22 de dezembro de 2011

ADEUS 2011, BEM-VINDO FIM DO MUNDO

Quem ainda não ouviu falar no grande “evento” de fim do mundo programado para o final de 1999 e, depois, para a virada entre os anos 2000 e 2001? Teve até um grupo inteiro de uma seita que se suicidou (isso que é ansiedade) para não ter que passar pelo sofrimento do fim do mundo.

Lembro-me que, na época, assisti ao vídeo em que uma religiosa aconselhava as pessoas a manter as portas e janelas lacradas, fazer estoque de alimentos, imposição de mãos para magnetizar a água (?) e demais providências para aumentar a sobrevida durante o apocalipse.

Ora, se fosse realmente para acabar o mundo de que adiantaria fazer estoque de alimentos? Melhor seria sentar num barranco na beira de um rio e esperar o show de fogos.

Mas o milênio virou e, para a desgraça de muitos, a vida no planeta continuou. Religiões, seitas, profetas, adivinhos e outros esclarecidos tiveram que fazer mudanças, afinal, previsão de fim do mundo que se preze muda de data!

Sim, porque depois daquele fim do mundo frustrado, a onda agora é outra, muito mais sofisticada. O lance é que estávamos nos baseando no calendário errado, entendeu? Também, como é que poderia se esperar algo do calendário Gregoriano?

Certo mesmo é o calendário dos Maias! Esse é muito mais legal, dividido em duas contagens de ciclos e, para demonstrar o fim do grande ciclo temos que levar em conta a chamada contagem longa. Pois bem, essa tal contagem longa não tem previsão de recomeço. Ora, se não há previsão de novo ciclo, então a única conclusão plausível é que se trata do fim do mundo, certo?

Simples, claro e indiscutível, não?

Assim sendo, nos últimos anos, milhares ou milhões pelo mundo se impressionaram com a chamada “Profecia Maia” que, aliás, de profecia não tem nada. Trata-se de um equívoco hermenêutico que está sendo capitalizado por alguns e comprado por uma multidão de ingênuos assustados. 

Por conta disso, temos que ficar aguentando os meios de comunicação explorando, torcendo e distorcendo o tema à exaustão, para atrair audiência e vender comerciais.

Pessoalmente, não suporto mais esses pseudo documentários do Nat Geo e do History Channel falando da Profecia Maia e das Profecias de Fim do Mundo em geral.

Com tantos temas interessantes de história, vida animal, sociologia, antropologia e arqueologia, esses canais continuam exibindo besteirol de péssima qualidade e procedência.

Não quero dizer que sou um cético para tudo que não seja evidenciado pelos meus cinco sentidos, mas o bom senso recomenda certos limites.

A respeito do fim do mundo, prefiro pensar que muitas pessoas estão acabando individualmente com os seus mundos e suas vidas, ao tomarem decisões erradas ou ao serem vítimas de seus semelhantes. No conjunto, infelizmente, estamos lentamente cometendo a mesma tolice ao não cuidar do planeta, do ambiente que nos cerca e privilegiando o imediatismo, o lucro fácil, alienado e irresponsável.

Porém, o planeta sobreviverá ainda por algum tempo suportando a ganância humana em subtrair-lhe todos os recursos sem piedade. Não seremos nós, caros leitores, que presenciaremos o término da vida na Terra.  

Agora, uma coisa é certa, os Maias nunca imaginaram que tanta gente iria, num futuro distante, interpretar tão pateticamente o seu calendário astronômico.

15 de dezembro de 2011

QUEM É VOCÊ?

No cotidiano são constantes as apresentações nas relações interpessoais, sejam físicas, telefônicas ou virtuais por e-mail, blog, twitter, facebook e outras ferramentas de relacionamento.

Nesses momentos, particularmente, não gosto de apresentações rotuladoras, que são as mais comuns. Tenho esse direito. Não gosto de rotular os outros e, por isso, não gosto de ser rotulado.

Nunca vou me esquecer da apresentação pessoal que, estarrecido, fui obrigado a presenciar. Sem mentiras ou exageros, ouvi as seguintes palavras: “- Muito prazer, meu nome é Fulano de Tal, sou advogado, tenho uma imobiliária e um Audi A6”.

Como assim? Quem perguntou o que você tem, cara pálida? Então você é o que você tem? Por si mesmo não é nada? Com uma apresentação dessas, fica a impressão de se estar conhecendo um patrimônio e não uma pessoa.

Com essa falta de tolerância já surpreendi telefonistas de empresas naquele diálogo inicial de apresentação:

- FSJ Equipamentos, bom dia!

- Alô, eu gostaria de falar com o Sr. Marcos.

- Quem fala?

- É o Darwinn.

- Darwinn de onde?

- Da minha casa.

- O Sr. é de qual empresa?

- Não moça, eu sou o Darwinn e quero falar com o Sr. Marcos, podes passar a ligação por favor?

- Certo Sr., um minuto…

Ora, quer dizer agora que tenho que ser “de alguém”? Meu nome já não é mais suficiente para me apresentar? Quantos “Darwinns” será que eles atendem por dia, mês ou ano?

Na internet a apresentação passa, necessariamente pelo conceito de perfil e, geralmente decorre de uma resposta à seguinte questão: “Quem sou eu?”

No momento de responder a essa pergunta, pouca gente pára e reflete sobre a profundidade da questão que está por trás da descrição do seu perfil pessoal. As respostas mais comuns são algo como o perfil do narcisista: “Sou divertido, loiro, alto, gosto de malhar e de conhecer pessoas novas.”

Há também aquela apresentação de estilo Poliana: “Sou extrovertida, simpática, gosto do meu trabalho e dos meus amigos”. Ao intitular-se “simpática” já perdeu, pelo menos, três pontos.

E o que dizer dos perfis curriculares encaixotados: “Sou matemático, fiz pós em trigonometria na UNESP, gosto de jogar xadrez e da série The Big Bang Theory”.

Mas pense um pouco no título dessa crônica: “Quem é você?” Será que consegue responder com certeza ao se abstrair de seus papeis sociais?

Será que somos a nossa profissão ou classe social? Será que somos a cor dos nossos olhos ou do nosso cabelo? Será que somos o sorriso solto ou a cara amarrada?

Particularmente prefiro o caminho inverso, o da exclusão, ou seja, o de responder aquilo que sei que não sou. Talvez por exclusão se atinja um resultado mais exato. Por exemplo: eu sei que não sou a minha profissão, sei que não sou a cor dos meus olhos ou cabelos, tampouco meu humor ou classe social.

