29 de junho de 2012
27 de junho de 2012
INVERSÃO DE PRIORIDADES
- O Dr. vai me desculpar, mas é
que sou obrigado a fechar a delegacia quando vou ao banheiro, porque não tem
mais ninguém aqui. Trabalho sozinho.
- Como assim? Você não tem uma
secretária ou atendente, nenhum colega de trabalho?
- Que nada, aqui eu mesmo atendo
os cidadãos, registro ocorrências, tomo depoimentos, faço os encaminhamentos e o
que mais for necessário.
- Aliás, o Dr. tá vendo esse
papel que estou usando para imprimir os boletins de ocorrência?
- Sim, por quê?
- Porque eu fui obrigado a
comprar com dinheiro do meu bolso, caso contrário hoje não teria papel para
atender a população. Falando em papel, também tive que comprar papel higiênico,
pois também não tinha mais aqui na Delegacia.
Fecha aspas.
Já faz uma semana que tive essa
conversa e até agora não consegui esquecer. Aqui não há ficção, estamos falando
de uma realidade dura e cotidiana que demonstra o quadro pré-falimentar do
Estado.
Aliás, a dificuldade financeira é
tal que o Estado decretou um plano de corte de gastos com serviços
terceirizados, aluguel de veículos, dentre outras despesas, mas que,
aparentemente, não tem sido suficiente. Não é de hoje que o Estado tem se
mostrado fraco e ineficiente perante as necessidades da população.
Uma ineficiência que se constata
também no sistema penitenciário mal equipado, com falta de pessoal e que não
atende a diversas disposições contidas na Lei de Execução Penal, especialmente
a almejada reeducação do preso.
Uma ineficiência que se evidencia
igualmente na educação, em que os professores precisam periodicamente entrar em
greve para conseguir receber o mínimo necessário à sua subsistência, quase
sempre sem atingir o objetivo.
Mas o que faz alguém que está em
dificuldades financeiras? Quais providências toma aquele que não consegue pagar
corretamente as suas contas e cumprir com os seus compromissos?
A resposta é fácil, deve diminuir
despesas, evitar o luxo, o supérfluo e o desnecessário. Não é preciso consultar
nenhum especialista ou guru para se atingir esta conclusão. Basta o bom senso.
Nesse sentido, cabe questionar: o
Estado precisa manter a estrutura de nada menos do que 36 (trinta e seis)
Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs)? A utilidade das SDRs vai muito
além da fidelização de cabos eleitorais regionais? O Estado não consegue
direcionar recursos e agilizar projetos sem as SDRs? Não será este um luxo
dispensável e que geraria relevante economia aos cofres públicos?
Ainda sobre os excessos com
dinheiro público escasso, vale relembrar o recente episódio no Show de Paul
McCartney, no qual a Secretaria de Turismo do Estado pagou inaceitáveis R$
800.000,00 (oitocentos mil reais) a título de locação de 2 (dois) espaços para
colocação de estandes de divulgação da SANTUR durante o show.
Ao que parece, na administração pública nem
sempre uma reta é o caminho mais curto entre dois pontos. O surrealismo impera
a ponto do mendigo poder comprar carro importado, comer caviar, viajar para o
exterior e ainda emprestar dinheiro aos amigos.
21 de junho de 2012
ANIVERSÁRIO DE CRIANÇA
Atualmente as festas infantis
estão mais complexas e converteram-se em verdadeiros eventos sociais dos pais,
parentes e amigos, contando com uma série de recursos, equipamentos e,
logicamente, os custos relacionados a essas novas necessidades.
Não digo que seja uma
novidade, mas os aniversários possuem temas definidos que agora orientam toda a
decoração, inclusive louças (mesmo descartáveis), enfeites, lembranças e
alimentos.
As mães cuidam dos
filhos durante a festa, mas contam também com o auxílio de recreadores
profissionais, os brinquedos e músicas são politicamente corretos, os
fotógrafos acompanham cada passo das crianças, assim como os garçons acompanham
os copos dos adultos.
Relembro
que na época de minha infância os aniversários também eram comemorados, porém
de modo muito mais amador e familiar.
Nos dias atuais a
palavra-chave é: praticidade, ou seja, é muito mais prático pagar para que
alguém forneça espaço, brinquedos, alimentação e decoração do que providenciar
todos esses itens e depois ainda ter que limpar a sujeira, lavar a louça suja e
desmontar a decoração.
Não tenho dúvida de que
se trata de um caminho sem volta, pois é inegável que as festas profissionais partiram
de uma boa ideia e têm suas virtudes, ainda mais numa época em que grande parte
das famílias passou a viver em apartamentos.
Porém, talvez por mero
romantismo salpicado de nostalgia, eu seja obrigado a confessar que gosto mais
das festas domésticas, pequenas, familiares e íntimas.
Lembro-me da época em
que os encontros promovidos nos aniversários privilegiavam o convívio das vovós
com os netos e destes com alguns poucos coleguinhas de escola, quando também as
tias faziam os salgados e doces, os primos brincavam de esconde-esconde sujando
suas roupas de terra e suor e as meninas ficavam na sala com suas bonecas.
Mesmo durante as festas
havia “bullying”, mas ninguém sabia que era errado ou imoral e sobrevivemos
muito bem a tudo isso. Os pais eram condescendentes e as crianças geralmente se
perdoavam.
