26 de setembro de 2010

VANITAS VANITATUM ET OMNIA VANITAS

Recentemente compareci num evento que me impregnou de uma sensação estranha. Senhoras, senhoras e mais senhoras, quase todas, indistintamente, portando bolsas Louis Vuitton muito parecidas ou idênticas.

Não que já não tivesse presenciado o fenômenos diversas vezes, mas desta vez entreguei-me à fria observação, sentado em um espaçoso sofá vazio.

Com a grande variedade de bolsas e acessórios disponíveis no mercado, o que faz com que quase todas estivessem com bolsas da mesma marca, com formato idêntico ou muito semelhante?

Identificação me parece ser a palavra-chave. Aquelas senhoras queriam se sentir parte do grupo, da classe ali reunida. Por isso, como apresentação pessoal não dispensavam o símbolo de que “podiam”(poder) estar ali e serem aceitas pelas demais.

De certa forma é triste notar a insegurança das pessoas (não apenas das mulheres). Não é mais a personalidade de cada um que o faz ser querido ou aceito em um determinado grupo, mas os símbolos materiais que demonstra ter podido adquirir, participar de um grupo seleto de consumidores.

E se uma senhora daquelas estivesse portando uma bolsa sem o “LV” grafado em dourado no couro ou no fecho da bolsa?

Acredito que ela seria investigada pelas mentes das demais com perguntas do tipo: Quem é você? Por que não se identifica? Está se achando acima do bem e do mal ou está invadindo o nosso grupo? Você pertence à nossa classe?

É provável que esses pensamentos viessem a povoar algumas daquelas mentes.

Não vai aqui nenhum tipo de desdém, desprezo ou crítica. Tenho pessoas próximas que adotam o mesmo comportamento. Sem notar, muitos de nós são impulsionados a essa mentalidade (homens e mulheres).

Mas isso faz algum sentido?

3 comentários:

Karlan Muniz disse...

Caro amigo,
parabéns pelo texto.

Há tempos estudando comportamento de consumo, percebo cada vez mais (sem crítica ou julgamento de valor, mais como observador ou aprendiz) que o ser humano é complexo e multifacetado, e cenas com as relatadas por você deixam esse rastro.

Estamos longe do comportamento racional e belo descrito por Shakespeare em Hamlet ("Que obra-prima é o homem! Como é nobre pela razão! Como é infinito em faculdade! Em forma e movimentos, como é expressivo e maravilhoso! Nas ações, como se parece com um anjo! Na inteligência, como se parece com um deus!") e distantes de um equilíbrio de motivações em sentimentos, numa rede complexa de influências e posicionamentos (ou máscaras, para os críticos de plantão).

Ser multifacetado significa que a mesma senhora que se encontrava naquele recinto pode estar nesse domingo sentada com com os filhos valorizando o almoço simples de domingo (pouco provável, alguém díria... mas sem preconceito é possível vizualizar sim).

E, porque não vale a pena aprofundar por internet (e sim pessoalmente, sempre, rodeado de nossas cervejas ou vinhos preferidos, nossa comida e restaurantes preferidos, certo?), ainda menciono que essa complexidade não é novidade. Era encontrada no relacionamento dos gregos com os mistérios do universos (mas marcas formam uma espécie de mitologia moderna) e se observarmos de perto os cultos e grupos(inclusive os meis secretos), está tudo lá. A mesma necessidade de identificaÇão e aceitação, a mesma simbologia funcionando como agregador e rótulo.

Boas ou não, esfarelando quando em contato com a água ou não, as bolsas não são tão culpadas assim.

Abraços,
Karlan Muniz

Darwinn Harnack disse...

Muito bom posicionamento. A partir do seu texto, consigo visualizar perfeitamente a ideia do ser humano gregário multifacetado, ou seja com suas várias personas (máscaras) sociais, nem sempre coerentes entre si.

Pena que o fator "capacidade de consumo", tenha se tornado um desses (para não dizer o principal) fatores de agregação.

Todavia, não era de se esperar algo muito diferente em uma sociedade regida pelo capital.

Será que poderia ser diferente (pergunta de um ingênuo ou idealista)?

Karlan Muniz disse...

Darwinn,

acho que será diferente sim, já que as tendências e movimentos parecem vir em ciclos, onde prioridades e valores vão se alternando/ se adaptando.

Resta saber quando.

(agora, que tal discutir isso com uma cerveja hein...)

Abraços e até breve