29 de março de 2012

MILTON VIOLA FERNANDES

O nome que dá título a esta crônica pouca gente conhece, mas o “nome artístico” Millôr Fernandes, quase todo brasileiro conhece ou, ao menos, já ouviu falar.

Pois é, Millôr, que era jornalista, escritor, ilustrador, dramaturgo, fabulista, calígrafo, tradutor e inventor do frescobol, deixou estas paragens na última terça-feira.

Deve ter ido irradiar o seu talento e alegria em outros planos. Além das magníficas charges, muitas frases criativas e provocativas marcaram a cultura brasileira.

Brincando com as palavras como quem monta quebra-cabeças, dizia Millôr, por exemplo, que “feliz é o que você percebe que era, muito tempo depois.”

Com típico olhar de quem sempre está (re)descobrindo o mundo, Millôr percebeu que a “anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.” Ou ainda, que: “o homem é o único animal que ri. E é rindo que ele mostra o animal que é.”

A sabedoria e a sensibilidade eram abundantes, mas peço vênia especialmente nesta crônica para apontar-lhe um erro, sim, um equívoco grosseiro cometido contra si mesmo.

Millôr errou feio ao dizer que “todo homem nasce original e morre plágio”. Isso pode até acontecer com a maioria, mas há alguns espécimes raros, como o próprio Millôr, que morrem tão originais quanto nasceram. Não há como imitá-los ou substituí-los.  

27 de março de 2012

22 de março de 2012

VAMOS ENFEITAR OS PRÉDIOS PÚBLICOS!

No início deste mês, uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, acolheu pedido de retirada de crucifixos e símbolos religiosos dos prédios que compõem a estrutura judiciária do Estado.


O Desembargador Cláudio Baldino Maciel fundamentou a decisão: “resguardar o espaço público do Judiciário para o uso somente de símbolos oficiais do Estado é o único caminho que responde aos princípios constitucionais republicanos de um Estado laico.” 


Realmente, nada mais sensato em se tratando de um Estado laico, que não sejam privilegiados símbolos desta ou daquela religião nos prédios públicos.


Isto não significa dizer que o Estado nega a Deus ou que a retirada dos crucifixos importa em desrespeito à religião católica. É, sobretudo, uma questão de respeito à diretriz de que o Brasil não é um país católico, como é o caso do Chile, por exemplo.


O Chile é um país católico, tem quatro poderes, a saber: legislativo, executivo, judiciário e eclesiástico.


Portanto, no Chile os símbolos cristãos fazem parte do modelo de Estado adotado. No Brasil isso não acontece.


Mesmo assim, o assunto não é tão simples.


Em 29 de Maio de 2011, o Conselho Nacional de Justiça – CNJ decidiu a respeito de quatro pedidos de retirada de símbolos cristãos de prédios públicos, entendendo que tais símbolos não ferem o caráter laico do Estado.


Na época, o jurista Católico Ives Gandra da Silva Martins, invocando o preâmbulo da Constituição Federal, no qual consta a expressão “sob a proteção de Deus”, advogou que a retirada dos símbolos seria inconstitucional.


Se é assim, cabe questionar: poderia um órgão público negar o pedido de inserção de símbolo de outra religião não cristã ao lado do crucifixo?


Entendo que não, pois o artigo 5º da Constituição Federal assegura tratamento isonômico (igualitário), inclusive no que tange à religião.


Pois bem, se não se consegue atingir um consenso, então que os símbolos religiosos sejam utilizados democraticamente nos prédios públicos. Ora, ao lado do crucifixo, deverão conviver harmoniosamente a Estrela de Davi, imagens dos Orixás, de Buda, de Krishna, de Maomé e até mesmo uma placa ao lado contendo: “não acredito”, para homenagear os ateus e uma contendo: “não nego a possibilidade”, para lembrar dos agnósticos.


Quem sabe assim todos se sintam contemplados e vivam felizes. Vamos enfeitar os prédios públicos!

15 de março de 2012

O GATO PRETO

Na última segunda-feira assisti a um trecho do Programa Custe o que Custar – CQC, em que os apresentadores falavam de mau agouro, azar e assuntos relacionados.

Naquele momento, adentrou uma funcionária da produção trazendo uma caixa fechada com laço de presente. Os apresentadores, fazendo cara de surpresa, abriram então o presente e, com espanto teatral, retiraram dela um gato preto vivo, entregando-o com repulsa para alguém que estava atrás das câmeras.

Disseram que o gato preto representava o mau agouro e que havia sido enviado pela concorrente, Rede Globo de Televisão.

Lamentei e continuo lamentando a utilização desse animal para reforçar uma crendice sem fundamento, de que o gato preto é animal de mau agouro.

Para quem não está inserido no trabalho voluntário de proteção animal, pode parecer que se tratou apenas de uma ingênua brincadeira.

Porém, entendo que ingênuos mesmo foram aqueles que fomentaram a brincadeira, pois não conseguem compreender a dimensão e os reflexos de suas atitudes.

Por carregar o estigma de animal de azar, já acompanhei diversas atrocidades cometidas contra gatos pretos nesses anos de trabalho voluntário.

Certa vez, o animal foi fixado pelas duas patas dianteiras, com uma cola industrial em um tonel de aço e permaneceu naquela posição vertical (de pé), durante um final de semana inteiro, no sol, sem comida ou água.

Já encontrei em duas oportunidades, gatos pretos enforcados e amarrados na porta de residências. Foram usados como instrumento de “trabalho” para dar azar ao inimigo.

