o Ford
Fusion “é o carro para quem já chegou lá”. Trata-se de mecanismo que impulsiona
a roda do consumo.
Contudo, um mínimo de lucidez,
discernimento e consciência é aconselhável para viver de forma saudável em um
ambiente inundado por mensagens publicitárias desde o momento em que acordamos até
o que voltamos a dormir, a fim de se evitar a ideia distorcida de que o consumo
desenfreado é o caminho para a felicidade.
18 de julho de 2012
O VÍCIO DA NEUTRALIDADE
Não sou daqueles que recita
passagens bíblicas para todas as ocasiões, mas há um trecho conhecido do
Apocalipse de São João (3: 15,16), do qual frequentemente me recordo e que diz
exatamente o seguinte: “Conheço as tuas ações, que não és nem frio nem quente.
Quisera eu que fosses frio ou quente. Assim, porque és morno, e não és nem
quente nem frio, vou vomitar-te da minha boca.”
Pois bem, foi-se o tempo em que a
postura de neutralidade era admissível na vida política e social. Hoje, para
receber a qualidade de “cidadão” é imprescindível participar, opinar, formar convicção
e, quando possível, auxiliar na tomada de soluções para os problemas da
comunidade e da sociedade em geral.
Ao que parece, o receio de desagradar
ou criar alguma antipatia que possa influenciar negativamente nos interesses
privados, freia a conduta daqueles que, por sua posição privilegiada, deveriam justamente
colaborar ativamente em prol da sociedade em geral.
Nota-se com facilidade que o medo
impera de forma insana, como se todos fossem viver para sempre carregando o peso
de um patrimônio a ser protegido a qualquer custo.
Particularmente, prefiro ter em
mente o conteúdo do belo discurso de Steve Jobs, que destacou a importância de
relembrarmos da nossa mortalidade e de que já estamos nus. Não há motivo para
não seguirmos nossos corações e, assim, manifestarmos nossas convicções e
posicionamentos.
Nos momentos de crise moral,
quando os valores humanos são subvertidos ou solapados, a omissão é sempre a
pior conduta. Silenciar é favorecer quem age à margem da lei e arranha o
interesse público. Fechar os olhos é aderir a um conforto que somente favorece
interesses particulares. Precisamos, contudo, enxergar além de nossos próprios umbigos.
José Ingenieros com sua lucidez
peculiar, já alertava no início do Século XX que em certos momentos “nenhum clamor popular é percebido, não
ressoa o eco de grandes vozes animadoras. Todos se apinham em torno dos mantéis
oficiais para alcançar alguma migalha da comida. É o clima da mediocridade.”
É bem verdade que a vida é feita
de erros e acertos, porém é preferível assumir algum posicionamento do que se omitir
em prejuízo de toda a sociedade. A omissão e a neutralidade da sociedade constituem
postura conservadora que pertence a um passado inglório que muito mal causou ao
Brasil e que, justamente por essa razão, merece ser revista.
11 de julho de 2012
MANIFESTO AOS ELEITORES
Quando expirou o prazo para o
registro das candidaturas ao pleito municipal, pensei inicialmente em redigir
um manifesto dirigido aos candidatos, pedindo uma campanha política fundada
essencialmente na apresentação de propostas coerentes, sérias e honestas.
No entanto, logo depois percebi
que os meus pedidos e sugestões devem ser direcionados a quem realmente detém
poder neste momento, ou seja, o público eleitor, verdadeiro titular do poder em
um Estado Democrático.
Portanto, em vez de dirigir-me
aos mais de cento e sessenta candidatos a vereador e aos três candidatos a prefeito(a),
falo aos eleitores.
Em primeiro lugar, é necessário
ter a perfeita noção da responsabilidade de quem tem o direito-dever de votar,
ou seja, de escolher quem representará o povo pelos próximos quatro anos.
Não se pode mais ignorar a importância de um
voto consciente, no sentido de que o eleitor conheça as propostas do candidato,
sua vida pregressa, antecedentes de improbidade administrativa, qualificação profissional
para a função e experiência administrativa.
Estudemos, pois, a vida daqueles
que pretendem figurar como nossos representantes, evitando que novos
“Tiriricas” atinjam o objetivo de exercer uma função para a qual não estão
qualificados, não sabendo sequer exatamente a essência de suas atividades.
