3 de maio de 2009

UM AGLOMERADO DE SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS

Dia desses vi num documentário que o homem é um aglomerado de substâncias químicas destinado a passar em média 3,6 anos de sua vida comendo, seis meses no banheiro, duas semanas beijando e que praticará atividade sexual por 2.580 vezes.

Trata-se de um resultado científico, uma análise de dados com um produto bastante determinado e específico. Inquestionável diriam alguns, mas não será reducionismo? Reducionismo, .

O homem é mesmo apenas um ser rastejante que passa determinada medida de tempo lutando contra a gravidade, buscando prazer e evitando dor até o fim de sua suposta existência?

A resposta é sim e também não, afinal não parece sadio sustentar verdades absolutas.

Será indubitavelmente positiva se o homem for compreendido em sua totalidade pela massa corpórea que o representa aos nossos cinco limitados sentidos, mas poderá vir a ser negativa se for relativizado o dogma do conhecimento científico teórico.

Então vamos falar de fé? Sim e não, volto a dizer.

Poderemos falar restritivamente de fé sim, mas também utilizar a filosofia clássica e inclusive a contemporânea, mais precisamente na figura de Michel Focault, para compreender que o homem não precisa necessariamente ser visto como um mero aglomerado de substâncias químicas.

Para Focault, a verdade não pode ser transmitida ao sujeito como simples ato de conhecimento, aquele pronto, acabado, empacotado e entregue para degustação. Pelo contrário, o conhecimento que pode conduzir a alguma verdade precisa ser buscado, vivenciado, lapidado e interpretado. É o chamado antifundacionalismo.

Pode ser que o próprio sujeito precise inclusive se transfigurar, sofrer as necessárias modificações para que consiga ver luz suficiente e enxergar alguma verdade.

Essa é a espiritualidade apontada por Focault, uma postura filosófica a respeito da vida em conformidade com os preceitos da antiga escola do conhecimento, que valoriza, sobretudo, o sujeito como buscador, lapidador, intérprete e responsável pela verdade que enxerga.

Nessa linha, cabe a cada um descobrir, por esforço e vivência pessoal, se o homem é apenas um aglomerado de substâncias químicas ou se essa verdade transmitida pelo atual estágio da ciência pode ser contestada.

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