5 de maio de 2012

ACRIANÇAMENTO

Concordo com o Rubem Alves quando ele diz que, em vez de entender a criança como um ser limitado, que precisa ser educado e instruído, deveríamos vê-la também como um estado existencial precioso e que poderia ser resgatado pelo homem dito “adulto” sempre que sentir-se esgotado ou desanimado com a realidade.

Esse retorno à essência de criança não significa uma infantilização, mas sim um desejo de voltar a sentir-se igual aos demais, de despojar-se dos preconceitos, rotulações e etiquetas ilusórias impostas pela (contra-)cultura contemporânea.

Nietzsche foi um filósofo-criança e mantém a sua atualidade, justamente por ter assumido essa postura essencial. Na sua multicitada obra “Assim Falou Zaratustra”, ele demonstra que também se fazia criança para pensar:

“Mudei-me da casa dos eruditos e bati a porta ao sair. Por muito tempo a minha alma assentou-se faminta à sua mesa. Não sou como eles, treinados a buscar o conhecimento como especialistas em rachar fios de cabelo ao meio. Amo a liberdade. Amo o ar sobre a terra fresca. É melhor dormir em meio às vacas que em meio às suas etiquetas e respeitabilidades.”

Mas o acriançamento é também a vontade de reencontrar-se com o novo, com os sabores mágicos, os lugares fantásticos, as pessoas gigantes, os cheiros intrigantes e as pessoas interessantes, pois é assim que a criança vê o mundo.

É o propósito de livrar-se da preocupação, da culpa, da pressa e da pressão do tempo, do trabalho e da família. É a visualização do mundo pelos olhos do poeta, de quem redescobre ou reinventa um animal, uma palavra ou um objeto.

É questionar os motivos e as razões de cada coisa, é filosofar pela raiz, é ver o mundo de ponta-cabeça ou como em um negativo de fotografia.

É buscar o encantamento com as coisas simples da vida e o contentamento fácil com um olhar amigo, um sorriso, um abraço ou uma lembrança.

É a ideia de redesenhar uma vida que se acinzenta diante das dificuldades que nós mesmos nos impomos uns aos outros, de renovar a respiração pesada do ar tragado com dificuldade, de erguer o rosto diante das adversidades e de relaxar o semblante carregado.

Quem sabe a infância não seja apenas parte do passado, mas sim de um futuro que está atrás de nós, que nos integra e que pode vir a fazer parte do que ainda poderá vir a ocorrer.

Um comentário:

Anônimo disse...

Uma vez falei a uma certa pessoa que achava difícil educar filhos em tenra idade, pois lhes falta muito bom senso. Esta pessoa me respondeu: "aí é que te enganas. É a elas que sobra bom senso..." Não diria exatamente que lhes sobra bom senso, mas sabedoria, esta sim. Queria eu ter a sabedoria da minha filha (e de todas as crianças) ao resolver seus conflitos, seus desentendimentos, suas frustrações... queria eu ter a sabedoria da minha filha para demonstrar sua felicidade... acompanhar a vida de uma criança é o que há de mais engrandecedor e importante na vida! Descobri isto após ser mãe. Cris D. V.