Fisicamente, por telefone ou via internet continuaremos diariamente a nos apresentar, dizendo uns aos outros o que achamos que somos, uns despreocupados, outros, torcendo para serem bem aceitos, uns querendo se vender para o mundo, outros desejando doar-se, uns querendo entrar e outros, sair.

8 de dezembro de 2011

E ENTÃO É NATAL!





















Podem me chamar de mal humorado, mas a verdade é que não sei lidar bem com esse Natal embrulhado, empacotado e empurrado goela abaixo que se vive nos dias atuais.

Há trinta e quatro anos que sou atormentado pelas mesmas músicas, mesmos programas de televisão, mesmas frases prontas nos cartões de Natal, enfim, uma nauseante repetição em favor de uma tradição religiosa que há muito se converteu em objeto de puro comércio.

Concordo com a resposta do poeta Drummond quando perguntado sobre o que pediria ao Papai Noel se o encontrasse: “Pediria a ele que parasse de encher o meu saco!”

O leitor pode até achar que estou exagerando, mas quando entro em um Shopping Center e escuto aquelas músicas natalinas “inéditas”, chego a sentir calafrios.

Ora, convenhamos que as crianças sentem-se eufóricas com o Natal não porque tal data representa, simbolicamente, o nascimento de Jesus de Nazaré. A verdade é que as crianças querem ganhar os presentes que o velhinho pop star do capital tem a obrigação de lhes dar. Leram bem: “obrigação”.

Pergunte a uma criança o que significa o Natal e ela provavelmente responderá: “Papai Noel e brinquedo.” A culpa, obviamente, não é da criança, mas sim dos adultos que acham linda essa ideia inteligente de reduzir e converter uma tradição prenhe de significados a uma troca de bens materiais.

Sejamos sinceros, pouca gente se lembra do motivo da festividade. Os presépios, por exemplo, deveriam sinalizar a simplicidade e a humildade do ambiente em que nasceu o grande ícone do Cristianismo. Porém, devido a pirotecnia comercial do luxo hipermoderno quase não se veem presépios nas comemorações natalinas. O que mais se vê mesmo é a figura do Papai Noel com o seu saco abarrotado de presentes.

De certa forma é até bom que a imagem do presépio não esteja tão presente nas vitrines, pois não duvidaria ver os manequins das personagens vestindo roupas de grife internacional, relógios dourados nos pulsos, um berço de dez mil reais e outros adereços escandalosamente etiquetados.

Pecado? Bom, pecado hoje é não gastar bastante dinheiro com presentes no Natal! Quem tem dinheiro ou crédito (porque não é mais necessário ter dinheiro), mas se recusa a colaborar com o giro da grande roda, pratica tamanha atrocidade que certamente irá para o mais profundo dos infernos, sem escalas, tampouco direito de defesa.

E então é Natal, festa de luz, reunião de familiares que muitas vezes falam mal uns dos outros pelas costas, mas que na noite de véspera cumprimentam-se simpaticamente, forçam sorrisos e aguentam (quando aguentam) algumas horas de convivência sob o mesmo teto. Encerrada a comemoração, inicia-se mais um ano de maledicência, rancor e mágoas.

E então é Natal, o empregado ambicioso que pisa na cabeça dos colegas, o político corrupto, o cidadão corruptor, o chefe impiedoso com os subordinados e outras figuras tão humanas têm o intervalo de algumas horas para sentirem-se comovidos. A consciência não chega a doer, mas faz leves cócegas a ponto de convencer os menos resistentes a fazer uma boa ação em favor dos miseráveis e desafortunados.

E então é Natal, pinheiros com neve de algodão, alto índice de suicídios, picos de depressão, crediário, inadimplência em janeiro e fevereiro, cartões de crédito, promoções, comércio, comércio e mais comércio.

E então é Natal, tomara que os dias passem rapidamente. Sempre que se inicia o mês de Dezembro, espero ansiosamente pelo dia vinte e seis.

DARWINISMO

7 de dezembro de 2011

PROCON DE SÃO PAULO MULTA REDE MC DONALD´S EM MAIS DE R$ 3 MILHÕES

A Fundação Procon de São Paulo multou a rede lanchonetes McDonald’s em R$ 3,192 milhões pela prática de venda de alimentos com brinquedos, no conjunto conhecido com McLanche Feliz. A multa partiu de denúncia do Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, organização não governamental (ONG) que trata de consumo infantil.

A denúncia foi feita em 2010. A ONG argumenta que a associação entre a venda de alimentos e brinquedos “cria uma lógica de consumo prejudicial e incentiva a formação de valores distorcidos, bem como a formação de hábitos alimentares prejudiciais à saúde”.

A estratégia da rede de fast food é juntar ao lanche um brinde com personagens conhecidos pelo público infantil. De acordo com o Procon, desde a denúncia, em 2010, mais de 18 campanhas dirigidas a crianças foram feitas pelo McDonald’s. Na atual, os brindes são personagens do filme O Gato de Botas.

A rede MC Donald´s pode recorrer da multa.


1 de dezembro de 2011

QUEM É NORMAL?

Lá nos idos de 1896, Machado de Assis escreveu uma crônica tratando da paciência que tinha para ouvir o que as pessoas queriam lhe contar. Ele dava valor ao ato de ouvir o interlocutor. Eram notícias e discursos inflamados, vindos de pessoas que arregalavam os olhos durante a conversa, apertavam-lhe o braço ou puxavam-no pela gola da camisa. 

Contou também que havia perdido o sentimento de segurança desde a noticiada fuga no “Hospício de Alienados”. A partir disso, uma dúvida passou assaltar-lhe o sossego. Como poderia dali para frente ter ele a segurança de que o seu interlocutor não era um dos loucos fugitivos do hospício? Quem lhe asseguraria a normalidade mental do interlocutor? Qual o método para distinguir o louco do normal?

Voltando ao tempo presente, posso dizer que a inquietação Machadiana prossegue. Quem é normal? Eu mesmo não tenho certeza se atinjo o padrão de normalidade almejado pela sociedade. Talvez nem seja esta a minha vontade.

Sim, pois a sociedade transmite e impõe o padrão de conduta a ser seguida pelo cidadão dito “normal”. Nesse padrão constam as aspirações corretas, as profissões a serem seguidas, o que cabe ser feito em cada idade, a forma de se vestir, de crer, de falar e de se portar.