Não podemos ter vereadores que
não saibam que além de legislar, devem também fiscalizar os atos do Poder
Executivo ou, no mínimo, permitir que algum colega interessado o faça.
Aqueles que pretendem ser legisladores
precisam, ao menos, ter condições de ler e interpretar um texto corretamente,
entendendo seu alcance e profundidade. Devem conhecer o básico a respeito da
função legislativa e propor ações coerentes com a função que pretendem
desenvolver.
Já os candidatos a Prefeito devem
ter conduta ilibada, experiência administrativa e uma qualificação profissional
mínima para o exercício de tão importante função pública.
Portanto, salvo melhor juízo, não
se pode prestigiar a candidatura de quem já foi acusado e condenado pela
prática de improbidade administrativa, ou seja, de desonestidade com o uso de
recursos públicos.
Se na vida privada todos merecem ter
uma segunda chance em caso de falhas, tal não ocorre na vida pública. Quem
atenta uma vez contra os postulados de moralidade e honestidade no trato com a
coisa pública, merece ser condenado ao ostracismo para deixar outros
interessados demonstrarem que é possível administrar os recursos públicos de
forma honesta e eficiente.
Assim sendo, eleitores destinatários
destas linhas, a preocupação com o bom uso do voto é necessária. De nada
adiantam as queixas emitidas contra os titulares de cargos públicos, se quem
tem o poder de eliminar pretendentes indesejáveis não toma as medidas
necessárias no momento certo.
4 de julho de 2012
NEM SEMPRE O CLIENTE TEM RAZÃO
Em um país no qual vereadores sem qualificação profissional ganham mais de sete mil reais mensais, enquanto professores pós-graduados recebem salários de novecentos e bem poucos reais, não se pode esperar que a educação esteja bem.
Porém, a crônica desta semana não tratará do problema da falta de valorização do professor no ensino público, mas sim do cuidado que deve ser tomado para que o ensino privado não seja desvirtuado.
Apesar de lecionar há mais de uma década em uma instituição de ensino superior que valoriza o professor e lhe concede todos os meios necessários para desenvolver o melhor trabalho possível, tenho observado fatos abomináveis ocorridos em outras academias.
Não há dúvida de que o ensino privado auxiliou valorosamente na democratização do acesso à informação e ao conhecimento, tendo disseminado unidades de ensino em locais que o Estado não conseguia atingir.
É através da educação de qualidade (pública ou privada), que cidadãos transformam suas vidas e melhoram a qualidade da vida de suas comunidades e da sociedade de modo geral.
Todavia, o que nem todos percebem é que a natureza do ensino privado é de um serviço “sui generis” posto à disposição do consumidor. É uma atividade na qual o cliente muitas vezes não tem razão alguma, pelo contrário, falta-lhe determinado conhecimento e, justamente por isso, está pagando para obter instrução que lhe permita acertar mais e melhorar como ser humano e profissional.
Justamente por essa razão, quando se replica indevidamente na relação professor-aluno, a lógica de que “o cliente sempre tem razão”, a conduta do professor fica cerceada e os resultados são desastrosos, tanto na formação do caráter do aluno-cliente, quanto no resultado final de sua formação profissional.
Assim sendo, quando o professor não pode avaliar livremente o aluno, não há verdadeira relação de ensino. Quando o professor é impedido de chamar a atenção do aluno que pratica o plágio nos seus trabalhos, não há verdadeira relação de ensino. Quando o professor não pode interromper um aluno que está colando, não há verdadeira relação de ensino. Quando o aluno sente-se no direito de levantar da sua carteira para agredir o professor é porque ruíram os valores que deveriam orientar a relação de ensino.
Não se pode permitir que o pacto da mediocridade domine a educação formal, ou seja, o professor não pode fingir que ensina enquanto o aluno finge que aprende. Há um relevante papel social a ser cumprido pelo professor, que deve receber autonomia para tal desiderato. Da mesma forma o aluno deve receber com postura ativa o método e o conteúdo propostos para o seu desenvolvimento.
Turmas de acadêmicos não são “fornadas”,tampouco produtos finais de um pacote ofertado ao público em geral, mas sim grupos de pessoas que devem passar por um efetivo processo de aprimoramento humanístico e técnico-científico.
Não existem atalhos fáceis. Somente com educação de verdade será possível descortinar um futuro com maior igualdade, respeito, fraternidade e liberdade para todos.
