As festividades de Carnaval, embora tivessem outra denominação, tiveram origem em cultos gregos aos deuses da fertilidade, realizados a partir de alguma data próxima do século VI A.C.
Há autores que sustentam a origem do Carnaval a patir do Entrudo português, festa na qual pessoas jogavam farinha, ovos e água, umas nas outras pelas ruas da cidade. Porém, ao que tudo indica o Entrudo teve origem em festividades gregas, daí porque a origem comum.
Somente em 590 D.C. a Igreja Católica absorveu a festa em seu calendário e passou a utilizar a denominação “Carnaval”, tendo em vista a suspensão do consumo de carne (carne valle) durante o período que se seguia, qual seja, a Quaresma.
Porém, a verdade é que esse tipo de festividade de transgressão faz parte do gênero humano. Ao que tudo indica, para que a vida social prossiga de forma salutar é necessário um curto período de transgressão controlada (ou nem tanto) dos costumes.Seria um retorno ao estado de liberdade próprio da era da barbárie.
Voltando à Igreja Católica, vale relembrar que esta manteve durante muito tempo nas festividades de ano novo a Festa dos Loucos (Festum Fatuorum), na qual membros do clero bebiam dentro da igreja, zombavam de orações, parodiavam evangelhos e faziam diversas transgressões dos costumes, o que seria inaceitável em qualquer outra época do ano.
Segundo o filósofo Alain de Botton, no ano de 1445 a Faculdade de Teologia de Paris explicou aos bispos franceses que a Festa dos Loucos era um evento necessário no calendário cristão, “para que a insensatez que é nossa segunda natureza, e inerente ao homem, possa se dissipar livremente pelo menos uma vez ao ano. Barris de vinho estouram de tempos em tempos se não os abrimos para entrar um pouco de ar. Todos nós, somos barris reunidos inadequadamente, e é por isso que permitimos a tolice em certos dias: para que, no fim, possamos regressar com maior fervor ao serviço de Deus.”
Os romanos antigos tinham os festivais da Saturnália, nos quais praticavam jogos proibidos nas ruas públicas, faziam toda a sorte de brincadeiras e invertiam papeis sociais, sendo que os escravos vestiam-se com roupas de seus senhores e podiam participar juntamente nas refeições. Há quem diga que a inversão chegava ao ponto de os senhores comportarem-se como escravos de seus escravos, tudo pela sátira, pelo humor, pela transgressão.
Da mesma forma, os norte-americanos comemoram a transgressão de costumes com o seu Mardi Gras e outros povos com festas congêneres ainda em voga.
Talvez a forma mais saudável de viver inclua realmente períodos curtos de inobservância das regras sociais, da pequena ética (etiqueta) e também do “politicamente correto”. Talvez, o ser humano seja mais complexo do que se imagina e precise, uma vez ou outra, sentir-se livre das pesadas correntes e cabrestos impostos pela vida em sociedade e, assim, considerar-se feliz.
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