Portanto, se você já atingiu os seus 20 e poucos anos prepare-se: é o momento de estabelecer um relacionamento monogâmico estável e pensar no casamento heterossexual. Esse é o normal. Quem não se casa é delicadamente etiquetado de “solteirão”, “solteirona” ou “encalhado”. Quem estabelece relacionamento homossexual, por sua vez, ainda é vítima de discriminação e comentários pejorativos de toda a espécie.

Mas não basta casar, você deve sim fazer uma festa e chamar muitos convidados, mesmo que estes depois saiam falando mal do jantar, da música ou das roupas. Essa festa é, sobretudo, um débito social, uma prestação de contas que merece fotos em colunas sociais, enfim, uma confirmação de que você aderiu ao padrão social daquilo que se entende por normalidade.

Quem se casa precisa comprar uma casa. Se você optar por alugar um imóvel ficará sendo obrigado a repetidamente ouvir a mesma pergunta: – “Afinal, Fulano, quando é que você irá comprar a sua casa”?

Depois de se casar, não se esqueça de que você precisa ter filhos. Não ter filhos é sinônimo de infelicidade e também uma desonra à sociedade e aos avós. Estão absolvidos dessa acusação de desonra aqueles que tentam, mas não conseguem procriar por limitações naturais.

Você deve também comprar um carro, preferencialmente novo, mesmo que seja financiado em muitas parcelas mensais ou que a dificuldade de pagar custe-lhe noites de sono.

Para ser bem visto você deve trabalhar muito. Na verdade precisa trabalhar mais do que o seu corpo e a sua mente aguentam, afinal você se casou, assumiu compromissos, deve sustentar a estrutura do lar, as despesas geradas pelos filhos, os custos de manutenção da casa, do carro, dos empregados, etc. Além disso, deverá ter dinheiro para satisfazer os desejos de consumo que a televisão empurra diariamente para dentro da sua casa, sob pena de estar impedido de acessar a felicidade pós-moderna.

Mas fique tranqüilo! Se você não conseguir pagar as suas contas, poderá então fazer empréstimos, utilizar o bondoso limite do cartão de crédito ou o do cheque especial, mas deve fazer o dinheiro girar no mercado, esta é a sua contribuição mais importante como cidadão normal.

Com tudo isso, caso você comece a sentir tremores, embaraço mental, tristeza, frustração, taquicardia, suor, desespero e outros sintomas de insanidade, procure um médico e tome ansiolíticos, antidepressivos, calmantes e outros dispositivos de manutenção e sedação mental. Isso faz parte e é socialmente bem aceito, pois você está demonstrando que se esforça para ser “normal”.

Por essas razões, assim como Machado de Assis, eu também não me espanto quando me procuram com olhos arregalados para conversar, quando lágrimas e suor escorrem aparentemente do nada, quando sussurram e gritam alternadamente ou quando demonstram medo e agonia em suas falas. São apenas cidadãos socialmente desejáveis que pretendem continuar sendo normais.

30 de novembro de 2011

CRIATÓRIO CENTRAL DE MOSQUITOS (JARAGUÁ DO SUL)
















Entre a ciclovia e a linha férra, em localização central de Jaraguá do Sul, há anos que se constata acúmulo de água sem escoamento ou drenagem. Não adianta somente as pessoas evitarem a água parada em suas residências se o poder público não faz a lição de casa.

A fotografia eu vi lá no http://www.poracaso.com/

26 de novembro de 2011

LÉO E BIA (OSWALDO MONTENEGRO)

PREGUIÇA E NEPOTISMO (POR PATRÍCIA MORAES)

De um lado bateu a preguiça em alguns parlamentares da Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul. Se aprovassem a abertura de uma Comissão Processante contra a Prefeita Cecília  Konell (PSD), o grupo teria 90 dias para concluir os trabalhos, incluindo a oitiva de testemunhas, a finalização e votação do relatório final. O que significa dizer que as férias ficariam comprometidas. De outro, o recado que fica é que sete vereadores, de um total de 11, são a favor da contratação de parentes para administração pública. Podem até discursar em sentido oposto, mas na noite de quinta-feira revelaram a sua verdadeira face. Lorival Demathê (PSD), Afonso Piazera (PR), Ademar Possamai (DEM), Amarildo Sarti (PV) e José Osório de Ávila (PSD) disseram não à investigação e sim ao nepotismo. Já Ademar Winter (PSDB), por deliberação do partido, teve que ser mais discreto e se absteve. E a surpresa ficou mesmo com Jean Leutprecht(PC do B), que covardemente não apareceu para a sessão. Ao lado da Lei Orgânica do Município  ficaram apenas Natália Petry (PMDB), e os petistas Justino da Luz e Francisco Alves. O presidente, Jaime Negherbon (PMDB) só votaria em caso  de empate, mas antes mesmo do resultado garantiu que se pudesse votar aprovaria a Comissão Processante. Ronaldo Raulino (PDT) até pode ter se promovido com o pedido, mas acabou ajudando a derrubar algumas máscaras.
(Texto publicado no Jornal O Correio do Povo de 26/27 de novembro de 2011).

OPINIÃO:

A jornalista merece elogio pela integridade e isenção do texto. Boa parte dos vereadores não representa, como deveria, os interesses da população jaraguaense. Alguns preferem fechar os olhos, fingir que não enxergam as ilegalidades e desmandos, enfim receber o salário de vereador, mas não cumprir com os deveres (de participação ativa e fiscalização) que assumiram perante o eleitorado.

Vou sugerir a quem puder, que  não reeleja nenhum vereador nas próximas eleições. A renovação das cadeiras será a melhor mensagem de insatisfação que poderemos transmitir àqueles que pretendem ocupar essa função pública.

24 de novembro de 2011

CAPITAL X LIBERDADE

Nós somos realmente muito inteligentes. Recebemos um planeta inteiro de possibilidades e recursos gratuitos. Através do uso da razão conseguimos convertê-lo em uma mercadoria cara, de acesso restrito.

Fundamentados em nossa superioridade na escala evolutiva, bem como em passagens de textos sacralizados, supostamente escritos ou inspirados por Deus, conseguimos, em pouco tempo, precificar os recursos naturais e dizimá-los dentro de nosso insano sistema de trocas que consegue enxergar apenas o presente.