29 de junho de 2012
27 de junho de 2012
INVERSÃO DE PRIORIDADES
- O Dr. vai me desculpar, mas é
que sou obrigado a fechar a delegacia quando vou ao banheiro, porque não tem
mais ninguém aqui. Trabalho sozinho.
- Como assim? Você não tem uma
secretária ou atendente, nenhum colega de trabalho?
- Que nada, aqui eu mesmo atendo
os cidadãos, registro ocorrências, tomo depoimentos, faço os encaminhamentos e o
que mais for necessário.
- Aliás, o Dr. tá vendo esse
papel que estou usando para imprimir os boletins de ocorrência?
- Sim, por quê?
- Porque eu fui obrigado a
comprar com dinheiro do meu bolso, caso contrário hoje não teria papel para
atender a população. Falando em papel, também tive que comprar papel higiênico,
pois também não tinha mais aqui na Delegacia.
Fecha aspas.
Já faz uma semana que tive essa
conversa e até agora não consegui esquecer. Aqui não há ficção, estamos falando
de uma realidade dura e cotidiana que demonstra o quadro pré-falimentar do
Estado.
Aliás, a dificuldade financeira é
tal que o Estado decretou um plano de corte de gastos com serviços
terceirizados, aluguel de veículos, dentre outras despesas, mas que,
aparentemente, não tem sido suficiente. Não é de hoje que o Estado tem se
mostrado fraco e ineficiente perante as necessidades da população.
Uma ineficiência que se constata
também no sistema penitenciário mal equipado, com falta de pessoal e que não
atende a diversas disposições contidas na Lei de Execução Penal, especialmente
a almejada reeducação do preso.
Uma ineficiência que se evidencia
igualmente na educação, em que os professores precisam periodicamente entrar em
greve para conseguir receber o mínimo necessário à sua subsistência, quase
sempre sem atingir o objetivo.
Mas o que faz alguém que está em
dificuldades financeiras? Quais providências toma aquele que não consegue pagar
corretamente as suas contas e cumprir com os seus compromissos?
A resposta é fácil, deve diminuir
despesas, evitar o luxo, o supérfluo e o desnecessário. Não é preciso consultar
nenhum especialista ou guru para se atingir esta conclusão. Basta o bom senso.
Nesse sentido, cabe questionar: o
Estado precisa manter a estrutura de nada menos do que 36 (trinta e seis)
Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs)? A utilidade das SDRs vai muito
além da fidelização de cabos eleitorais regionais? O Estado não consegue
direcionar recursos e agilizar projetos sem as SDRs? Não será este um luxo
dispensável e que geraria relevante economia aos cofres públicos?
Ainda sobre os excessos com
dinheiro público escasso, vale relembrar o recente episódio no Show de Paul
McCartney, no qual a Secretaria de Turismo do Estado pagou inaceitáveis R$
800.000,00 (oitocentos mil reais) a título de locação de 2 (dois) espaços para
colocação de estandes de divulgação da SANTUR durante o show.
Ao que parece, na administração pública nem
sempre uma reta é o caminho mais curto entre dois pontos. O surrealismo impera
a ponto do mendigo poder comprar carro importado, comer caviar, viajar para o
exterior e ainda emprestar dinheiro aos amigos.
21 de junho de 2012
ANIVERSÁRIO DE CRIANÇA
Atualmente as festas infantis
estão mais complexas e converteram-se em verdadeiros eventos sociais dos pais,
parentes e amigos, contando com uma série de recursos, equipamentos e,
logicamente, os custos relacionados a essas novas necessidades.
Não digo que seja uma
novidade, mas os aniversários possuem temas definidos que agora orientam toda a
decoração, inclusive louças (mesmo descartáveis), enfeites, lembranças e
alimentos.
As mães cuidam dos
filhos durante a festa, mas contam também com o auxílio de recreadores
profissionais, os brinquedos e músicas são politicamente corretos, os
fotógrafos acompanham cada passo das crianças, assim como os garçons acompanham
os copos dos adultos.
Relembro
que na época de minha infância os aniversários também eram comemorados, porém
de modo muito mais amador e familiar.
Nos dias atuais a
palavra-chave é: praticidade, ou seja, é muito mais prático pagar para que
alguém forneça espaço, brinquedos, alimentação e decoração do que providenciar
todos esses itens e depois ainda ter que limpar a sujeira, lavar a louça suja e
desmontar a decoração.
