Abel e Caim encontraram-se depois da morte de Abel. Caminhavam pelo deserto e reconheceram-se de longe, porque os dois eram muito altos.
Os irmãos sentaram-se na terra, acenderam um fogo e comeram. Guardavam silêncio, à maneira das pessoas cansadas quando declina o dia. No céu assomava uma estrela que ainda não tinha recebido seu nome.
À luz das chamas, Caim percebeu na testa de Abel a marca da pedra, deixou cair o pão que estava prestes a levar à boca e pediu que lhe fosse perdoado seu crime.
– Tu me mataste ou eu te matei?
Abel respondeu: – Já não me lembro; aqui estamos juntos como antes.
– Agora sei que me perdoaste de verdade, disse Caim – porque esquecer é perdoar. Procurarei também esquecer.
– É assim mesmo – Abel falou devagar.
– Enquanto dura o remorso, dura a culpa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário