19 de maio de 2009

O ÓPIO É A RELIGIÃO DO POVO (LELÊ TELES)

O crack é a nossa mais preocupante epidemia. E é uma droga apocalíptica que desencadeia uma série de patologias que criam agudas necroses sociais, inclusive, a mais aguda delas, é a desintegração completa e irreversível das famílias, chegando ao cúmulo de pai matar filho, filho matar mãe, neto matar avô... do jeito que tá na Bíblia.
Há em alguns estados, como em Sergipe e em São Paulo, governos anunciando uma frente para eliminar o crack.
Quero ver quem será o craque que vai fazer tão idiossincrática firula. Vão tirar o crack e trocá-lo pelo quê?
Os caras continuam com a velha e batida lógica de agir contra o efeito e nunca contra causa.
Enquanto os filhos se divertem no shopping, vão ao cinema, se banham na piscina do condomínio e comem na praça de alimentação, os doutores, entre uma dose e outra de scotch, discutem como afastar as drogas das periferias. Mas nunca pensam em como afastar as periferias das drogas.
Veja você. O que ninguém imagina é que os filhos dos que não podem ir ao shopping e patinar numa pista de gelo, que não tem montanha russa e bungee jumping pra descarregar adrenalina - que tem apenas uma poça de lama ou de esgoto a céu aberto como piscina, usam o crack como um lenitivo.
O que os tomadores de scotch não podem esquecer é que até mesmo eles que tem acesso a cargos públicos, e das benesses que vem junto, precisam se drogar com suas doses de scotch ao final do expediente.
O estado se faz presente nas periferias edificando hospitais e delegacias. O diabo é que a maioria das enfermidades são conseqüências dos esgotos a céu aberto, da poeira, da falta de asfalto, da lama, do lixo amontoado de qualquer jeito, da falta de higiene; em uma palavra, da falta de políticas públicas de saúde preventiva. Mas é mais fácil construir um hospital.
Os presos são, na sua esmagadora maioria, gente sem estudo, sem emprego, sem pai ou sem a mãe, sem esperança no futuro, sem apoio de ninguém e sem acesso à droga da felicidade. Mas, é mais fácil construir presídios do que construir políticas culturais, de esporte e lazer.
Os doutores tomadores de scotch se esquecem que quando um jovem senta num beco imundo e traga um cigarro de crack ele, por alguns segundos, passeia em um lindo Shopping Center, desliza na neve, mergulha em uma montanha russa e mata a fome de tudo o que lhe falta. Ali, no beco fétido, o jovem sem amor, sem profissão e sem emprego, sem dente e sem esperança, mitiga a sua dor. E como ele não tem emprego e nem dinheiro para saciar sua diversão, a sociedade é que paga a conta.

Fonte: http://www.noblat.com.br/
Comentário: Em Jaraguá do Sul (SC) a situação não é diferente. No Centro da cidade, seja junto ao terminal rodoviário, atrás da Milium, atrás da Praça Ângelo Piazera ou mesmo em bairros como o Ana Paula, por exemplo, o tráfico de crack é praticado dia e noite.
O consumo do crack cresce vertiginosamente e está desgraçando o convívio social, gerando violência nunca antes vista e arruinando famílias inteiras (a família adoece quando tem um membro viciado em crack).
Não há vagas no Presídio para esses micro-traficantes que muitas vezes transportam as pedras dentro da boca, pois atualmente temos 291 presos para 76 vagas. O que fazer? Prender e soltar? Ir "administrando" a situação?
A verdade é que o Estado não dá mais conta e não possui recursos suficientes para uma repressão adequada a esse tipo de conduta. Presídio ou Penitenciária são obras que não geram votos e, por essa razão falta interesse político. Faltam também policiais e os que aí estão são mal pagos. Enfim, trata-se de luta inglória para uma sociedade desamparada.

3 comentários:

Raphael Rocha Lopes disse...

As soluções são simples, embora alguns teimem em não encontrá-las. Educação e ocupação. Como bem explicitado no texto, doenças existem porque não há condições higiênicas mínimas; crack existe porque não há atividades para essa juventude. Claro, a situação, hoje, é bem mais complexa. Mas começar é preciso. Estudos e projetos estão aí, Brasil afora, para demonstrar que é possível reverter o quadro com um pouco de persistência e vontade política.

Carvalho disse...

Nada a ver com este tópico, mas já viste algo sobre o interdito proibitório proposto pelas empresas de transporte coletivo de Joinville contra algumas entidades que estão reinvidicando a revogação do aumento da passagem na cidade?
Sou estudante de Direito aqui em Joinville e gostaria de uma opinião sua a respeito do caso.
É cabível a medida.
Se quiseres, mando um relato mais detalhado a respeito.

Darwinn Harnack disse...

Prezado Tiago, parabéns pelo seu blog e pela sua atuação.

Confesso que estou por fora da situação do transporte público em Joinville. Soube apenas que houve um aumento ilógico da tarifa que teria inclusive violado, segundo consta, compromisso de campanha assumido pelo Pref. Carlito.

Diante disso, fica difícil opinar sobre a conveniência e possibilidade jurídica do interdito proibitório. Acho que a discussão pode ser feita também via Ação Popular e, para quem detém legitimidade, Ação Civil Pública.

Abraço!