À guisa de exemplo, o pequeno trecho bíblico a seguir transcrito, serviu de pretexto para aplacar o peso na consciência daqueles que durante tanto tempo exploraram e exauriram os recursos naturais (afinal, estavam apenas cumprindo o mandamento celestial):

 Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra”. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou: “Frutificai disse ele, e multiplicai-vos, enchei a Terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a Terra”.
(Gênesis – Capítulo 1, versículos 26-28).

Segundo a UNESCO, atualmente, cerca de um terço dos sete bilhões de habitantes do planeta vive em miséria absoluta e passa fome. Ultrapassamos em aproximadamente vinte por cento a capacidade de regeneração dos recursos do planeta e a espécie humana está conseguindo, graças à sua soberania frente aos demais seres, eliminar paulatinamente todos aqueles que não lhe são úteis.

Sim, o utilitarismo social foi pervertido pelo capital e levado às últimas consequências. Somente os seres vivos que têm utilidade são mantidos dentro de um padrão de segurança para a sua existência. Aqueles que não servem como alimento, entretenimento, luxo, remédio, combustível ou que não sejam facilmente reproduzíveis, estão condenados ao desaparecimento. 

Esse utilitarismo também se aplica aos próprios seres humanos. Só é valorizado aquele que pode colaborar ativamente com o giro da grande roda mágica do capital. Idosos, analfabetos, deficientes ou mesmo aqueles que não se enquadram na lógica imposta, são vistos algumas vezes como fardos para a sociedade, verdadeiros marginais no sentido de se situarem à margem do sistema. 

Nosso avançado sistema de trocas comerciais, esse mesmo que transformou o nosso planeta em um produto, foi também capaz produzir tamanha alteração no ambiente que a liberdade por si só, perdeu muito do seu sentido.

Atualmente a liberdade só faz sentido para quem dispõe de dinheiro para utilizá-la. Sem dinheiro não há sequer como satisfazer as necessidades básicas de sobrevivência, o que se dirá de usar dignamente da liberdade de locomoção e de opinião.

Somos fundamentalmente livres segundo o texto de nossa Constituição Federal, mas livres para que? Livres para funcionar como peças uniformes, inconscientes e alienadas? Engrenagens de carne movidas por desejos pueris e necessidades criadas pelo marketing

O brasileiro, por exemplo, que trabalha um mês inteiro e leva um salário mínimo para a sua família é considerado livre. Porém, como exercerá a sua liberdade? O que poderá ele fazer durante o seu exíguo tempo de lazer?

O capitalismo é realmente um sistema engenhoso que conseguiu transformar o antigo escravo em uma peça facilmente substituível ainda mais barata e que não pode sequer reclamar da falta de liberdade. Se quiser ir embora, que vá. Fuja do sistema, se puder...

17 de novembro de 2011

TERAPIA CULINÁRIA

É noite de quarta-feira, o sol já se pôs e mais um dia movido a cortisol e adrenalina vai chegando ao final.

Enquanto o oriental senta paralisado e concentra-se para esvaziar a mente, eu medito cortando cebola, alho, tomate, pimentão, cheiro verde e temperando postas de peixe.

Panela de barro sobre a pia, lentamente coloco uma camada de peixe, sal, uma camada de temperos, sal, nova camada de peixe e outra de temperos, até chegar pouco antes da borda.

O processo corporal é de semiconsciência. Não penso no que estou fazendo para não errar. A consciência traz o erro e afasta a sensibilidade das quantidades e medidas de ingredientes.

Sobre os ingredientes derramo leite de côco, azeite de dendê, pimenta do reino e um pouco de Curry.

Nesse estágio os problemas cotidianos já parecem mais distantes, a mente começa a descansar, o coração bate mais lento e a respiração diminui seu ritmo.

Hora de ligar o fogo e, enquanto o calor penetra nos ingredientes, arrumo detalhadamente a mesa para o jantar. Não perco de foco que o mais importante é o ritual, o caminho, a viagem para chegar no destino gastronômico e não este em si.

No momento em que a mesa está pronta, o aroma de moqueca já perfuma a casa e instiga o apetite. A alquimia culinária está em pleno vapor. O que era peixe agora é cebola, o que era cebola agora é pimentão e o que era pimentão agora é alho.

Hora de apagar o fogo e deixar descansar a moqueca e o corpo, ambos mudados de formas diferentes, através dos vários ingredientes que os formam.

Resta ainda a refeição em si, que deve ser lenta, acompanhada de boa conversa, farinha de mandioca e música para a alma.

Com o término do jantar conclui-se a sessão da terapia culinária. Depois da sessão, nada de televisão ou internet. Hora de ler um pouco, sublinhar textos interessantes a meia luz, refletir sobre novas ideias e aguardar o irresistível aumento de peso das pálpebras.

11 de novembro de 2011

SOBRE AS CRIANÇAS

Sim, julgo às vezes, considerando a diferença hedionda entre a inteligência das crianças e a estupidez dos adultos, que somos acompanhados na infância por um espírito da guarda, que nos empresta a própria inteligência astral, e que depois, talvez com pena, mas por uma lei mais alta, nos abandona, como as mães animais às crias crescidas...

Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa).

COMPREI ONTEM NO SUPERMERCADO - IMAGEM É TUDO!























A fome bate, você compra o produto no supermercado, chega em casa, aquece, abre e vem aquela SURPRESA!

7 de novembro de 2011

QUER SENTIR DESESPERO?
















Então aprecie esta amostra da desgraçada política brasileira.

Obs. vi lá no www.poracaso.com

PROPAGANDA DE CHOCOLATE OU DE LSD?

3 de novembro de 2011

CONTANDO UMA NOVIDADE

Em recente viagem, tive uma conversa com um guia de uma cidade no interior de Alagoas. Estávamos olhando um grupo de macacos próximos de nós, quando o guia do passeio iniciou o seguinte diálogo:

- Acho que o macaco gostou do senhor!

- Vai ver é pelo meu nome.

- Que nome?

- Darwinn, oras...

- E o que é que tem?

- Darwin foi o cientista que sistematizou a Teoria da Evolução das Espécies.

- E o que diz essa teoria?

- Ora, você nunca ouviu falar? Fala que o homem evoluiu do macaco.

Então com olhos esbugalhados, boca aberta e uma cara de quem havia visto o demônio na frente, o guia disse:

- Não pode!

- Por que não?

- Porque na Bíblia está escrito que no princípio era o Verbo.

- Sim, você se refere ao Evangelho de João.

- Sim, é mais confiável. Com todo respeito ao seu nome, nesse tal de Darwin não dá pra confiar, não. Nem conheço o cara!

