4 de agosto de 2011

DEFORMERS























Você lembra daquele desenho animado, no qual robôs se transformam em carros e depois voltam a ser robôs. Pois é, o desenho fez tanto sucesso que chegou a ser convertido em longa metragem com direito a elenco estrelar.

Tenho notado que tal fenômeno não se restringe à ficção. No mundo real também podemos acompanhar certas transformações, são os “transformers” humanos. Particularmente, costumo chamá-los de “deformers”.

Sim, com o auxílio de profissionais que deveriam ter mais escrúpulos, pessoas estão alterando tanto a sua aparência, que chegam a perder a identidade. Em busca do milagre da juventude ou da obtenção de um padrão de beleza que não lhes foi proporcionado no nascimento, as mais radicais modificações físicas tem sido praticadas sem adequadas restrições.

Nada mais é natural no rosto de algumas pessoas. Os lábios que deveriam parecer da Angelina Jolie, acabam ficando tão inchados quanto balões de festa. O nariz, que deveria ser arrebitado, acaba causando afogamento em dias chuvosos. E por aí vai toda a sorte de procedimentos de mau gosto, como covinhas no queixo parecendo órgãos sexuais, bochechas saltadas como bolas de pingue-pongue, toxina botulínica em excesso, olhos esticados no estilo oriental e muito mais. O bolso e a falta de noção são os únicos limites.

Os primeiros procedimentos de cirurgia plástica foram relatados na Índia antiga, como forma de recuperação da cartilagem do nariz, que era raspada e parcialmente removida como pena para quem cometesse o crime de furto. As pessoas marcadas por tal penalidade buscavam auxílio de primitivos cirurgiões, para reconstituir sua aparência e escapar ao estigma de ladras.

Ainda hoje a cirurgia plástica tem a função primordial de recuperar deformidades físicas congênitas ou ocasionadas por traumas físicos severos, bem como recuperar, quando efetivamente aconselhável, a boa aparência.

Porém, o que observo com pesar é que se a novela de hoje tem uma atriz fazendo sucesso com um nariz diferente, logo vira objeto de desejo e de comércio. Os desejos são efêmeros e mutantes, as cirurgias sucessivas e os resultados, muitas vezes, lamentáveis.

Ainda dentro do conjunto das medidas lamentáveis para obter ou manter a beleza, fico contrariado ao saber de meninas ainda adolescentes fazendo implantes de silicone para aumentar os seios e atingir o padrão de estética determinado pela mídia. Mais triste ainda é saber que mamães e papais inconseqüentes, aplaudem de pé e financiam esse tipo de barbárie.

É o mesmo tipo de gente que finge não ver a filha vomitando no banheiro depois do almoço ou do jantar, ou ainda, que consegue os censuráveis moderadores de apetite para ver a filha com aparência socialmente desejável, conservando um peso que não é saudável à estrutura física proporcionada pela sua herança genética.

Ah! Vaidade humana! Se não é pelo nome é pela beleza, se não é pela beleza é pela riqueza e se não é pela riqueza é pelo nome. Ilusão maldita que acompanha o homem até no momento de sua despedida.

Aliás, Rimbaud disse certa vez que “uma noite sentei a beleza sobre os meus joelhos. E achei-a amarga. E insultei-a”. Acho que estou dando uma de Rimbaud hoje.

Mas a verdade é que de nada adianta preocupar-se tanto com o invólucro. Como já dizia Mário Quintana: “não importa que a tenham demolido, a gente continua morando na velha casa em que nasceu.”

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