Basta dar um passeio
despretensioso pelas ruas da cidade ou circular por uma festa com os olhos
atentos, para notar como as pessoas gostam de se enfeitar com colares, correntes,
brincos, aneis, pulseiras, óculos, gargantilhas, piercings, alargadores, implantes e tatuagens.
O uso de adornos corpóreos faz
parte da cultura-mundo, ou seja, trata-se de valor presente desde tempos
imemoriais e nos mais remotos grupos sociais do globo. O que mudam são as
espécies e técnicas de enfeites, mas todo grupamento humano os utiliza.
Na grande aldeia dos homens
pós-modernos, existem enfeites (quase) despropositados, mas há outros que
procuram transmitir uma mensagem expressa como é o caso de algumas tatuagens ou
mesmo implícita, como é o caso das joias de alto valor econômico.
No caso das tatuagens, as
variações são tantas quantas as personalidades existentes sobre a face da
Terra. Vê-se desde frases do tipo “pára-choque de caminhão” até demonstrações
de fé religiosa, protestos de revolta e ódio, juras de amor, idolatria,
comerciais de marcas famosas, nome dos filhos, dos pais ou do namorado, imagens
tribais, eróticas, caveiras, dragões, tigres, seres mitológicos e tudo mais que
a imaginação pode proporcionar.
Por outro lado, em se tratando das
joias de alto valor econômico, além do elemento estético, podem vir a ser
utilizadas como mensagem de poder financeiro e também de pertencimento a
determinado grupo ou classe social.
Essa espécie de mensagem
implícita de diferença social também pode ser vista no ato de aquisição de
bolsas femininas, automóveis, motocicletas de luxo e, claro, roupas.
Há quem não consiga sair de casa
sem estar etiquetado, ou seja, com as logomarcas ou siglas de grifes estampadas
no peito, na bolsa, nos pés e demais partes do corpo. Ao que parece, certas
pessoas sentem-se inferiorizadas ou inseguras se não tiverem marcas que falem
por elas ou as apresentem ao público em geral.
É como se preferissem ficar
ocultos atrás dos escudos das marcas, com medo de rejeição de sua essência
humana ou de permanecer no lugar-comum. Há um desejo narcisista de diferenciar-se,
de superar a massa dos iguais, de receber atenção especial.
Nada contra o uso de grifes ou
marcas que podem também representar a reconhecida qualidade de um produto. Porém,
a dependência psicológica e inconsciente das marcas é que não se mostra
saudável, principalmente em relação às crianças já educadas desde a mais tenra
idade com a supremacia desse tipo de valor.
No livro “Darwin vai às compras”,
o Professor de Psicologia Evolucionista Geoffrey Miller explica detalhadamente
como as técnicas utilizadas pelo marketing seduzem batalhões de consumidores (muitas
vezes iludidos) ávidos por serem socialmente bem aceitos e poderem atrair
parceiros sexuais e amigos através da aquisição de determinados produtos ou
serviços.
Não é por acaso que vemos a
propaganda do desodorante masculino “Axe” que, ao ser utilizado, atrai mulheres
rastejantes que surgem do nada, bem como a mensagem publicitária de que o Ford
Fusion “é o carro para quem já chegou lá”. Trata-se de mecanismo que impulsiona
a roda do consumo.
Contudo, um mínimo de lucidez,
discernimento e consciência é aconselhável para viver de forma saudável em um
ambiente inundado por mensagens publicitárias desde o momento em que acordamos até
o que voltamos a dormir, a fim de se evitar a ideia distorcida de que o consumo
desenfreado é o caminho para a felicidade.
Um comentário:
É aquela velha história do "ser" e do "ter"! Quando eu estava no ensino médio uma professora dizia, o "ter" sairá de moda e o "ser" tomará a ponta! Bom, parece que não é bem assim que caminhamos. Ocorre que existe um desequilíbrio entre esses dois pontos, e os que não procuram "ser" caem na tentação do "ter", as pessoas não são nem melhores e nem piores por terem algo de grife e tal, porém, péssima é a conduta do cidadão que avalia tais sujeitos lhe dando "notas", como se isto definisse o caráter e a índole do sujeito.
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