Concordo com o Rubem Alves quando
ele diz que, em vez de entender a criança como um ser limitado, que precisa ser
educado e instruído, deveríamos vê-la também como um estado existencial
precioso e que poderia ser resgatado pelo homem dito “adulto” sempre que
sentir-se esgotado ou desanimado com a realidade.
Esse retorno à essência de
criança não significa uma infantilização, mas sim um desejo de voltar a
sentir-se igual aos demais, de despojar-se dos preconceitos, rotulações e
etiquetas ilusórias impostas pela (contra-)cultura contemporânea.
Nietzsche foi um filósofo-criança
e mantém a sua atualidade, justamente por ter assumido essa postura essencial. Na
sua multicitada obra “Assim Falou Zaratustra”, ele demonstra que também se
fazia criança para pensar:
“Mudei-me da casa dos eruditos e bati a porta ao sair. Por muito tempo
a minha alma assentou-se faminta à sua mesa. Não sou como eles, treinados a
buscar o conhecimento como especialistas em rachar fios de cabelo ao meio. Amo
a liberdade. Amo o ar sobre a terra fresca. É melhor dormir em meio às vacas
que em meio às suas etiquetas e respeitabilidades.”
Mas o acriançamento é também a
vontade de reencontrar-se com o novo, com os sabores mágicos, os lugares
fantásticos, as pessoas gigantes, os cheiros intrigantes e as pessoas
interessantes, pois é assim que a criança vê o mundo.
É o propósito de livrar-se da
preocupação, da culpa, da pressa e da pressão do tempo, do trabalho e da
família. É a visualização do mundo pelos olhos do poeta, de quem redescobre ou
reinventa um animal, uma palavra ou um objeto.
É questionar os motivos e as
razões de cada coisa, é filosofar pela raiz, é ver o mundo de ponta-cabeça ou
como em um negativo de fotografia.
É buscar o encantamento com as
coisas simples da vida e o contentamento fácil com um olhar amigo, um sorriso,
um abraço ou uma lembrança.
É a ideia de redesenhar uma vida
que se acinzenta diante das dificuldades que nós mesmos nos impomos uns aos
outros, de renovar a respiração pesada do ar tragado com dificuldade, de erguer
o rosto diante das adversidades e de relaxar o semblante carregado.
Quem sabe a infância não seja
apenas parte do passado, mas sim de um futuro que está atrás de nós, que nos
integra e que pode vir a fazer parte do que ainda poderá vir a ocorrer.
Um comentário:
Uma vez falei a uma certa pessoa que achava difícil educar filhos em tenra idade, pois lhes falta muito bom senso. Esta pessoa me respondeu: "aí é que te enganas. É a elas que sobra bom senso..." Não diria exatamente que lhes sobra bom senso, mas sabedoria, esta sim. Queria eu ter a sabedoria da minha filha (e de todas as crianças) ao resolver seus conflitos, seus desentendimentos, suas frustrações... queria eu ter a sabedoria da minha filha para demonstrar sua felicidade... acompanhar a vida de uma criança é o que há de mais engrandecedor e importante na vida! Descobri isto após ser mãe. Cris D. V.
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