Desde Akhenaton (Servo de Athon) no antigo Egito, o monoteísmo foi ganhando vulto. Diversas culturas politeístas foram, aos poucos, sendo solapadas pela crença em um único ente divino. Hoje, no mundo ocidental, prevalece a tese de que há apenas um deus, mas esse deus está, a cada dia, recebendo personalidades e faces diferentes, de acordo com o gosto pessoal de cada comunidade ou grupo social.
À guisa de exemplo, tem-se que milhões e milhões de pessoas comparecem aos templos do mundo ocidental para orar ao deus das religiões cristãs (Deus), porém, se perguntássemos a cada uma delas o que pensam a respeito do seu deus, teríamos certamente uma grande variedade de respostas e, consequentemente, uma enorme variedade de deuses.
Para certos fieis, Deus é um senhor idoso de barbas e vestes brancas, que fica sentado sobre as nuvens (hosana nas alturas!), olhando para a vida de cada pessoa, mantendo uma enorme contabilidade de pecados e bondades individuais (onisciência) para, ao final da existência terrena, sepultar eternamente os maus no inferno, manter os medianos no purgatório até que os pecados sejam remidos pelo sofrimento e, finalmente, remeter aos céus os virtuosos e imaculados (salvação).
O deus dos protestantes já odiou muito os humanos católicos. Já o deus dos católicos orientou os Santos Padres da Santa Inquisição, a matar milhares de pessoas nas fogueiras, confiscar e queimar livros e mais livros, matar animais hereges(?), dentre outras façanhas necessárias à manutenção da ordem celestial.
Para alguns, o que vale é o deus impiedoso e sisudo do Antigo Testamento (os tementes a Deus) e, para outros, aquele Deus do Antigo Testamento foi revogado pela nova personalidade do deus bonzinho do Novo Testamento.
E tem aqueles fieis que entendem Deus como um ser feito à imagem e semelhança de Sílvio Santos. Peça e lhe será concedido! Você quer um carro novo, ore a Deus e pague o dízimo! Você deseja uma casa própria, ore a Deus e pague o dízimo! Pagando em dia as parcelas do dízimo você concorre no final da vida a um show de prêmios! Seja um fiel dizimista e mantenha em dia seus débitos para com Deus! Dê uma semente das suas finanças, para receber em abundância! E se você duvidar é porque está chamando Deus de caloteiro!
Nesse ponto, faço uma reflexão: serão os shopping centers, os novos templos dedicados ao deus consumo? Ou será que as igrejas de hoje estão funcionando como shopping centers da fé? Creio que uma resposta afirmativa não anula a outra.
Prosseguindo, há também aqueles que veem Deus como um ser paciente que adora ouvir palavras repetidas mecanicamente à exaustão. Por isso, nunca é demais rezar duzentas ave-marias, trezentos pais-nossos e dá-lhe terços e mais terços (mesmo que enquanto isso esteja o fiel pensando na novela das oito). Afinal, é só dessa forma que os pecados podem ser perdoados. Sofrer, sofrer, sofrer, essa é a grande máxima. Sofra agora na Terra, para ter felicidade eterna no céu.
E os que acham que o seu deus é surdo? Choram alto, gritam, esperneiam, tudo para fazer Deus ouvi-los. Ora, se já foi ensinado que o Deus Cristão é onipotente, onisciente e onipresente, por que agredir os ouvidos alheios com ladainha lacrimosa?
Bom, apesar de toda essa variedade disponível, sou mais a simplicidade e sensibilidade da Emily Dickinson:
Alguns guardam o domingo indo à Igreja,
Eu o guardo ficando em casa,
Tendo um sabiá como cantor,
E um pomar por santuário.
Alguns guardam o domingo com vestes brancas,
Mas eu só uso minhas asas.
E ao invés do repicar dos sinos da igreja,
Nosso pássaro canta na palmeira.
É Deus que está pregando, pregador admirável,
E o seu sermão é sempre curto.
Assim, ao invés de chegar ao Céu só no final,
Eu o encontro o tempo todo no quintal.
Mas se você crê ou não crê, se o seu deus é cruel ou bondoso, simples ou vaidoso, surdo ou atento, paciente ou irritado, está tudo certo. Fazendo o bem, que mal tem?
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