25 de janeiro de 2009

O PODER DA METÁFORA

A partir de uma interpretação mais cuidadosa de "aparentemente" ingênuos livros de literatura infantil, como Alice no País das Maravilhas (Lewis Carrol) e O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint Exupéry), podem exsurgir mensagens nada superficiais e que merecem uma ou mais releituras.

Segue abaixo um trecho de O Pequeno Príncipe:

Com efeito, no planeta do principezinho havia, como em todos os outros planetas, ervas boas e más. Por conseguinte, sementes boas, de ervas boas; sementes más, de ervas más. Mas as sementes são invisíveis. Elas dormem no segredo da terra até que uma cisme de despertar. Então ela espreguiça, e lança timidamente para o sol um inofensivo galhinho. Se é de roseira ou rabanete, podemos deixar que cresça à vontade. Mas quando se trata de uma planta ruim, é preciso arrancar logo, mal a tenhamos conhecido.
Ora, havia sementes terríveis no planeta do principezinho: as sementes de baobá… O solo do planeta estava enfestado. E um baobá, se a gente custa a descobri-lo, nunca mais se livra dele. Atravanca todo o planeta. Perfura-o com suas raízes. E se o planeta é pequeno e os baobás numerosos, o planeta acaba rachando.“É uma questão de disciplina, me disse mais tarde o principezinho. Quando a gente acaba a toalete da manhã, começa a fazer com cuidado a toalete do planeta. É preciso que a gente se conforme em arrancar regularmente os baobás logo que se distingam das roseiras, com as quais muito se parecem quando pequenos. É um trabalho sem graça, mas de fácil execução.”Em um dia aconselhou-me a tentar um belo desenho que fizesse essas coisas entrarem de uma vez na cabeça das crianças. “Se algum dia tiverem de viajar, explicou-me, poderá ser útil para elas.

Às vezes não há inconveniente em deixar um trabalho para mais tarde. Mas, quando se trata de baobá, é sempre uma catástrofe. Conheci um planeta habitado por um preguiçoso. Havia deixado três arbustos…” E, de acordo com as indicações do principezinho, desenhei o tal planeta.Não gosto de tomar o tom de moralista. Mas o perigo dos baobás é tão pouco conhecido, e tão grandes os riscos daquele que se perdesse num asteróide, que, ao menos uma vez, faço exceção à minha reserva. E digo portanto: “Meninos! Cuidado com os baobás!”

Foi para advertir meus amigos de um perigo que há tanto tempo os ameaçava, como a mim, sem que pudéssemos suspeitar, que tanto caprichei naquele desenho. A lição que eu dava valia a pena. Perguntarão, talvez: Por que não há nesse livro outros desenhos tão grandiosos como o desenho dos baobás? A resposta é simples: tentei, mas não consegui. Quando desenhei os baobás, estava inteiramente possuído pelo sentimento de urgência.


Segue também um trecho emblemático e muito citado da obra Alice no País das Maravilhas:

Alice e o Gato se encontram numa encruzilhada.
Alice pergunta: - Qual caminho devo seguir?
- Isso depende!
Pra onde você quer ir?
- Não sei!...
- Ora, então qualquer caminho serve!

Um comentário:

Raphael Rocha Lopes disse...

Essa vai para quem achava que Pequeno Príncipe era só um livro que as antigas misses gostavam de dizer que liam (de toda forma, um milhão de vezes melhor do que estes de pseudo-auto-ajuda de hoje...). Na realidade, um livro que deveríamos ler uma vez por década.