25 de julho de 2012

SOBRE ADORNOS SOCIAIS



















Basta dar um passeio despretensioso pelas ruas da cidade ou circular por uma festa com os olhos atentos, para notar como as pessoas gostam de se enfeitar com colares, correntes, brincos, aneis, pulseiras, óculos, gargantilhas, piercings, alargadores, implantes e tatuagens.

O uso de adornos corpóreos faz parte da cultura-mundo, ou seja, trata-se de valor presente desde tempos imemoriais e nos mais remotos grupos sociais do globo. O que mudam são as espécies e técnicas de enfeites, mas todo grupamento humano os utiliza.

Na grande aldeia dos homens pós-modernos, existem enfeites (quase) despropositados, mas há outros que procuram transmitir uma mensagem expressa como é o caso de algumas tatuagens ou mesmo implícita, como é o caso das joias de alto valor econômico.

No caso das tatuagens, as variações são tantas quantas as personalidades existentes sobre a face da Terra. Vê-se desde frases do tipo “pára-choque de caminhão” até demonstrações de fé religiosa, protestos de revolta e ódio, juras de amor, idolatria, comerciais de marcas famosas, nome dos filhos, dos pais ou do namorado, imagens tribais, eróticas, caveiras, dragões, tigres, seres mitológicos e tudo mais que a imaginação pode proporcionar.

Por outro lado, em se tratando das joias de alto valor econômico, além do elemento estético, podem vir a ser utilizadas como mensagem de poder financeiro e também de pertencimento a determinado grupo ou classe social.

Essa espécie de mensagem implícita de diferença social também pode ser vista no ato de aquisição de bolsas femininas, automóveis, motocicletas de luxo e, claro, roupas.

Há quem não consiga sair de casa sem estar etiquetado, ou seja, com as logomarcas ou siglas de grifes estampadas no peito, na bolsa, nos pés e demais partes do corpo. Ao que parece, certas pessoas sentem-se inferiorizadas ou inseguras se não tiverem marcas que falem por elas ou as apresentem ao público em geral.

É como se preferissem ficar ocultos atrás dos escudos das marcas, com medo de rejeição de sua essência humana ou de permanecer no lugar-comum. Há um desejo narcisista de diferenciar-se, de superar a massa dos iguais, de receber atenção especial.

Nada contra o uso de grifes ou marcas que podem também representar a reconhecida qualidade de um produto. Porém, a dependência psicológica e inconsciente das marcas é que não se mostra saudável, principalmente em relação às crianças já educadas desde a mais tenra idade com a supremacia desse tipo de valor.

No livro “Darwin vai às compras”, o Professor de Psicologia Evolucionista Geoffrey Miller explica detalhadamente como as técnicas utilizadas pelo marketing seduzem batalhões de consumidores (muitas vezes iludidos) ávidos por serem socialmente bem aceitos e poderem atrair parceiros sexuais e amigos através da aquisição de determinados produtos ou serviços.

Não é por acaso que vemos a propaganda do desodorante masculino “Axe” que, ao ser utilizado, atrai mulheres rastejantes que surgem do nada, bem como a mensagem publicitária de que o Ford Fusion “é o carro para quem já chegou lá”. Trata-se de mecanismo que impulsiona a roda do consumo.

Contudo, um mínimo de lucidez, discernimento e consciência é aconselhável para viver de forma saudável em um ambiente inundado por mensagens publicitárias desde o momento em que acordamos até o que voltamos a dormir, a fim de se evitar a ideia distorcida de que o consumo desenfreado é o caminho para a felicidade.

18 de julho de 2012

O VÍCIO DA NEUTRALIDADE



















Não sou daqueles que recita passagens bíblicas para todas as ocasiões, mas há um trecho conhecido do Apocalipse de São João (3: 15,16), do qual frequentemente me recordo e que diz exatamente o seguinte: “Conheço as tuas ações, que não és nem frio nem quente. Quisera eu que fosses frio ou quente. Assim, porque és morno, e não és nem quente nem frio, vou vomitar-te da minha boca.”