E ali terminou o quase-debate entre dois grandes teóricos do Evolucionismo e do Criacionismo.

3ª FEIRA DE ANIMAIS PARA ADOÇÃO EM JARAGUÁ DO SUL (SC)

3ª FEIRA DE ADOÇÃO DE ANIMAIS
"Adote com consciência "
Dia 05/11/2011 (sábado legal)
Horário: 09h às 11h30
Local: Praça Ângelo Piazera, fundos do Museu Municipal
Em caso de chuva: Cancelado!

PALESTRAS MOTIVACIONAIS

Há tempos que as empresas contratam desportistas, artistas, navegadores e celebridades em geral para, volta e meia, proferirem palestras motivacionais aos seus empregados, principalmente da área de vendas.

O objetivo desse investimento é que tais ícones sociais falem de suas histórias de (relativo) sucesso e revigorem o estado de ânimo dos empregados, com vistas a incrementar o desempenho de determinados setores da empresa ou desta como um todo. 

Assim sendo, geralmente no momento final da convenção empresarial, surge o navegador falando aos empregados do escritório que a vontade em vencer desafios é que o tornou bem sucedido; pode aparecer também a profissional do basquete falando que a virtude da persistência em atingir as metas do seu time é que lhe conduziu ao sonho olímpico; e até a ilustre ex-anônima sorteada (ou indicada por seus dotes físicos) para participar do BBB ganha dinheiro para falar da importância de serem traçadas estratégias vencedoras para faturar o grande prêmio da vida real.

Porém, antes de os empregados estarem motivados para cumprir as metas propostas, penso que eles, precisam ser vistos como seres humanos e, a partir disso, incentivados a buscar razões para viver e viver bem. 

Para isso é necessário primeiro procurar respostas para aquelas questões Titânicas: você tem fome de que? Você tem sede de que?

Por muito tempo, a religião cumpriu com esse papel. As hordas de fieis acreditavam piamente nas promessas de vida eterna no paraíso, o que aplacava sofrimentos, anestesiava os ânimos e justificava as desigualdades da vida na Terra (repetia-se que era mais fácil um camelo passar por um buraco de agulha do que um rico entrar no reino dos céus).

Entretanto, depois da emblemática morte de Deus anunciada por Nietzshe, esse estado de coisas (e principalmente de ideias), tem passado por profundas mudanças. A sociedade vem depositando e concentrando as suas esperanças no indivíduo corpóreo e material. Aos poucos, o senso de unidade (comum unidade – comunidade) foi sendo também dissipado e transferido para a figura do indivíduo, único responsável por sucessos ou fracassos.

Nesse cenário é que o indivíduo passa a se perguntar: trabalhar com afinco, objetivar a perfeição, cumprir metas extenuantes, para que? O que o espera na velhice ou na morte? Vale a pena o risco do fracasso? Será ele mais um a engordar as grossas fileiras de excluídos do padrão de sucesso? E sucesso até quando? Existe permanência no atual cenário líquido e mutante?

Na realidade, a palavra-chave da motivação sempre será “acreditar”. O ser humano, para sentir-se motivado precisa, antes de tudo, acreditar em algo, em uma ideia, em uma proposta ou ideologia. É justamente por essa razão que as religiões funcionaram eficazmente durante muito tempo e, em alguma medida, ainda funcionam. 

Essa aspiração essencialmente humana de crer, de procurar uma causa para viver foi bem ilustrada pela Legião Urbana na canção Índios:

Quem me dera ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.

É por isso que acho engraçadas essas palestras motivacionais proferidas por ex-participantes de reality shows e outros magos do sucesso instantâneo. Na verdade, reputo-as como investimentos de retorno duvidoso.

Como disse acima, o ser humano precisa de uma verdade para acreditar, de uma convicção para defender, de um ideal para cultivar. É daí que surge a verdadeira motivação.

Não é por acaso que José Ingenieros iniciou o seu clássico O Homem Medíocre, com as seguintes palavras: “Quando você dirige a proa visionária para uma estrela e estende a asa para tal excelsitude inalcançável, no afã da perfeição e rebelado contra a mediocridade, leva com você a mola de um ideal.”

O que vale, portanto, é identificar a mola propulsora do homem (a verdade a ser acreditada) em direção ao melhor, ao perfeito e às virtudes desejadas, o que não se consegue com palestras de fim de convenção, e sim, através de um trabalho contínuo de aproximação e relacionamento com as pessoas, apresentação de objetivos claros, justos e coerentes da organização, bem como com a demonstração de que através da consecução de tais objetivos será possível a satisfação, ao menos em parte, das aspirações pessoais de quem estiver envolvido.

1 de novembro de 2011

VIVER COM CONSCIÊNCIA



Com um excelente poder de síntese, falando apenas o necessário e suficiente, o entrevistado disse tudo e disse muito bem.

Obs. Vi este vídeo lá no www.bacafa.blogspot.com

27 de outubro de 2011

EPITÁFIOS

Na última sexta-feira, ao caminhar pelos meandros de um cemitério (do grego koimeterion, lugar para dormir) notei como os epitáfios são repetitivos. Há o lugar comum do “descanse em paz” (rest in peace) ou ainda, a simplicidade do “aqui jaz João da Silva, marido bondoso e pai exemplar.” Parece que a criatividade morreu junto com os corpos que lá estão.

Particularmente deixo claro que não quero nenhum epitáfio. Aliás, não quero nem mesmo uma sepultura. Desejo que os restos se desfaçam, que voltem ao pó de onde vieram, que deem continuidade ao eterno ciclo. Quem sabe amanhã ou depois, meus átomos estarão nos pêlos de um macaco, em uma pétala de flor ou no rugoso tronco de uma árvore. Já dizia Lavoisier, que nada se faz, nada se cria, tudo se transforma.

Falando em criatividade, cabe perguntar para que serve uma sepultura além do interesse sanitário? É ela a morada do morto? Claro que não. A sepultura não existe para o falecido. Existe apenas para os vivos que sentem saudade e precisam encontrar um local material de encontro com aquele que se foi. Quem visita um túmulo, pensa por vezes que está visitando o morto, como se lá fosse, efetivamente, a sua eterna morada.

No entanto, para aqueles que estão vivos e desejam pompa em sua última morada, recomendo melhor conteúdo nos epitáfios.

Quem sabe um exemplo de sinceridade por parte da família de um cafajeste, que poderia ser mais ou menos assim vazado:

Querido Jorge,
Falta não farás,
Abrace bem forte,
Seu amigo Satanás!

