Cerca de trinta anos após o surgimento do fenômeno denominado de “globalização”, verifica-se que para globalizar os mercados consumidores, a grande mídia trabalhou com muita competência e eficácia na padronização da cultura, no modo de comunicação, nos critérios de análise econômica, nos padrões de relações exteriores entre os países, bem como na estratégia do fluxo de tecnologia.
Através deste caminho, os objetos de desejo e de consumo já são quase os mesmos na Europa e na América do Sul, por exemplo. Graças a essa inteligente estratégia, o deus mercado consegue ser onipotente e onisciente em relação às suas fieis ovelhas consumidoras.
Não é por acaso que as grandes marcas conseguem agradar públicos de continentes diferentes vendendo os mesmos sabores, aromas, tecidos, modelos e através de forma semelhante de comunicação midiática.
Hoje não é mais suficiente produzir uma mercadoria. É necessário impregná-la de sentido, de valores culturais que atraiam o público consumidor. É norma que o produto carregue uma potencial identificação com aquele o consome.
Atuando dessa forma, o ente produtor consegue obter como resultado o consumo irrefreável, descontrolado, desorientado e compulsivo. É dessa forma que uma marca consegue fazer consumidores ficarem aguardando horas em filas quilométricas, no frio intenso ou no calor, apenas para consumar o ato de consumir.
O problema fica por conta da desorientação, da falta de parâmetros de quem age de forma bovina, deixando-se levar pela ditadura da cultura do deus mercado que, por sua própria natureza é egocêntrica.
O narcisismo e o egocentrismo estão sendo levados pela cultura massificada a um ponto nunca antes atingido na história. Não há mais a preocupação com os valores da coletividade, mas sim a estrita satisfação dos desejos pessoais e mais imediatos.
Isto se reflete também no campo das funções públicas que estão sendo exercidas, via de regra, apenas para benefício do próprio titular e não do bem comum. Prevalece hoje a regra de que o sucesso é ter dinheiro para estar mais próximo do deus mercado. Quem não tem é marginal, ou seja, está à margem do mercado e, portanto, da sociedade de consumo.
É a partir disso que se veem escândalos envolvendo desvios de dinheiro público que deveria ser utilizado no fornecimento de merenda escolar de qualidade, compra de medicamentos para hospitais públicos, construção de escolas e creches, dentre outras formas execráveis de ataque à coisa pública.
A moralidade do hipermodernismo não condena com a veemência que deveria, o sanguessuga do dinheiro público, o verme que aufere salários sem trabalhar na função pública, o administrador desonesto que promove todo o tipo de acordos, os vereadores e deputados que permutam os seus votos por vantagens pessoais, dentre outras condutas estúpidas que corriqueiramente são vistas.
No setor privado não é diferente, pois há o empresário corruptor do político, o cidadão que tenta corromper o policial, o professor que finge lecionar para ganhar salário, o empregado que pede vantagens aos fornecedores para elegê-los nas compras, dentre outras hipóteses.
A verdade é que com a derrocada dos valores morais, nossa sociedade está corrompida de forma geral, precisando de ajustes emergenciais que só virão através de uma educação de qualidade voltada à formação humanística de seres que possam atuar com desenvoltura e critério na complexa hipermodernidade.
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