Não sou daqueles que recita
passagens bíblicas para todas as ocasiões, mas há um trecho conhecido do
Apocalipse de São João (3: 15,16), do qual frequentemente me recordo e que diz
exatamente o seguinte: “Conheço as tuas ações, que não és nem frio nem quente.
Quisera eu que fosses frio ou quente. Assim, porque és morno, e não és nem
quente nem frio, vou vomitar-te da minha boca.”
Pois bem, foi-se o tempo em que a
postura de neutralidade era admissível na vida política e social. Hoje, para
receber a qualidade de “cidadão” é imprescindível participar, opinar, formar convicção
e, quando possível, auxiliar na tomada de soluções para os problemas da
comunidade e da sociedade em geral.
Ao que parece, o receio de desagradar
ou criar alguma antipatia que possa influenciar negativamente nos interesses
privados, freia a conduta daqueles que, por sua posição privilegiada, deveriam justamente
colaborar ativamente em prol da sociedade em geral.
Nota-se com facilidade que o medo
impera de forma insana, como se todos fossem viver para sempre carregando o peso
de um patrimônio a ser protegido a qualquer custo.
Particularmente, prefiro ter em
mente o conteúdo do belo discurso de Steve Jobs, que destacou a importância de
relembrarmos da nossa mortalidade e de que já estamos nus. Não há motivo para
não seguirmos nossos corações e, assim, manifestarmos nossas convicções e
posicionamentos.
Nos momentos de crise moral,
quando os valores humanos são subvertidos ou solapados, a omissão é sempre a
pior conduta. Silenciar é favorecer quem age à margem da lei e arranha o
interesse público. Fechar os olhos é aderir a um conforto que somente favorece
interesses particulares. Precisamos, contudo, enxergar além de nossos próprios umbigos.
José Ingenieros com sua lucidez
peculiar, já alertava no início do Século XX que em certos momentos “nenhum clamor popular é percebido, não
ressoa o eco de grandes vozes animadoras. Todos se apinham em torno dos mantéis
oficiais para alcançar alguma migalha da comida. É o clima da mediocridade.”
É bem verdade que a vida é feita
de erros e acertos, porém é preferível assumir algum posicionamento do que se omitir
em prejuízo de toda a sociedade. A omissão e a neutralidade da sociedade constituem
postura conservadora que pertence a um passado inglório que muito mal causou ao
Brasil e que, justamente por essa razão, merece ser revista.
3 comentários:
Ótimo postagem! É óbvio que todos sempre possuem algo a dizer, porém o "medo insano", além de outros medos, calam as bocas daqueles que pretendem formar opiniões e combater a imposição posta pelos "coronéis" de sempre. A impressão que tenho é que muitos querem opinar, porém, não o fazem, pois temem a exposição ao ridículo por parte daqueles que já detém a atenção do público.
Luiz, concordo com você. Porém, ridículo mesmo é passar a vida "sentado em uma cadeira, com a boca escancarada de dentes, esperando a morte chegar" (Raul Seixas).
Verdade! Acho que de lá pra cá, mudaram apenas as cadeiras, com desenhos mais estilosos e modernos, pois os sujeitos que nelas sentam ainda são teleguiados!
Postar um comentário