Clássico é aquele livro que nunca envelhece e que merece sempre uma releitura.
Segue abaixo um trecho luminoso de Voltaire, sempre atual e claro.
A natureza diz a todos os homens: eu os fiz nascer todos fracos e ignorantes para vegetar alguns minutos na terra e para adubá-la com seus cadáveres. Porquanto fracos, ajudem-se: porquanto ignorantes, iluminem-se e suportem-se. Quando todos estiverem de acordo, o que certamente nunca acontecerá, mesmo que houvesse um só homem de opinião contrária, vocês deveriam perdoá-lo; de fato, sou eu que os leva a pensar como pensam. Eu lhes dei braços para cultivar a terra e uma pequena luz de razão para guiá-los; coloquei em seus corações um germe de compaixão para que se ajudem uns aos outros a suportar a vida. Não bafem esse germe, não o corrompam, saibam que é divina e não o substituam a voz da natureza pelos miseráveis furores da escola.
Sou eu somente que ainda os une, apesar de vocês com suas necessidades recíprocas, até mesmo no meio de suas guerras cruéis tão levianamente empreendidas, teatro eterno dos erros, dos acasos e das desgraças. Sou eu somente que, numa nação, detém as conseqüências funestas da divisão interminável entre a nobreza e a magistratura, entre esses dois órgãos e aquele do clero, entre o próprio burguês e o cultivador. Todos eles ignoram os limites de seus direitos, mas todos eles ouvem, apesar deles a seu tempo, minha voz que fala seu coração. Somente eu conservo a eqüidade nos tribunais, onde tudo seria entregue, sem mim, à indecisão e aos caprichos, no meio de um acúmulo de leis feitas muitas vezes ao acaso e por causa de uma necessidade passageira, diferentes entre elas de província para província, de cidade para cidade, e quase sempre contraditórias entre si no mesmo lugar. Só eu posso inspirar a justiça quando as leis só inspiram a trapaça. Aquele que me ouve, sempre julga bem e aquele que não procura senão conciliar opiniões que se contradizem é aquele que acaba se desgarrando.
Há um edifício imenso, cujos fundamentos foram feitos com minhas próprias mãos; era sólido e simples, todos os homens podiam entrar nele com segurança; quiseram acrescentar-lhe os mais bizarros, os mais grosseiros e os mais inúteis ornamentos; a construção cai em ruínas por todos os lados; os homens tomam suas pedras e as atiram na cabeça uns dos outros; eu lhes grito: parem, afastem-se desses escombros funestos que são a obra de vocês todos e fiquem comigo em paz no edifício inabalável, que é o meu.
2 comentários:
Muito bom.
Na Bahia está sendo apresentado um projeto de lei na assembléia legislativa, intitulado de "intolerância religiosa". Mas, quando refletimos em um fragmento de obra como esta, podemos observar que no "Brasil democrático" não existe intolerância religiosa, mas, alguns religiosos que não sabem o que é crítica. Souza Santos de Salvador.
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