Sim, porque ninguém se converte em boa pessoa pelo simples fato de morrer. Quem foi perverso, desonesto e ególatra durante toda a vida, não se tornará anjo porque feneceu.

Para uma pessoa pouco reconhecida em vida por seu devotamento, o epitáfio poderia ser uma mensagem tal como a deixada por Fernando Pessoa em Eros Universo:

Amei-te por te amar
Só a ti eu não via...
Eras o céu e o mar,
Eras a noite e o dia...
Só quando te perdi
É que eu te conheci...

Quem prefere deixar como epitáfio um lamento pela brevidade da vida, pode espelhar-se na estética das linhas desenhadas por Mário Quintana:

Eu estava dormindo e me acordaram
E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco...
E quando eu começava a compreendê-lo
Um pouco,
Já eram horas de dormir de novo!

Já imaginou se em cada sepultura no cemitério houvesse uma mensagem diferente sobre a vida, sobre a humanidade ou sobre as relações humanas? O cemitério poderia ser mais do que apenas um dormitório dos mortos ou um depósito de corpos. Poderia ser um grande livro aberto no tempo, um centro cultural de reflexão humanística, uma forma de aprender o que realmente vale a pena fazer ou viver antes do fim.

20 de outubro de 2011

NÃO COMPRE ANIMAIS, ADOTE!





















Entre em contato: www.ajapra.org.br

CONFIANÇA

Do latim confidentia, confiar significa dar fé, acreditar, crer em algo ou em alguém. É, portanto, um sentimento íntimo que pode ser conquistado através da experiência ou transmitido por vínculos familiares, de educação ou de tradição.

Todavia, diante da realidade mutante, líquida, urgente e descartável que nos cerca, aquilo que vale hoje, parece não fazer sentido no dia seguinte. Palavra de honra, juramento e promessa soam antiquados diante de uma massa treinada para buscar a vantagem apesar de tudo e de todos.

Nem as instituições mais tradicionais escapam, pois em última análise também são feitas dessa mesma geração que se esconde atrás do nome de empresas e de cargos públicos, para praticar o que jamais teria coragem de fazer em nome próprio.

Pare por um minuto e pense: você confia que o Estado está cumprindo a missão de amparar as pessoas, assegurando-lhe o direito a vida digna, saúde e segurança? Você confia que os candidatos a cargos públicos desejam, em primeiro lugar, a construção de um mundo melhor? Você confia que as igrejas sejam formadas por pessoas interessadas apenas em religar (religare, religião) o homem a Deus? Você confia na isenção de opinião da grande imprensa? Você confia nas boas intenções das corporações transnacionais do ramo farmacêutico? Você confia que o livre mercado é o modo adequado e suficiente para um mundo melhor? Você confia que o alimento industrializado disponibilizado ao consumo é o melhor e mais seguro? Você confia?

A maioria, e perceba que é ela quem manda em um regime democrático, não pára sequer para refletir se confia ou não, se é verdade ou mentira, apenas segue bovinamente pelo pasto que lhe é destinado.

William Shakespeare (ou aquele que escrevia seus textos), profetizou com a costumeira genialidade atemporal em Rei Lear: “eis o tempo da praga, em que os loucos guiam os cegos.”

Isso me faz lembrar também da Síndrome de Anton, na qual o paciente, vítima de cegueira cortical, nega estar cego. O paciente tem a convicção de que consegue ver, porque presencia uma série de alucinações que o fazem ter a impressão de estar diante de um mundo que, na realidade, não existe.

Infelizmente essa é a constatação do tempo presente. Vivemos em meio a uma legião gigantesca de cegos que confiam naquilo que veem e nas palavras que lhes são ditas pelo Estado, pela Igreja, pela grande mídia e pelas corporações transnacionais, as quais estabelecem, com fundamento no melhor modo de auferir lucro, o modus vivendi da humanidade.

Ah, se todo mundo duvidasse! Se os planos de governos fossem analisados, questionados e fiscalizados pelos eleitores, se as notícias veiculadas pela grande mídia fossem recebidas de forma crítica, se os corruptores e corruptos fossem penalizados à altura do mal que causam à sociedade, se o Estado tomasse as rédeas do mercado para restringir os ganhos do capital especulativo e ficto, se houvesse fiscalização e punição das grandes corporações que agem como sociopatas sem rosto, destruindo recursos naturais, escravizando pessoas e eliminando os pequenos concorrentes.

E você, caro leitor, não precisa confiar em nada do que está lendo. Afinal, é mais saudável questionar, duvidar e refletir, do que receber passivamente verdades prontas e acabadas.

18 de outubro de 2011

DEMOCRACIA EM FRANGALHOS

É interessante notar a polícia norte-americana fazendo mais de 800 (oitocentas) detenções de manifestantes pacíficos em Wall Street. Quando o povo se levanta contra a opressão  do capital, o Estado manipulado pelas grandes corporações e bancos, revê a garantia constitucional da Liberdade de Pensamento, os Direitos Humanos e a própria noção de Democracia.

Logo ele, grande Estado Norte-Americano, autoproclamado "defensor" internacional da liberdade, que se arroga no direito de intervir na soberania de outros países, parece agora pretender cercear a liberdade do seu próprio povo insatisfeito.

Uma democracia se mede, também, pelo respeito a opiniões divergentes e à liberdade de manifestação do povo, justamente em momentos de crise.

APESAR DAS PEDRAS


Apesar das pedras, flores,
Apesar do frio, flores,
Apesar da morte, flores.

Flores, apesar de mim.
Flores, apesar do fim.

14 de outubro de 2011

MINISTÉRIO PÚBLICO DE SC CRIA GRUPO DE DEFESA DO DIREITO DOS ANIMAIS

O Grupo de Atuação Especial em Defesa dos Direitos Animais (GEDDA) contribuirá com suporte técnico e jurídico à atuação das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e também trabalhará junto às entidades que atuam no setor, ajudando na definição e no planejamento de estratégias ligadas ao tema. O objetivo da criação do grupo é intensificar as ações em defesa dos animais domésticos, silvestres, exóticos e da própria saúde pública.

O GEDDA pretende também estimular o desenvolvimento de um trabalho de educação ambiental que conscientize e oriente não só a população, mas autoridades em geral sobre o direito dos animais em âmbito administrativo, civil e criminal, atuando no aperfeiçoamento, estímulo e garantia de execução das políticas públicas voltadas ao direito dos animais.