E os presentes? Nas
festas de hoje, os presentes são coletados por pessoas treinadas e
estrategicamente posicionadas na entrada, mas antigamente os presentes eram
entregues pelos convidados diretamente para as crianças, que abriam na frente de
todos naquele mesmo momento, o que era sempre uma incerteza de reação,
principalmente se fosse um par de meias ou uma cueca.
A par das diferenças
trazidas pela evolução dos costumes sociais, o que importa mesmo é o calor
humano e a sinceridade de sentimento entre as pessoas que se reúnem para
celebrar o crescimento de seus filhos, parentes e amigos, pouco importando se
numa pequena festa doméstica ou no bufê mais luxuoso da região.
15 de junho de 2012
CECÍLIA MEIRELES
E os teus olhos.
E as tuas mãos.
E a tua boca anda mentindo
Enganada pelos teus sentidos.
Faze silêncio no teu corpo.
E escuta-te.
Há uma verdade silenciosa dentro de ti.
A verdade sem palavras.
Que procuras inutilmente,
Há tanto tempo (...)
(Trecho de "Cântico)
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14 de junho de 2012
13 de junho de 2012
O ABSURDO DOS SONHOS
Do ponto de vista
etimológico, a palavra “absurdo” provém do latim absurdus, que indica aquilo que não se quer ou não se pode ouvir,
ou seja, aquilo que não se toleraria sequer ouvir, por ser inacreditável,
irracional ou impossível.
Mas qual o maior reino
do absurdo? Talvez seja realmente o mundo dos sonhos e dos sonhadores, que não
encontra limites, tampouco paralelos na realidade concreta e cotidiana.
Por mais racionais que
sejamos, admitimos em sonho verdades impensáveis, como viver no topo de um
prédio cercado por jacarés urbanos ou bater os braços como asas para levantar
voo, debater política com um tigre e tantas outras possibilidades e histórias que
cada um de nós já vivenciou e pode voltar a vivenciar a cada nova noite de
sono.
O que para muitos pode
soar como mera bobagem que deve ser simplesmente esquecida, foi objeto de
estudo por pesquisadores respeitados e revolucionários como Sigmund Freud e
Carl Gustav Jung.
No mundo das artes plásticas,
as representações muitas vezes simbólicas que são trazidas nos sonhos, assumem
importância de relevo a ponto de terem sido eternizadas por centenas de
artistas em obras de alto valor econômico.
Marc Chagal, por
exemplo, chegou a pintar um pássaro humanoide que comandava o picadeiro de um
circo (O Prestidigitador, 1943).
Pode-se citar ainda
Henri Rosseau, René Magritte, Paul Delvaux e tantos outros, nunca podendo se
esquecida a figura peculiar de Salvador Dali, grande ícone do Surrealismo que
tentou aproximar consciente e subconsciente de modo quase científico em telas
ricas em símbolos recorrentes como muletas, rochas, relógios e nuvens.
Talvez o sonho seja
apenas um meio de exteriorização de desejos reprimidos e impossíveis ou uma
forma turva e embaralhada de funcionamento do cérebro, porém, pode também
representar um modo de comunicação do subconsciente que, por sua vez utiliza um
padrão diferente de linguagem daquele que fomos educados para interpretar.
Alguém duvida?
7 de junho de 2012
CONTRATO DE NAMORO
Foi-se o tempo em que o pressuposto fundamental e inafastável
de uma relação afetiva era a confiança recíproca. Agora existem os
relacionamentos baseados na confiança, mas há também aqueles que são
formalizados justamente a partir de característica oposta, ou seja, a da desconfiança.
Digo isso, porque são inúmeros os casos de pessoas que acreditavam
estar apenas namorando, quando na verdade, mesmo sem saber, já haviam dado um
passo a mais, o da união estável.
Ao contrário do que muita gente pensa, é possível sim existir
união estável mesmo sem a coabitação, ou seja, sem que as pessoas estejam
residindo sob o mesmo teto, o que deixou mais tênue, em alguns casos, a linha
divisória que a separa do simples namoro.
Há quem defenda, inclusive, a figura intermediária do “namoro
qualificado”, para distinguir o namoro sério da união estável.
A partir dessa insegurança jurídica, diversos escritórios de
advocacia passaram a produzir o chamado “contrato de namoro”, no qual as
partes contratantes declaram expressamente que não convivem com o objetivo de
constituir família e que este será o seu posicionamento até que assinem outro
documento desconstituindo o contrato de namoro.
Embora seja um mecanismo formal possível e um elemento de
prova que pode vir a ser utilizado em uma discussão judicial sobre a natureza
do relacionamento, entendo particularmente que não é porque estou denominando
uma maçã de laranja, que ela se tornará uma laranja.
Além disso, poderia até existir um namoro no momento da firmatura
do contrato que, meses ou anos depois converteu-se espontaneamente em união
estável.
Em outras palavras, se for possível provar que uma relação
afetiva é pública, duradoura e com objetivo de constituição de família, não
será o contrato de namoro por si só, que descaracterizará a relação de união
estável.
Por essas e outras, vale mais viver espontaneamente e
enfrentar os possíveis problemas de relacionamento que surgirem, do que
preocupar-se demasiadamente com formalismos que se sobreponham aos sentimentos
ou que elevem a preocupação patrimonial acima das questões humanas.
3 de junho de 2012
1 de junho de 2012
REALIDADE?
Às vezes tenho a impressão de que a realidade é uma certeza inatingível. E se isso for certo, nada mais é.
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