18 de julho de 2012

O VÍCIO DA NEUTRALIDADE



















Não sou daqueles que recita passagens bíblicas para todas as ocasiões, mas há um trecho conhecido do Apocalipse de São João (3: 15,16), do qual frequentemente me recordo e que diz exatamente o seguinte: “Conheço as tuas ações, que não és nem frio nem quente. Quisera eu que fosses frio ou quente. Assim, porque és morno, e não és nem quente nem frio, vou vomitar-te da minha boca.”

Pois bem, foi-se o tempo em que a postura de neutralidade era admissível na vida política e social. Hoje, para receber a qualidade de “cidadão” é imprescindível participar, opinar, formar convicção e, quando possível, auxiliar na tomada de soluções para os problemas da comunidade e da sociedade em geral.

Ao que parece, o receio de desagradar ou criar alguma antipatia que possa influenciar negativamente nos interesses privados, freia a conduta daqueles que, por sua posição privilegiada, deveriam justamente colaborar ativamente em prol da sociedade em geral.

Nota-se com facilidade que o medo impera de forma insana, como se todos fossem viver para sempre carregando o peso de um patrimônio a ser protegido a qualquer custo.

Particularmente, prefiro ter em mente o conteúdo do belo discurso de Steve Jobs, que destacou a importância de relembrarmos da nossa mortalidade e de que já estamos nus. Não há motivo para não seguirmos nossos corações e, assim, manifestarmos nossas convicções e posicionamentos.

Nos momentos de crise moral, quando os valores humanos são subvertidos ou solapados, a omissão é sempre a pior conduta. Silenciar é favorecer quem age à margem da lei e arranha o interesse público. Fechar os olhos é aderir a um conforto que somente favorece interesses particulares. Precisamos, contudo, enxergar além de nossos próprios umbigos.

José Ingenieros com sua lucidez peculiar, já alertava no início do Século XX que em certos momentos “nenhum clamor popular é percebido, não ressoa o eco de grandes vozes animadoras. Todos se apinham em torno dos mantéis oficiais para alcançar alguma migalha da comida. É o clima da mediocridade.”

É bem verdade que a vida é feita de erros e acertos, porém é preferível assumir algum posicionamento do que se omitir em prejuízo de toda a sociedade. A omissão e a neutralidade da sociedade constituem postura conservadora que pertence a um passado inglório que muito mal causou ao Brasil e que, justamente por essa razão, merece ser revista.

3 comentários:

Luiz Félix disse...

Ótimo postagem! É óbvio que todos sempre possuem algo a dizer, porém o "medo insano", além de outros medos, calam as bocas daqueles que pretendem formar opiniões e combater a imposição posta pelos "coronéis" de sempre. A impressão que tenho é que muitos querem opinar, porém, não o fazem, pois temem a exposição ao ridículo por parte daqueles que já detém a atenção do público.

Darwinn Harnack disse...

Luiz, concordo com você. Porém, ridículo mesmo é passar a vida "sentado em uma cadeira, com a boca escancarada de dentes, esperando a morte chegar" (Raul Seixas).

Luiz Félix disse...

Verdade! Acho que de lá pra cá, mudaram apenas as cadeiras, com desenhos mais estilosos e modernos, pois os sujeitos que nelas sentam ainda são teleguiados!