27 de junho de 2012

INVERSÃO DE PRIORIDADES

- O Dr. vai me desculpar, mas é que sou obrigado a fechar a delegacia quando vou ao banheiro, porque não tem mais ninguém aqui. Trabalho sozinho.

- Como assim? Você não tem uma secretária ou atendente, nenhum colega de trabalho?

- Que nada, aqui eu mesmo atendo os cidadãos, registro ocorrências, tomo depoimentos, faço os encaminhamentos e o que mais for necessário.

- Aliás, o Dr. tá vendo esse papel que estou usando para imprimir os boletins de ocorrência?

- Sim, por quê?

- Porque eu fui obrigado a comprar com dinheiro do meu bolso, caso contrário hoje não teria papel para atender a população. Falando em papel, também tive que comprar papel higiênico, pois também não tinha mais aqui na Delegacia.

Fecha aspas.

Já faz uma semana que tive essa conversa e até agora não consegui esquecer. Aqui não há ficção, estamos falando de uma realidade dura e cotidiana que demonstra o quadro pré-falimentar do Estado.

Aliás, a dificuldade financeira é tal que o Estado decretou um plano de corte de gastos com serviços terceirizados, aluguel de veículos, dentre outras despesas, mas que, aparentemente, não tem sido suficiente. Não é de hoje que o Estado tem se mostrado fraco e ineficiente perante as necessidades da população.

Uma ineficiência que se constata também no sistema penitenciário mal equipado, com falta de pessoal e que não atende a diversas disposições contidas na Lei de Execução Penal, especialmente a almejada reeducação do preso.

Uma ineficiência que se evidencia igualmente na educação, em que os professores precisam periodicamente entrar em greve para conseguir receber o mínimo necessário à sua subsistência, quase sempre sem atingir o objetivo.

Mas o que faz alguém que está em dificuldades financeiras? Quais providências toma aquele que não consegue pagar corretamente as suas contas e cumprir com os seus compromissos?

A resposta é fácil, deve diminuir despesas, evitar o luxo, o supérfluo e o desnecessário. Não é preciso consultar nenhum especialista ou guru para se atingir esta conclusão. Basta o bom senso.

Nesse sentido, cabe questionar: o Estado precisa manter a estrutura de nada menos do que 36 (trinta e seis) Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs)? A utilidade das SDRs vai muito além da fidelização de cabos eleitorais regionais? O Estado não consegue direcionar recursos e agilizar projetos sem as SDRs? Não será este um luxo dispensável e que geraria relevante economia aos cofres públicos?

Ainda sobre os excessos com dinheiro público escasso, vale relembrar o recente episódio no Show de Paul McCartney, no qual a Secretaria de Turismo do Estado pagou inaceitáveis R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais) a título de locação de 2 (dois) espaços para colocação de estandes de divulgação da SANTUR durante o show.

Ao que parece, na administração pública nem sempre uma reta é o caminho mais curto entre dois pontos. O surrealismo impera a ponto do mendigo poder comprar carro importado, comer caviar, viajar para o exterior e ainda emprestar dinheiro aos amigos.

21 de junho de 2012

ANIVERSÁRIO DE CRIANÇA




















Atualmente as festas infantis estão mais complexas e converteram-se em verdadeiros eventos sociais dos pais, parentes e amigos, contando com uma série de recursos, equipamentos e, logicamente, os custos relacionados a essas novas necessidades.

Não digo que seja uma novidade, mas os aniversários possuem temas definidos que agora orientam toda a decoração, inclusive louças (mesmo descartáveis), enfeites, lembranças e alimentos.

As mães cuidam dos filhos durante a festa, mas contam também com o auxílio de recreadores profissionais, os brinquedos e músicas são politicamente corretos, os fotógrafos acompanham cada passo das crianças, assim como os garçons acompanham os copos dos adultos.

Relembro que na época de minha infância os aniversários também eram comemorados, porém de modo muito mais amador e familiar.

Nos dias atuais a palavra-chave é: praticidade, ou seja, é muito mais prático pagar para que alguém forneça espaço, brinquedos, alimentação e decoração do que providenciar todos esses itens e depois ainda ter que limpar a sujeira, lavar a louça suja e desmontar a decoração.

Não tenho dúvida de que se trata de um caminho sem volta, pois é inegável que as festas profissionais partiram de uma boa ideia e têm suas virtudes, ainda mais numa época em que grande parte das famílias passou a viver em apartamentos.

Porém, talvez por mero romantismo salpicado de nostalgia, eu seja obrigado a confessar que gosto mais das festas domésticas, pequenas, familiares e íntimas.

Lembro-me da época em que os encontros promovidos nos aniversários privilegiavam o convívio das vovós com os netos e destes com alguns poucos coleguinhas de escola, quando também as tias faziam os salgados e doces, os primos brincavam de esconde-esconde sujando suas roupas de terra e suor e as meninas ficavam na sala com suas bonecas.

Mesmo durante as festas havia “bullying”, mas ninguém sabia que era errado ou imoral e sobrevivemos muito bem a tudo isso. Os pais eram condescendentes e as crianças geralmente se perdoavam.

