Tempos atrás participei de uma conversa, cujo conteúdo gostaria de ter abandonado em uma caixa lacrada no meu imenso arquivo chamado passado. Não obtive êxito.
No meio da conversa, meus ouvidos ficaram aguçados quando escutei de uma mulher de aproximadamente quarenta anos, a seguinte preciosidade:
- “Eu só me dei conta há pouco tempo, sobre a responsabilidade que tenho de criar o hábito da leitura em meus filhos. Por isso, na semana passada, quando notei que os meninos estavam desocupados, chamei-os e disse: vamos ler, crianças! Então peguei a Revista Caras que tinha acabado de chegar, coloquei em cima da cama e começamos a ler. Foi ótimo para eles.”
Quase tive uma convulsão ao presenciar essa breve preleção sobre a relevância da Revista Caras para o aprimoramento cultural das novas gerações, mas notando que não adiantaria iniciar a defesa do meu ponto de vista, resolvi agir tal como respondem os personagens semanais da Revista, ou seja, com um sorriso mudo, fotográfico.
Ora, o paradoxo é claro. Não se lê esse tipo de material, no máximo é possível folhear ou olhar. Ah, sim! De fato há uma página de palavras cruzadas e um texto semanal de etimologia, mas não se engane, é apenas para dar uma impressão de nobreza.
Aliás, você lembra das Revistas em Quadrinhos da Turma da Mônica ou do Tio Patinhas? Pois bem, a Revistas Caras e suas congêneres não são nada mais do que quadrinhos para adultos. A diferença é que há mais conteúdo aproveitável nos quadrinhos da Turma da Mônica do que nesse tipo de semanário.
O que há nesse tipo de revista, senão um conjunto semanal de sorrisos rasgados, por vezes doloridos de tão rasgados. Alguns personagens exibem orgasmos faciais por estarem aparecendo nas colunas, outros se mostram constrangidos em abrir os seus lares para atender a vaidade do cônjuge, filho, filha ou netos.
E as chamadas das matérias são as mais inusitadas: “Joana mostra a sua nova silhueta depois do regime” ou “César e Marcinha iniciam vida nova em sua casa de campo”.
É interessante notar o traço símio na curiosidade humana. O que importa saber a respeito do nascimento do terceiro filho de um fazendeiro do interior de Minas? O que muda na vida do leitor, se ficou boa ou não a nova decoração do apartamento da socialite Cidinha Felpudo?
O leitor mais atento poderá dizer que estou sendo exigente demais, pois nem todas as revistas ou programas de televisão precisam ser culturais. Muito bem, é verdadeira essa afirmação, ainda mais quando pensamos em programas televisivos como os reality shows e as novelas, cuja função é exclusivamente a de entreter o público.
Porém, relembro as primeiras linhas desta crônica, ou seja, o que me impressionou é que alguém possa imaginar que esteja educando seus filhos com a leitura de Caras. Ora, não se trata de material educativo ou cultural. As crianças poderão aprender, no máximo, quais as marcas de roupas, carros e perfumes são as mais caras e famosas no momento.
Infelizmente o gosto por esse tipo de material retrata bem o gênero humano, que não conseguiu evoluir muito em sua essência. Ainda continuamos, em grande parte, sendo superficiais, materialistas, egocêntricos e fúteis.
Agora, se o leitor achou muito fortes as expressões que utilizei, sugiro que continue “lendo” os sorrisos de Caras.
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2 comentários:
Parabéns Darwinn...Hoje também ouvi um comentário que me chamou atenção...foi do Prates, onde ele disse " Será que todos os pais devem ser homenageados pelo seu dia se nem mesmo sabem dar a devida educação e exemplo aos seus filhos ?"
Abraço
Dário
É interessante como o ser humano quer que seus descendentes possam ser melhores do que os que o geraram... estou entre os milhões que lê revistas semanais e vê novelas e afins, mas luto incessantemente para que isto não seja a referência de minha filha... espero seu sono, para usufruir das minhas futilidades... no tempo dela, me dedico a algo melhor... afinal, os exemplos advindos de atitudes são sempre as maiores lições. Bacana, Darwinn, o hábito de escrever tem melhorado ainda mais a qualidade do que escreves...
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