27 de março de 2008

A ANEMIA CULTURAL DO BRASILEIRO

Antes de conhecer Buenos Aires, achava ridículo o ditado portenho de que na Avenida Corrientes existem mais livrarias do que no Brasil inteiro. Depois de conhecer melhor a realidade do povo argentino, sua cultura e a tal Avenida Corrientes, mudei de idéia.

É claro que toda generalização é burra, mas a verdade é que nossos "hermanos" lêem muito mais, são mais apegados à sua cultura e igualmente mais politizados.

Simpática ou não, infelizmente é a verdade. Segundo pesquisa divulgada pelo Jornal O Globo do último domingo (23.03.2008), no ano de 2007, 55% dos brasileiros passaram longe de qualquer programação cultural.

Destes 69% disseram que não leram nenhum livro ao longo de 365 dias! De cada dois cidadãos do Brasil, um não leu um livro, nem foi ao cinema, ao teatro, a uma exposição de arte ou a um espetáculo de dança ou música!

A falta de hábito foi à primeira motivação para as classes D e E (58%) e da A e B (57%). Em segundo lugar como motivação veio 'não gosto', em terceiro 'não tenho acesso' e apenas em quarto 'não posso pagar'.

Para mudar isso, só investimentos em educação de qualidade o que tradicionalmente não é prioridade por aqui.

2 comentários:

Tayse disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tayse disse...

Concordo com você Darwinn.
Não sei se você chegou a ver esta publicação, mas achei que contribuiria com a discussão.
Parabéns pelo blog!



Ler, pensar e escrever



"A escola brasileira não sabe ensinar a ler e ponto" — disse o ministro da Educação Paulo Renato, como se essa declaração explicasse o péssimo desempenho de estudantes brasileiros (de escolas públicas e particulares) no PISA — Programa Internacional de Avaliação de Alunos —, colocando o Brasil em último lugar entre os 32 países avaliados quanto à "capacidade de leitura, assimilação e interpretação de texto".

O ministro tentou lavar as mãos com o famoso sabão Pilatos e crucificar a escola. Mas cabe a nós retomar o ponto final que Paulo Renato empregou tão indevidamente e transformá-lo em reticências que iniciem uma reflexão mais aprofundada...

O primeiro ponto a ressaltar é que este resultado confirma a necessidade de enfatizarmos o papel do livro na formação do brasileiro. E isso vai muito além da compra de obras didáticas pelo governo ou a multiplicação de bibliotecas públicas.

Precisamos pensar, usar mais o ponto de interrogação!

O jovem brasileiro simplesmente lê mal ou será que mal viu seus pais lendo e por isso nunca experimentou o bem que isso faz à nossa visão de mundo?

E se os pais não leram, e portanto não deram o exemplo mais poderoso (o exemplo familiar), não o fizeram por quê? Por falta de livros nas estantes ou por falta de uma consciência da importância insubstituível da leitura?

O jovem brasileiro não lê? Mas não lê o quê? Não lê Machado de Assis e Alcântara Machado? Alguém vai querer nos convencer de que os dois Machados são autores para jovens? E o fenômeno Harry Potter? Será tão difícil perceber que os jovens (e as crianças... e os adultos) gostam de ler boas histórias, e aí não há livro de 500 páginas que assuste?

O ponto realmente problemático não é que a escola brasileira seja incapaz de ensinar a ler. Nem a escola nem os professores são os grandes culpados, embora não devamos diluir sua responsabilidade.

Precisamos criar um ambiente favorável à leitura, com a valorização de quem lê. Os bons leitores precisam de mais espaço e reconhecimento na TV, nos jornais, no próprio sistema de ensino. Precisam sair do último lugar!

Se o Brasil ficou em último lugar nesse "Campeonato da Leitura" é porque a leitura no Brasil está em último lugar.

Precisamos virar o jogo.

Precisamos convocar e ouvir nossos grandes leitores.

Gabriel Perissé
Matéria publicada em 01/01/2002
Edição n 29