Pois bem, foi-se o tempo em que a postura de neutralidade era admissível na vida política e social. Hoje, para receber a qualidade de “cidadão” é imprescindível participar, opinar, formar convicção e, quando possível, auxiliar na tomada de soluções para os problemas da comunidade e da sociedade em geral.

Ao que parece, o receio de desagradar ou criar alguma antipatia que possa influenciar negativamente nos interesses privados, freia a conduta daqueles que, por sua posição privilegiada, deveriam justamente colaborar ativamente em prol da sociedade em geral.

Nota-se com facilidade que o medo impera de forma insana, como se todos fossem viver para sempre carregando o peso de um patrimônio a ser protegido a qualquer custo.

Particularmente, prefiro ter em mente o conteúdo do belo discurso de Steve Jobs, que destacou a importância de relembrarmos da nossa mortalidade e de que já estamos nus. Não há motivo para não seguirmos nossos corações e, assim, manifestarmos nossas convicções e posicionamentos.

Nos momentos de crise moral, quando os valores humanos são subvertidos ou solapados, a omissão é sempre a pior conduta. Silenciar é favorecer quem age à margem da lei e arranha o interesse público. Fechar os olhos é aderir a um conforto que somente favorece interesses particulares. Precisamos, contudo, enxergar além de nossos próprios umbigos.

José Ingenieros com sua lucidez peculiar, já alertava no início do Século XX que em certos momentos “nenhum clamor popular é percebido, não ressoa o eco de grandes vozes animadoras. Todos se apinham em torno dos mantéis oficiais para alcançar alguma migalha da comida. É o clima da mediocridade.”

É bem verdade que a vida é feita de erros e acertos, porém é preferível assumir algum posicionamento do que se omitir em prejuízo de toda a sociedade. A omissão e a neutralidade da sociedade constituem postura conservadora que pertence a um passado inglório que muito mal causou ao Brasil e que, justamente por essa razão, merece ser revista.

11 de julho de 2012

MANIFESTO AOS ELEITORES

Quando expirou o prazo para o registro das candidaturas ao pleito municipal, pensei inicialmente em redigir um manifesto dirigido aos candidatos, pedindo uma campanha política fundada essencialmente na apresentação de propostas coerentes, sérias e honestas.

No entanto, logo depois percebi que os meus pedidos e sugestões devem ser direcionados a quem realmente detém poder neste momento, ou seja, o público eleitor, verdadeiro titular do poder em um Estado Democrático.
Portanto, em vez de dirigir-me aos mais de cento e sessenta candidatos a vereador e aos três candidatos a prefeito(a), falo aos eleitores.
Em primeiro lugar, é necessário ter a perfeita noção da responsabilidade de quem tem o direito-dever de votar, ou seja, de escolher quem representará o povo pelos próximos quatro anos.
 Não se pode mais ignorar a importância de um voto consciente, no sentido de que o eleitor conheça as propostas do candidato, sua vida pregressa, antecedentes de improbidade administrativa, qualificação profissional para a função e experiência administrativa.
Estudemos, pois, a vida daqueles que pretendem figurar como nossos representantes, evitando que novos “Tiriricas” atinjam o objetivo de exercer uma função para a qual não estão qualificados, não sabendo sequer exatamente a essência de suas atividades.
Não podemos ter vereadores que não saibam que além de legislar, devem também fiscalizar os atos do Poder Executivo ou, no mínimo, permitir que algum colega interessado o faça.
Aqueles que pretendem ser legisladores precisam, ao menos, ter condições de ler e interpretar um texto corretamente, entendendo seu alcance e profundidade. Devem conhecer o básico a respeito da função legislativa e propor ações coerentes com a função que pretendem desenvolver.
Já os candidatos a Prefeito devem ter conduta ilibada, experiência administrativa e uma qualificação profissional mínima para o exercício de tão importante função pública.
Portanto, salvo melhor juízo, não se pode prestigiar a candidatura de quem já foi acusado e condenado pela prática de improbidade administrativa, ou seja, de desonestidade com o uso de recursos públicos.
Se na vida privada todos merecem ter uma segunda chance em caso de falhas, tal não ocorre na vida pública. Quem atenta uma vez contra os postulados de moralidade e honestidade no trato com a coisa pública, merece ser condenado ao ostracismo para deixar outros interessados demonstrarem que é possível administrar os recursos públicos de forma honesta e eficiente.
Assim sendo, eleitores destinatários destas linhas, a preocupação com o bom uso do voto é necessária. De nada adiantam as queixas emitidas contra os titulares de cargos públicos, se quem tem o poder de eliminar pretendentes indesejáveis não toma as medidas necessárias no momento certo.