A instituição do GEDDA será ainda um instrumento importante para o combate ao tráfico e ao comércio ilegal de espécies da fauna de Santa Catarina, muitas delas ameaçadas de extinção, contribuindo para a preservação da riqueza biológica e natural do Estado.

O GEDDA será presidido pelo Coordenador do Centro de Apoio Operacional do Maio Ambiente do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). Ele será composto por cinco membros do Ministério Público e contará com a participação de até cinco entidades públicas e privadas que tenham como objetivo a proteção ao meio ambiente e aos animais, designados pelo Procurador-Geral de Justiça.

POEMA SEM TÍTULO (FERNANDO PESSOA)

Quando era criança,
Viví, sem saber,
Só para hoje ter
Aquela lembrança.

É hoje que sinto
Aquilo que fui.

Minha vida flui,
Feita do que minto.

Mas nessa prisão
Livro único, leio
O sorriso alheio
De que fui então.

13 de outubro de 2011

EPITALÂMIO

Essa estranha palavra de raro uso nos dias atuais, deriva do latim epithalamium e designa um poema ou canto nupcial. Há muito que os epitalâmios deixaram de ser feitos, talvez porque o amor declarado seja atualmente considerado pela maioria, como uma cafonice.

Porém, como se aproxima a data em que formalizarei uma relação que já dura felizes dez anos, ouso dizer algumas palavras a respeito do sentimento de amor que une duas pessoas com visões diferentes e ideias diferentes.

Rubem Alves foi muito feliz ao utilizar a metáfora da gaiola para tratar do casamento. Dizia ele que quando vemos um pássaro muito bonito que nos encanta, temos o desejo de engaiolá-lo, imaginando que dessa forma conseguiremos que ele jamais fuja da nossa presença.

É realmente dessa forma que muitos encaram o casamento, ou seja, como uma forma de prender um marido ou manter exclusividade forçada na relação com uma mulher. Lamentável erro gerador de frustração e infelicidade.

O casamento não deve ser uma gaiola, porque o amor não é uma prisão. Pelo contrário, o amor é um céu azul, imenso e brilhante, disponível para que os pássaros voem felizes por todo o tempo que puderem.

Penso a minha relação dessa forma. Não desejo uma gaiola, não quero correntes ou prisões. Prefiro um plano de voo sério e sincero. Uma rota a ser cumprida a dois, com trechos certamente nebulosos e chuvosos, mas sempre com a lembrança de que acima das nuvens e das chuvas continua o céu azul, claro e brilhante.

Quando dois voam juntos é preciso cumplicidade e paciência, é preciso que um espere o outro nos momentos de cansaço, é necessário parar para tratar de feridas, mas sempre lembrando que voar é preciso e que o céu azul é o verdadeiro lar dos pássaros.

Portanto, tendo sido aceito o meu convite de voo conjunto, agora resta tentar cumprir o plano, superar os imprevistos de viagem, auxiliar os demais pássaros que encontrarmos na rota, mantendo-nos no céu azul enquanto nos for permitido, afinal o que interessa não é o destino, mas a viagem.

6 de outubro de 2011

SADISMO

Imagine ter o seu nome associado à maldade, ao que é destrutivo e negativo. Imagine que essa associação perdure séculos e mais séculos após a sua morte. Imagine que grande parte das pessoas utiliza o seu nome para designar as maiores iniquidades e as piores atrocidades cometidas pelos seres humanos.

Pois bem, foi justamente isso o que aconteceu com o francês Donatien Alphonse-François de Sade, vulgarmente conhecido como o Marquês de Sade, nascido em 1740, período conhecido na Europa como o Século das Luzes. 

O tom pejorativo é grave quando se fala em sadismo, sadomasoquismo e outras associações ao nome do Marquês que, calha dizer, não foi acusado durante toda a sua vida, de ter praticado um ato sequer de violência contra alguém. Mas o que então poderia ter feito um homem para merecer condenação tão desonrosa, que se prolonga por séculos após a sua morte?

É fora de dúvida que os textos do Marquês são dominados pela temática sexual escatológica, sem limites morais ou pudores. Não é o caso de promover aqui uma defesa do teor de seus escritos fantasiosos, por vezes, de aparência doentia. Todavia, é importante verificar o que causou a sua condenação histórica como um “ser das trevas” de sua época.

Nesse sentido, penso que o verdadeiro motivo ensejador de sua execração perpétua, foram os repetitivos e ferozes ataques à Igreja Católica e ao Estado de forma geral, o que constituía crime na época e acabou por levá-lo à prisão.

No entanto, basta conhecer um pouco do seu pensamento para perceber que, apesar do ateísmo nervoso e até imaturo, bem como da violação de qualquer padrão de sexualidade, há um belo legado de pensamento humanístico pelo qual ele mereceria ser lembrado.

Nesse sentido, por exemplo, a passagem do Diálogo entre um Padre e um Moribundo, na qual ele afirma que “tão somente a razão nos deve advertir que prejudicar nossos semelhantes jamais nos tornará felizes, que contribuir para a felicidade deles é a melhor coisa que a natureza nos pode conceder na Terra. Toda a moral humana encerra-se nestas palavras: tornar os outros tão felizes quanto desejamos sê-los nós mesmos, e jamais lhes fazer mais mal do que gostaríamos de receber.”

Quem poderia imaginar que o ser humano que deu nome ao “sadismo” combate repetidamente a aplicação da pena de morte? A esse respeito, o Marquês assim se pronuncia em sua Filosofia da Alcova: “percebe-se a necessidade de se fazer leis suaves, e sobretudo, de aniquilar para sempre a atrocidade da pena de morte, porque a lei que atenta contra a vida de um homem é impraticável, injusta, inadmissível.” 

Na obra 120 dias de Sodoma, teceu séria crítica aos homens públicos quando sustentou que "as grandes guerras que impuseram tão pesado fardo a Luís XIV esgotaram tanto os recursos do tesouro quanto do povo. Mas mostraram também a um bando de parasitas o caminho da prosperidade. Tais homens estão sempre a espreita de calamidades públicas, que não se preocupam em aliviar, antes procurando criá-las e alimentá-las a fim de que possam tirar proveito dos infortúnios alheios."

Portanto, apesar de seus muitos erros e excessos, é inegável que o Marquês foi mais do que um mero escritor de textos eróticos do século XVIII. Como visto acima, trata-se de um homem dotado de postura filosófica, ou seja, alguém capaz de questionar a moral de sua época, o casamento, as leis vigentes, o Estado, a poderosa Igreja Católica e todas as instituições sociais.

