Nos últimos dois anos, políticos que concorrem às eleições de 2008 enriqueceram 46,3%. A média foi obtida após cruzamento de dados no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de 180 integrantes das Câmaras Municipais de capitais brasileiras que foram candidatos nas eleições de 2006 e de 255 deputados federais, senadores e deputados estaduais que concorrem a prefeituras e vice-prefeituras.
O levantamento, feito por pesquisadores da ONG Transparência Brasil, mostra ainda que, no Rio de Janeiro, o patrimônio de 10 dos 48 vereadores aumentou 108%, o que coloca a cidade na terceira colocação no ranking, atrás apenas de Fortaleza (135%) e de Boa Vista (122%).
O relatório da ONG ressalta que, um mês após a abertura do registro de candidaturas, o sítio de Internet do TSE ainda deixava de registrar dados de 22 candidatos a prefeito que são deputados federais ou estaduais e 23 vereadores de capitais que concorrem à reeleição – entre estes todos os de Teresina, capital do Piauí.
A análise dos dados dos candidatos a prefeito do Rio de Janeiro é interessante. Alguns, segundo o levantamento no TSE, alegaram não ter nenhum real em sua declaração de bens de 2006. É o caso de Alessandro Molon (PT) e Filipe Pereira (PSC).
Outros, apresentaram uma evolução patrimonial invejável. O senador Marcelo Crivella (PRB), por exemplo, aumentou seus bens de R$ 78.080,91 para R$ 180.900, alta de 131,7%. Em segundo lugar, está o pedetista Paulo Ramos, que, em 2006, declarou ter R$ 202.500 e, em 2008, R$ 392.958,85, alta de 94,1%.
Na avaliação do coordenador de projetos da ONG, Fabiano Angélico, a Justiça Eleitoral e o Ministério Público deveriam atuar com rigor.
– A maneira como a Justiça Eleitoral acompanha os dados dos candidatos é um descalabro – analisa Fabiano. – Muitos declaram ter zero reais como bens ou casas valendo centavos. Isso é um absurdo.
A pessoa quer se candidatar a um cargo público e já começa mentindo. O Ministério Público deveria atuar e tentar impugnar essas candidaturas. Não é possível que o TSE aceite que uma pessoa declare não possuir nenhum dinheiro por mais pobre que seja. É preciso regular melhor isso.
A situação, avalia Fabiano, é ruim em todo o país. Dos 709 vereadores em exercício nas 26 capitais brasileiras, 663 buscam a reeleição ou concorrem aos cargos de prefeito ou vice-prefeito. Dos que foram candidatos em 2006, 15 declararam não possuir bens naquele ano, mas, em 2008, atingiram a média de R$ 108 mil cada. Na média, o patrimônio declarado pelos vereadores é de R$ 377 mil.
Considerando-se o PIB per capita das capitais, os vereadores dessas cidades são, em média, 45 vezes mais ricos do que o restante da comunidade que representam.
A riqueza relativa, como chamam os estudiosos, mostra que os representantes municipais são muito mais ricos que as comunidades que representam. O maior disparate acontece em Salvador, na Bahia
– Os vereadores de Salvador ganham 103,6 vezes mais que os moradores da cidade. É uma distância enorme – ressalta Fabiano.
– No Rio de Janeiro, essa conta também é alta, os vereadores ganham 47,9 vezes mais que a população. Em São Paulo, este índice é de 46,7.
Além de ganharem mais que a maioria dos mortais, alguns candidatos cariocas usam ainda uma matemática ímpar para multiplicar seus bens. Dos nove avaliados pela ONG, os que apresentaram maior evolução patrimonial foram Dr. Nelson Ferreira (PR), com um acréscimo de 483%, Luiz André Deco (PR), com alta de 479,3%, e Alexandre Cerruti (DEM), que conseguiu aumentar, em dois anos, em 50,4% seu patrimônio.
A reportagem procurou os vereadores, mas não conseguiu falar com eles. A assessoria de imprensa da Casa disse que não pode responder pela vida privada dos parlamentares e não pode justificar a espetacular aplicação de recursos.
O relatório da ONG também constata que os deputados estaduais, federais e os senadores do Rio de Janeiro são “obviamente muito mais abastados do que a média da população”.
Pelas suas declarações de bens deste ano, o custo médio de seus imóveis é de R$ 748.361. A ONG Transparência Brasil é financiada pelas Nações Unidas.
(Fonte: Jornal do Brasil de 05.08.2008).
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