Há um notável poema vietnamita que demonstra através de metáforas a existência do gérmen do bem e do mal na essência do humano. Em outras palavras, o potencial daquilo que definimos como sendo "bem e mal" está presente em tudo até porque não existe o bem sem o mal, o positivo sem o negativo, o preto sem o branco.
O outro é, portanto, nosso reflexo no espelho. A tolerância com o outro é o respeito por si mesmo.
É uma idéia semelhante à da antiga lenda Cherokee, na qual a criança relata ao chefe da tribo o seu sonho com dois lobos, um que fazia coisas negativas, ameaçadoras, ruins, e outro que tentava protegê-la e agia positivamente. Perguntado sobre qual lobo venceria a disputa, o chefe disse para a criança: - aí depende de qual lobo você vai alimentar.
Mas vamos ao poema vietnamita:
Eu sou a efemérida em metamorfose na superfície do rio,
e sou o pássaro que, quando chega a primavera,
retorna a tempo para devorar a efemérida.
Eu sou a râ a nadar feliz nas águas claras da lagoa,
e também a serpente que, aproximando-se em silêncio,
alimenta-se da râ.
Eu sou a criança de Uganda, pelo e ossos, nada mais,
as pernas finas como varas de bambu,
e sou o traficante que vende armas mortíferas a Uganda.
Eu sou a menina de doze anos, refugiada num pequeno barco,
que se atira no oceano depois de ser estuprada por um pirata,
e sou o pirata cujo coração é incapaz de ver e de amar.
Para que eu possa ouvir todos os meus gritos e todos os meus risos de uma só vez,
para que possa ver que a minha alegria e a minha dor são uma só.
Por favor, chamem-me pelos meus nomes verdadeiros,
para que eu possa despertar,
e para que assim permaneça aberta a porta do meu coração,
a porta da compaixão.
(Thich Nhat Hanh).
Obs. Efemérida é um inseto com vida muito curta (1 a 2 dias) e, justamente, por isso, seu nome deriva do vocábulo "efêmero".
Nenhum comentário:
Postar um comentário