4 de julho de 2012

NEM SEMPRE O CLIENTE TEM RAZÃO



Em um país no qual vereadores sem qualificação profissional ganham mais de sete mil reais mensais, enquanto professores pós-graduados recebem salários de novecentos e bem poucos reais, não se pode esperar que a educação esteja bem.

Porém, a crônica desta semana não tratará do problema da falta de valorização do professor no ensino público, mas sim do cuidado que deve ser tomado para que o ensino privado não seja desvirtuado.

Apesar de lecionar há mais de uma década em uma instituição de ensino superior que valoriza o professor e lhe concede todos os meios necessários para desenvolver o melhor trabalho possível, tenho observado fatos abomináveis ocorridos em outras academias.

Não há dúvida de que o ensino privado auxiliou valorosamente na democratização do acesso à informação e ao conhecimento, tendo disseminado unidades de ensino em locais que o Estado não conseguia atingir.

É através da educação de qualidade (pública ou privada), que cidadãos transformam suas vidas e melhoram a qualidade da vida de suas comunidades e da sociedade de modo geral.

Todavia, o que nem todos percebem é que a natureza do ensino privado é de um serviço “sui generis” posto à disposição do consumidor. É uma atividade na qual o cliente muitas vezes não tem razão alguma, pelo contrário, falta-lhe determinado conhecimento e, justamente por isso, está pagando para obter instrução que lhe permita acertar mais e melhorar como ser humano e profissional.

Justamente por essa razão, quando se replica indevidamente na relação professor-aluno, a lógica de que “o cliente sempre tem razão”, a conduta do professor fica cerceada e os resultados são desastrosos, tanto na formação do caráter do aluno-cliente, quanto no resultado final de sua formação profissional.

Assim sendo, quando o professor não pode avaliar livremente o aluno, não há verdadeira relação de ensino. Quando o professor é impedido de chamar a atenção do aluno que pratica o plágio nos seus trabalhos, não há verdadeira relação de ensino. Quando o professor não pode interromper um aluno que está colando, não há verdadeira relação de ensino. Quando o aluno sente-se no direito de levantar da sua carteira para agredir o professor é porque ruíram os valores que deveriam orientar a relação de ensino.

Não se pode permitir que o pacto da mediocridade domine a educação formal, ou seja, o professor não pode fingir que ensina enquanto o aluno finge que aprende. Há um relevante papel social a ser cumprido pelo professor, que deve receber autonomia para tal desiderato. Da mesma forma o aluno deve receber com postura ativa o método e o conteúdo propostos para o seu desenvolvimento.

Turmas de acadêmicos não são “fornadas”,tampouco produtos finais de um pacote ofertado ao público em geral, mas sim grupos de pessoas que devem passar por um efetivo processo de aprimoramento humanístico e técnico-científico.

Não existem atalhos fáceis. Somente com educação de verdade será possível descortinar um futuro com maior igualdade, respeito, fraternidade e liberdade para todos.