30 de setembro de 2008

A EXPRESSÃO LÚDICA DE RUBEM ALVES

Durante as duas últimas semanas tenho começado os meus dias cometendo um furto. Não sei como evitar esse pecado e, para dizer a verdade, não quero evitá-lo. A culpa é de uma amoreira que, desobedecendo às ordens do muro que a cerca, lançou seus galhos sobre a calçada. Não satisfeita, encheu-os de gordas amoras pretas, apetitosas, tentadoras, ao alcance de minha mão. Parece que os frutos são, por vocação, convite a furtos: basta mudar a odem de uma única letra...Penso que o caso da amoreira comprova essa tese lingüística: tudo tem a ver com o nome. Pois amora é palavra que, se repetida muitas vezes, amoramoramoramoramora, vira amor. Pois não é isso que é o amor? Um desejo de comer, um desejo de ser comido... O muro, tal como o mandamento, diz é proibido. Mas o amor não se contém e, travestido de amora, salta por cima da proibição. Foi assim no paraíso...

(Trecho de "Andar de manhã" - Crônica de Rubem Alves)

Um comentário:

Unknown disse...

interessante essa repetição amoramoramora..... é novo para mim.