Justamente por essas razões, é que lamento a associação do Marquês de Sade a questões pejorativas e depreciativas do ser humano, tais como a maldade e a atrocidade de forma geral. Nos momentos em que a violência aparece nos seus textos é em forma de fantasia (insana é bem verdade) e não como ensinamento ou pregação de um modo de agir. O que se faz com o Marquês é, nada menos, do que um grande sadismo.

3 de outubro de 2011

LEVIATINHO

Thomas Hobbes e muitos outros autores fizeram alusão ao Estado como sendo um gigante que conseguia controlar e dar proteção às pessoas. Era o Leviatã.

Com essa crescente tendência de Estado Mínimo, não-intervenção, privatizações, diminuição de atribuições e de interferências, daqui a pouco vão passar a chamá-lo de Leviatinho.

29 de setembro de 2011

O TEMPO DE VIDA

No cotidiano é comum ouvir alguém dizendo que o tempo passa muito rápido, seja comentando em linguagem figurada que: “a semana passou voando”, que “não viu o mês passar” ou, que “o tempo escorre feito areia, por entre os dedos das mãos.”

Há até quem diga que perdeu décadas de sua vida e que não consegue encontrá-las. Este se sente roubado no que tem de mais precioso, o tempo de vida.

Nesse tipo de comentário, consta, implicitamente, uma reclamação humana acerca da brevidade da vida, da falta de tempo para realizar, para viver, sentir.

Não é de hoje que o homem manifesta a sua falta de intimidade com o tempo e a sua irresignação com a finitude da vida. Aliás, esse é o grande problema existencial que provocou o surgimento da filosofia e da religião

Santo Agostinho legou um raciocínio interessante: “O que é o tempo? Se ninguém me perguntar eu sei, se me perguntarem, ignoro.”
Concordo com ele. O fenômeno temporal é daqueles que se pode perceber, mas dificilmente consegue-se uma explicação concreta. Da mesma forma, a noção da inexistência é algo que assombra o ser humano.
Afinal, como pode um ser finito, que percebe a sua existência em um determinado ambiente, compreender a noção de eternidade, de infinitude ou, ainda, o oposto absoluto, isto é, a noção da absoluta inexistência (o nada ou o não-ser)?
Quando não se consegue uma explicação abstrata, o raciocínio humano recorre, naturalmente, à metáfora. E qual a metáfora mais utilizada filosoficamente para explicar o tempo? Sem dúvida, o fluxo das águas de um rio.
Heráclito dizia que ninguém entra no mesmo rio duas vezes. Isto significa que, no decurso do tempo, as águas do rio sempre serão outras, assim como que, nós mesmos, também estamos em fluxo de constante mudança e não seremos os mesmos, ao procurarmos novamente o rio para um mergulho.
Assim, temos um tempo presente que se esvai no mesmo momento em que é recebido do futuro, ou seja, um presente que inexorável e continuamente torna-se passado. Enquanto escrevo estas linhas, a cada letra digitada, dou um passo para o futuro, convertendo a instantaneidade do presente em passado.
Esse caráter instantâneo do presente faz com que a consciência tenha a impressão de não ter vivido suficientemente, de que a vida passa muito rápido, de que somos feitos apenas de memórias.
Platão ensinou lindamente que o tempo é a imagem móvel da eternidade. Porém, prefiro ver o tempo como uma oportunidade de transformação constante da imagem caleidoscópica do eterno.

Nesse sentido, lembro do poeta Cazuza, que criticou acidamente a caretice e o preconceito recorrendo ao fluxo do tempo, quando cantou: “a tua piscina está cheia de ratos, tuas ideias não correspondem aos fatos, o tempo não pára!”
Ora, se não podemos, agora, afrontar o tempo, resta aproveitá-lo como uma ferramenta de transformação da imagem de eternidade referida por Platão, pintando-a com as belas cores dos melhores sentimentos que a existência humana pode proporcionar.
O mais é passado, e nele permanecerá eternamente sepultado pelas pesadas areias do esquecimento.

21 de setembro de 2011

AGRADECIMENTO DA AJAPRA

No último dia 17 de setembro, a Associação Jaraguaense Protetora dos Animais – AJAPRA, realizou um pedágio em prol da causa animal, coletando contribuições espontâneas em quatro pontos do município. 

O evento obteve ótima receptividade e, agora, cabe o agradecimento público a todos aqueles que, anônima e desinteressadamente, dispuseram de uma manhã do seu final de semana para trabalhar gratuitamente em prol de tão meritória causa.

 O agradecimento deve também ser feito aos apoiadores que forneceram gratuitamente a mídia para divulgação do evento, inclusive faixas, publicações em jornais, blogs e inserções de rádio, assim como as clínicas veterinárias conveniadas e demais colaboradores.

Vale também deixar consignado o especial agradecimento à população de Jaraguá do Sul que, podendo, prestou auxílio financeiro no pedágio, assim como aqueles que mensalmente contribuem para a manutenção das atividades, uma vez que as doações espontâneas privadas constituem a única fonte de recursos para a manutenção das atividades desenvolvidas pela Associação.

Graças a esse auxílio, a AJAPRA está conseguindo saldar os últimos débitos contraídos em razão da catástrofe climática que acometeu Jaraguá do Sul no início deste ano, causando uma séria de danos, desalojando e até causando a morte de alguns dos animais que estavam em um lar provisório aguardando adoção.

Apesar das dificuldades e restrições de cunho financeiro, o trabalho não cessa. Nos primeiros nove meses deste ano, a AJAPRA pôde auxiliar centenas de animais vítimas de crueldade, abandono e acidentes, dando o devido tratamento e encaminhamento para adoção. 

Além disso, foram realizadas duas feiras públicas de adoção, diversas palestras educativas, denúncias de maus-tratos perante os órgãos competentes, visitas de orientação e auxílio a pessoas carentes, dentre outras atividades de interesse público.

Aos poucos o homem desperta. Muitos são aqueles que já consegue compreender que os animais também sentem fome, sede, frio, dor e solidão.

Aliás, Abraham Lincoln foi muito feliz quando sustentou: “Eu sou a favor dos direitos animais, bem como dos direitos humanos. Essa é a proposta de um ser humano integral.”

Associação Jaraguaense Protetora dos Animais – AJAPRA