E os presentes? Nas festas de hoje, os presentes são coletados por pessoas treinadas e estrategicamente posicionadas na entrada, mas antigamente os presentes eram entregues pelos convidados diretamente para as crianças, que abriam na frente de todos naquele mesmo momento, o que era sempre uma incerteza de reação, principalmente se fosse um par de meias ou uma cueca.

A par das diferenças trazidas pela evolução dos costumes sociais, o que importa mesmo é o calor humano e a sinceridade de sentimento entre as pessoas que se reúnem para celebrar o crescimento de seus filhos, parentes e amigos, pouco importando se numa pequena festa doméstica ou no bufê mais luxuoso da região.

15 de junho de 2012

CECÍLIA MEIRELES





















Os teus ouvidos estão enganados.
E os teus olhos.
E as tuas mãos.
E a tua boca anda mentindo
Enganada pelos teus sentidos.
Faze silêncio no teu corpo.

E escuta-te.
Há uma verdade silenciosa dentro de ti.
A verdade sem palavras.
Que procuras inutilmente,
Há tanto tempo (...)

(Trecho de "Cântico)

13 de junho de 2012

O ABSURDO DOS SONHOS


























Do ponto de vista etimológico, a palavra “absurdo” provém do latim absurdus, que indica aquilo que não se quer ou não se pode ouvir, ou seja, aquilo que não se toleraria sequer ouvir, por ser inacreditável, irracional ou impossível.

Mas qual o maior reino do absurdo? Talvez seja realmente o mundo dos sonhos e dos sonhadores, que não encontra limites, tampouco paralelos na realidade concreta e cotidiana.

Por mais racionais que sejamos, admitimos em sonho verdades impensáveis, como viver no topo de um prédio cercado por jacarés urbanos ou bater os braços como asas para levantar voo, debater política com um tigre e tantas outras possibilidades e histórias que cada um de nós já vivenciou e pode voltar a vivenciar a cada nova noite de sono.

O que para muitos pode soar como mera bobagem que deve ser simplesmente esquecida, foi objeto de estudo por pesquisadores respeitados e revolucionários como Sigmund Freud e Carl Gustav Jung.

No mundo das artes plásticas, as representações muitas vezes simbólicas que são trazidas nos sonhos, assumem importância de relevo a ponto de terem sido eternizadas por centenas de artistas em obras de alto valor econômico.

Marc Chagal, por exemplo, chegou a pintar um pássaro humanoide que comandava o picadeiro de um circo (O Prestidigitador, 1943).

Pode-se citar ainda Henri Rosseau, René Magritte, Paul Delvaux e tantos outros, nunca podendo se esquecida a figura peculiar de Salvador Dali, grande ícone do Surrealismo que tentou aproximar consciente e subconsciente de modo quase científico em telas ricas em símbolos recorrentes como muletas, rochas, relógios e nuvens.

Talvez o sonho seja apenas um meio de exteriorização de desejos reprimidos e impossíveis ou uma forma turva e embaralhada de funcionamento do cérebro, porém, pode também representar um modo de comunicação do subconsciente que, por sua vez utiliza um padrão diferente de linguagem daquele que fomos educados para interpretar. Alguém duvida?

7 de junho de 2012

CONTRATO DE NAMORO

Foi-se o tempo em que o pressuposto fundamental e inafastável de uma relação afetiva era a confiança recíproca. Agora existem os relacionamentos baseados na confiança, mas há também aqueles que são formalizados justamente a partir de característica oposta, ou seja, a da desconfiança.

Digo isso, porque são inúmeros os casos de pessoas que acreditavam estar apenas namorando, quando na verdade, mesmo sem saber, já haviam dado um passo a mais, o da união estável.

Ao contrário do que muita gente pensa, é possível sim existir união estável mesmo sem a coabitação, ou seja, sem que as pessoas estejam residindo sob o mesmo teto, o que deixou mais tênue, em alguns casos, a linha divisória que a separa do simples namoro.

Há quem defenda, inclusive, a figura intermediária do “namoro qualificado”, para distinguir o namoro sério da união estável.

A partir dessa insegurança jurídica, diversos escritórios de advocacia passaram a produzir o chamado “contrato de namoro”, no qual as partes contratantes declaram expressamente que não convivem com o objetivo de constituir família e que este será o seu posicionamento até que assinem outro documento desconstituindo o contrato de namoro.

Embora seja um mecanismo formal possível e um elemento de prova que pode vir a ser utilizado em uma discussão judicial sobre a natureza do relacionamento, entendo particularmente que não é porque estou denominando uma maçã de laranja, que ela se tornará uma laranja.

Além disso, poderia até existir um namoro no momento da firmatura do contrato que, meses ou anos depois converteu-se espontaneamente em união estável.

Em outras palavras, se for possível provar que uma relação afetiva é pública, duradoura e com objetivo de constituição de família, não será o contrato de namoro por si só, que descaracterizará a relação de união estável.

Por essas e outras, vale mais viver espontaneamente e enfrentar os possíveis problemas de relacionamento que surgirem, do que preocupar-se demasiadamente com formalismos que se sobreponham aos sentimentos ou que elevem a preocupação patrimonial acima das questões humanas.

3 de junho de 2012

1 de junho de 2012

REALIDADE?







































Às vezes tenho a impressão de que a realidade é uma certeza inatingível. E se isso for certo, nada mais é.