Já vi pessoas contando, orgulhosas, que atropelaram propositalmente o “animal do capeta”, assim como já vi gente jogando pedras e atirando pedaços de pau para que o animal símbolo do azar, se afastasse.

Sim, é ignorante e digno de pena aquele que acredita nesse tipo de superstição, porém, mais ignorante ainda é quem propaga, em rede nacional de televisão, uma crendice que tanto sofrimento já causou a seres inocentes que não têm culpa de terem nascidos na cor eleita como sinônimo de azar.

12 de março de 2012

CARROS, ÔNIBUS E BICICLETAS








Uma foto de cidade alemã, demonstra o espaço utilizado por carros, depois por um ônibus e também por bicicletas, para transportar o mesmo número de pessoas.

9 de março de 2012

MÁSCARA DE FERRO (PAULO FICHTNER)

Se não fosse esta máscara de ferro
que nos vela a face e os olhos,
à esquerda dos deuses veríamos
o grande crepúsculo no vale.

Não ouviríamos mais as baionetas
dilacerando a pele do homem
ao dobre dos sinos de Jerusalém.

Ouviríamos as almas que não podem
chorar e, sentindo a agonia das harpas
que não tangem mais, viríamos à noite

para dizer às almas e às harpas
que choramos com elas e escutamos
todas as vozes que não têm mais eco.

Não só deuses escutam o eco das vozes.
Se não fosse esta máscara de ferro,
à esquerda dos grandes deuses veríamos
o vale ao crepúsculo.

7 de março de 2012

DILEMAS TOSTINES DA VIDA REAL

Aqueles que hoje tem seus trinta e poucos anos, podem lembrar da campanha publicitária dos biscoitos Tostines, que fez muito sucesso na década de 1980.

O mote da campanha era o dilema desafiador: “Tostines vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porque vende mais?"

A partir disso, diversas dúvidas do cotidiano passaram a ser ludicamente apelidadas de “Dilemas Tostines”. Eu faço parte dessa geração e, portanto, até hoje brinco com esses problemas que propõem soluções contraditórias.

As reflexões multiplicam-se indefinidamente, seja na vida privada, como por exemplo: aquela mulher trata mal o marido porque ele bebe, ou o marido bebe porque é tratado mal pela mulher? O cidadão trabalha para viver ou vive para trabalhar? O jovem usa drogas porque não tem oportunidades, ou não tem oportunidades porque é usuário de drogas?

O dilema pode surgir também na vida social, como a pergunta de que o jaraguaense lava o telhado de casa no final de semana porque não tem opções de lazer, ou não existem opções de lazer, porque o jaraguaense costuma lavar o telhado da casa no final de semana?

No setor público o dilema também se manifesta, como por exemplo: o transporte público de Jaraguá do Sul não tem qualidade porque grande parte das pessoas prefere usar seus carros, ou as pessoas preferem usar seus carros, porque não há transporte público de qualidade?

Na filosofia, lembro-me do dilema sustentado por Frei Beto no livro Diálogos Criativos, onde ele questiona: “Serão as catedrais, shopping centers da fé, ou os shopping centers, catedrais do consumo?"

E você, caro leitor, qual o seu dilema?

FEIRA DE ADOÇÃO DE ANIMAIS DA AJAPRA (SÁBADO)

1 de março de 2012

VENENO CONTRA VENENO

Segundo estudo divulgado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, a corrupção gera prejuízos na ordem de US$ 10 bilhões por ano ao Brasil, ou seja, valor superior à soma dos orçamentos globais dos ministérios da cultura, ciência e tecnologia, meio ambiente, esporte e turismo.

A corrupção é movida, sobretudo, por interesses financeiros e, nesse sentido os norte-americanos foram pragmáticos ao aprovar e colocar em vigor a Lei Dodd-Frank em agosto de 2011.

Essa norma jurídica cria um fundo de US$ 450 milhões, para fomentar a delação premiada de esquemas de corrupção que envolvam políticos e empresas privadas nacionais ou estrangeiras.

Ora, se o dinheiro (vantagem financeira) é que gera a corrupção, nada mais correto e eficaz do que combater a corrupção também com dinheiro, através da delação premiada. É a lógica do veneno contra veneno.

O governo brasileiro pretende, através de uma estratégia muito mais tacanha e inferior, reduzir a corrupção promovida por empresas transnacionais em relação aos políticos, prevendo pesadas multas através de um projeto de lei que ainda aguarda apreciação.

Porém, até o momento não se falou em replicar o modelo norte-americano de criação de fundo público para fomento da delação premiada nos casos de corrupção.

Mas se a corrupção é endêmica, repulsiva e causa tanto prejuízo ao Brasil (US$ 10 bilhões ao ano), por que não fomentar a delação premiada em nosso País?

Absorvemos dos norte-americanos, tantos hábitos alimentares e culturais pouco recomendáveis. Por que não replicar a ideia da Lei Dodd-Frank?

Nesta hipótese, Municípios, Estados, DF e União Federal poderiam criar seus próprios fundos para incentivar cidadãos detentores de informações conclusivas e provas a entregar tais subsídios ao Ministério Público, a fim de que as medidas repressivas à corrupção pudessem ser tomadas.

Utopia? Sim, ainda estamos num estágio primitivo de padrão de cidadania, moral e costumes, em que a corrupção dos poderes públicos soa quase como algo normal, algo que faz parte ou até um mérito para aquele político que “rouba mas faz”.

Todavia, não podemos deixar de acreditar que chegará o tempo em que as pessoas se importarão mais com o próximo, com a coletividade e com o bem público, nem que tal cultura seja impulsionada inicialmente por instrumentos de “incentivo”, como a delação premiada.