4 de julho de 2012

NEM SEMPRE O CLIENTE TEM RAZÃO



Em um país no qual vereadores sem qualificação profissional ganham mais de sete mil reais mensais, enquanto professores pós-graduados recebem salários de novecentos e bem poucos reais, não se pode esperar que a educação esteja bem.

Porém, a crônica desta semana não tratará do problema da falta de valorização do professor no ensino público, mas sim do cuidado que deve ser tomado para que o ensino privado não seja desvirtuado.

Apesar de lecionar há mais de uma década em uma instituição de ensino superior que valoriza o professor e lhe concede todos os meios necessários para desenvolver o melhor trabalho possível, tenho observado fatos abomináveis ocorridos em outras academias.

Não há dúvida de que o ensino privado auxiliou valorosamente na democratização do acesso à informação e ao conhecimento, tendo disseminado unidades de ensino em locais que o Estado não conseguia atingir.

É através da educação de qualidade (pública ou privada), que cidadãos transformam suas vidas e melhoram a qualidade da vida de suas comunidades e da sociedade de modo geral.

Todavia, o que nem todos percebem é que a natureza do ensino privado é de um serviço “sui generis” posto à disposição do consumidor. É uma atividade na qual o cliente muitas vezes não tem razão alguma, pelo contrário, falta-lhe determinado conhecimento e, justamente por isso, está pagando para obter instrução que lhe permita acertar mais e melhorar como ser humano e profissional.

Justamente por essa razão, quando se replica indevidamente na relação professor-aluno, a lógica de que “o cliente sempre tem razão”, a conduta do professor fica cerceada e os resultados são desastrosos, tanto na formação do caráter do aluno-cliente, quanto no resultado final de sua formação profissional.

Assim sendo, quando o professor não pode avaliar livremente o aluno, não há verdadeira relação de ensino. Quando o professor é impedido de chamar a atenção do aluno que pratica o plágio nos seus trabalhos, não há verdadeira relação de ensino. Quando o professor não pode interromper um aluno que está colando, não há verdadeira relação de ensino. Quando o aluno sente-se no direito de levantar da sua carteira para agredir o professor é porque ruíram os valores que deveriam orientar a relação de ensino.

Não se pode permitir que o pacto da mediocridade domine a educação formal, ou seja, o professor não pode fingir que ensina enquanto o aluno finge que aprende. Há um relevante papel social a ser cumprido pelo professor, que deve receber autonomia para tal desiderato. Da mesma forma o aluno deve receber com postura ativa o método e o conteúdo propostos para o seu desenvolvimento.

Turmas de acadêmicos não são “fornadas”,tampouco produtos finais de um pacote ofertado ao público em geral, mas sim grupos de pessoas que devem passar por um efetivo processo de aprimoramento humanístico e técnico-científico.

Não existem atalhos fáceis. Somente com educação de verdade será possível descortinar um futuro com maior igualdade, respeito, fraternidade e liberdade para todos.


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