Não tenho dúvida de que
se trata de um caminho sem volta, pois é inegável que as festas profissionais partiram
de uma boa ideia e têm suas virtudes, ainda mais numa época em que grande parte
das famílias passou a viver em apartamentos.
Porém, talvez por mero
romantismo salpicado de nostalgia, eu seja obrigado a confessar que gosto mais
das festas domésticas, pequenas, familiares e íntimas.
Lembro-me da época em
que os encontros promovidos nos aniversários privilegiavam o convívio das vovós
com os netos e destes com alguns poucos coleguinhas de escola, quando também as
tias faziam os salgados e doces, os primos brincavam de esconde-esconde sujando
suas roupas de terra e suor e as meninas ficavam na sala com suas bonecas.
Mesmo durante as festas
havia “bullying”, mas ninguém sabia que era errado ou imoral e sobrevivemos
muito bem a tudo isso. Os pais eram condescendentes e as crianças geralmente se
perdoavam.
E os presentes? Nas
festas de hoje, os presentes são coletados por pessoas treinadas e
estrategicamente posicionadas na entrada, mas antigamente os presentes eram
entregues pelos convidados diretamente para as crianças, que abriam na frente de
todos naquele mesmo momento, o que era sempre uma incerteza de reação,
principalmente se fosse um par de meias ou uma cueca.
A par das diferenças
trazidas pela evolução dos costumes sociais, o que importa mesmo é o calor
humano e a sinceridade de sentimento entre as pessoas que se reúnem para
celebrar o crescimento de seus filhos, parentes e amigos, pouco importando se
numa pequena festa doméstica ou no bufê mais luxuoso da região.
15 de junho de 2012
CECÍLIA MEIRELES
E os teus olhos.
E as tuas mãos.
E a tua boca anda mentindo
Enganada pelos teus sentidos.
Faze silêncio no teu corpo.
E escuta-te.
Há uma verdade silenciosa dentro de ti.
A verdade sem palavras.
Que procuras inutilmente,
Há tanto tempo (...)
(Trecho de "Cântico)
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SENSIBILIDADE
14 de junho de 2012
13 de junho de 2012
O ABSURDO DOS SONHOS
Do ponto de vista
etimológico, a palavra “absurdo” provém do latim absurdus, que indica aquilo que não se quer ou não se pode ouvir,
ou seja, aquilo que não se toleraria sequer ouvir, por ser inacreditável,
irracional ou impossível.
Mas qual o maior reino
do absurdo? Talvez seja realmente o mundo dos sonhos e dos sonhadores, que não
encontra limites, tampouco paralelos na realidade concreta e cotidiana.
Por mais racionais que
sejamos, admitimos em sonho verdades impensáveis, como viver no topo de um
prédio cercado por jacarés urbanos ou bater os braços como asas para levantar
voo, debater política com um tigre e tantas outras possibilidades e histórias que
cada um de nós já vivenciou e pode voltar a vivenciar a cada nova noite de
sono.
O que para muitos pode
soar como mera bobagem que deve ser simplesmente esquecida, foi objeto de
estudo por pesquisadores respeitados e revolucionários como Sigmund Freud e
Carl Gustav Jung.
No mundo das artes plásticas,
as representações muitas vezes simbólicas que são trazidas nos sonhos, assumem
importância de relevo a ponto de terem sido eternizadas por centenas de
artistas em obras de alto valor econômico.
Marc Chagal, por
exemplo, chegou a pintar um pássaro humanoide que comandava o picadeiro de um
circo (O Prestidigitador, 1943).
Pode-se citar ainda
Henri Rosseau, René Magritte, Paul Delvaux e tantos outros, nunca podendo se
esquecida a figura peculiar de Salvador Dali, grande ícone do Surrealismo que
tentou aproximar consciente e subconsciente de modo quase científico em telas
ricas em símbolos recorrentes como muletas, rochas, relógios e nuvens.
Talvez o sonho seja
apenas um meio de exteriorização de desejos reprimidos e impossíveis ou uma
forma turva e embaralhada de funcionamento do cérebro, porém, pode também
representar um modo de comunicação do subconsciente que, por sua vez utiliza um
padrão diferente de linguagem daquele que fomos educados para interpretar.
Alguém duvida?
