- O Dr. vai me desculpar, mas é
que sou obrigado a fechar a delegacia quando vou ao banheiro, porque não tem
mais ninguém aqui. Trabalho sozinho.
- Como assim? Você não tem uma
secretária ou atendente, nenhum colega de trabalho?
- Que nada, aqui eu mesmo atendo
os cidadãos, registro ocorrências, tomo depoimentos, faço os encaminhamentos e o
que mais for necessário.
- Aliás, o Dr. tá vendo esse
papel que estou usando para imprimir os boletins de ocorrência?
- Sim, por quê?
- Porque eu fui obrigado a
comprar com dinheiro do meu bolso, caso contrário hoje não teria papel para
atender a população. Falando em papel, também tive que comprar papel higiênico,
pois também não tinha mais aqui na Delegacia.
Fecha aspas.
Já faz uma semana que tive essa
conversa e até agora não consegui esquecer. Aqui não há ficção, estamos falando
de uma realidade dura e cotidiana que demonstra o quadro pré-falimentar do
Estado.
Aliás, a dificuldade financeira é
tal que o Estado decretou um plano de corte de gastos com serviços
terceirizados, aluguel de veículos, dentre outras despesas, mas que,
aparentemente, não tem sido suficiente. Não é de hoje que o Estado tem se
mostrado fraco e ineficiente perante as necessidades da população.
Uma ineficiência que se constata
também no sistema penitenciário mal equipado, com falta de pessoal e que não
atende a diversas disposições contidas na Lei de Execução Penal, especialmente
a almejada reeducação do preso.
Uma ineficiência que se evidencia
igualmente na educação, em que os professores precisam periodicamente entrar em
greve para conseguir receber o mínimo necessário à sua subsistência, quase
sempre sem atingir o objetivo.
Mas o que faz alguém que está em
dificuldades financeiras? Quais providências toma aquele que não consegue pagar
corretamente as suas contas e cumprir com os seus compromissos?
A resposta é fácil, deve diminuir
despesas, evitar o luxo, o supérfluo e o desnecessário. Não é preciso consultar
nenhum especialista ou guru para se atingir esta conclusão. Basta o bom senso.
Nesse sentido, cabe questionar: o
Estado precisa manter a estrutura de nada menos do que 36 (trinta e seis)
Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs)? A utilidade das SDRs vai muito
além da fidelização de cabos eleitorais regionais? O Estado não consegue
direcionar recursos e agilizar projetos sem as SDRs? Não será este um luxo
dispensável e que geraria relevante economia aos cofres públicos?
Ainda sobre os excessos com
dinheiro público escasso, vale relembrar o recente episódio no Show de Paul
McCartney, no qual a Secretaria de Turismo do Estado pagou inaceitáveis R$
800.000,00 (oitocentos mil reais) a título de locação de 2 (dois) espaços para
colocação de estandes de divulgação da SANTUR durante o show.
Ao que parece, na administração pública nem
sempre uma reta é o caminho mais curto entre dois pontos. O surrealismo impera
a ponto do mendigo poder comprar carro importado, comer caviar, viajar para o
exterior e ainda emprestar dinheiro aos amigos.
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