7 de junho de 2012
CONTRATO DE NAMORO
Foi-se o tempo em que o pressuposto fundamental e inafastável
de uma relação afetiva era a confiança recíproca. Agora existem os
relacionamentos baseados na confiança, mas há também aqueles que são
formalizados justamente a partir de característica oposta, ou seja, a da desconfiança.
Digo isso, porque são inúmeros os casos de pessoas que acreditavam
estar apenas namorando, quando na verdade, mesmo sem saber, já haviam dado um
passo a mais, o da união estável.
Ao contrário do que muita gente pensa, é possível sim existir
união estável mesmo sem a coabitação, ou seja, sem que as pessoas estejam
residindo sob o mesmo teto, o que deixou mais tênue, em alguns casos, a linha
divisória que a separa do simples namoro.
Há quem defenda, inclusive, a figura intermediária do “namoro
qualificado”, para distinguir o namoro sério da união estável.
A partir dessa insegurança jurídica, diversos escritórios de
advocacia passaram a produzir o chamado “contrato de namoro”, no qual as
partes contratantes declaram expressamente que não convivem com o objetivo de
constituir família e que este será o seu posicionamento até que assinem outro
documento desconstituindo o contrato de namoro.
Embora seja um mecanismo formal possível e um elemento de
prova que pode vir a ser utilizado em uma discussão judicial sobre a natureza
do relacionamento, entendo particularmente que não é porque estou denominando
uma maçã de laranja, que ela se tornará uma laranja.
Além disso, poderia até existir um namoro no momento da firmatura
do contrato que, meses ou anos depois converteu-se espontaneamente em união
estável.
Em outras palavras, se for possível provar que uma relação
afetiva é pública, duradoura e com objetivo de constituição de família, não
será o contrato de namoro por si só, que descaracterizará a relação de união
estável.
Por essas e outras, vale mais viver espontaneamente e
enfrentar os possíveis problemas de relacionamento que surgirem, do que
preocupar-se demasiadamente com formalismos que se sobreponham aos sentimentos
ou que elevem a preocupação patrimonial acima das questões humanas.
3 de junho de 2012
1 de junho de 2012
REALIDADE?
Às vezes tenho a impressão de que a realidade é uma certeza inatingível. E se isso for certo, nada mais é.
30 de maio de 2012
O GOSTO DO SUBSOLO
Há algum tempo tive
o prazer de conhecer o Maison Nerudiano
em Santiago do Chile, um restaurante com espaço subterrâneo para declamação de
poesias do Pablo Neruda e shows de Jazz.
Quando estava
naquela ampla sala inferior, lembrei-me claramente que desde menino gostava de
me esconder embaixo da cama, onde ficava por horas a fio, calado, sem precisar
conversar com ninguém.
Ali, sozinho,
debaixo da cama, estava o meu microcosmo infantil, um universo particular, um
submundo próprio criado pela imaginação fantasiosa daquela idade.
Dessa mesma época,
relembro do desejo de ter um espaço no subsolo que fosse só meu, uma espécie de
porão secreto, onde pudesse permanecer alheio a tudo e, ao mesmo tempo,
protegido do mundo exterior.
Essa ideia de
proteção não ocorre por acaso, afinal, existirá lugar mais protegido do que sob
a terra? Os bunkers mais seguros são
construídos no subsolo, inclusive para fins de prevenção a ataques nucleares.
Alguns poderiam
adjetivar essa preferência infernal (subterrânea) como sombria ou melancólica,
porém, o sabor psicológico desse tipo de lembrança vai muito além disso.
O anseio de proximidade
com o subterrâneo é muito mais uma vontade de introspecção, de busca por si
mesmo e de depuração da alma.
Aliás, desde a Idade
Média os Alquimistas proclamavam visita
interiora terrae, retificandoque invenies occultum lapidem, como meio de busca do homem superior (Pedra Filosofal)
e da sociedade aperfeiçoada.
Portanto, símbolos
como a caverna, o porão, o subsolo, Jonas no ventre da baleia e o crânio vazio,
são metáforas do autorrecolhimento que podem funcionar como um lenitivo para a
alma e um meio de recuperação e superação das asperezas e dificuldades do mundo
real.
No subsolo as
imagens se confundem, as pessoas se encontram, as emoções parecem arcaicas, o
silêncio é o único amigo e o gosto final é sempre doce.
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