No cotidiano são constantes as apresentações nas relações interpessoais, sejam físicas, telefônicas ou virtuais por e-mail, blog, twitter, facebook e outras ferramentas de relacionamento.
Nesses momentos, particularmente, não gosto de apresentações rotuladoras, que são as mais comuns. Tenho esse direito. Não gosto de rotular os outros e, por isso, não gosto de ser rotulado.
Nunca vou me esquecer da apresentação pessoal que, estarrecido, fui obrigado a presenciar. Sem mentiras ou exageros, ouvi as seguintes palavras: “- Muito prazer, meu nome é Fulano de Tal, sou advogado, tenho uma imobiliária e um Audi A6”.
Como assim? Quem perguntou o que você tem, cara pálida? Então você é o que você tem? Por si mesmo não é nada? Com uma apresentação dessas, fica a impressão de se estar conhecendo um patrimônio e não uma pessoa.
Com essa falta de tolerância já surpreendi telefonistas de empresas naquele diálogo inicial de apresentação:
- FSJ Equipamentos, bom dia!
- Alô, eu gostaria de falar com o Sr. Marcos.
- Quem fala?
- É o Darwinn.
- Darwinn de onde?
- Da minha casa.
- O Sr. é de qual empresa?
- Não moça, eu sou o Darwinn e quero falar com o Sr. Marcos, podes passar a ligação por favor?
- Certo Sr., um minuto…
Ora, quer dizer agora que tenho que ser “de alguém”? Meu nome já não é mais suficiente para me apresentar? Quantos “Darwinns” será que eles atendem por dia, mês ou ano?
Na internet a apresentação passa, necessariamente pelo conceito de perfil e, geralmente decorre de uma resposta à seguinte questão: “Quem sou eu?”
No momento de responder a essa pergunta, pouca gente pára e reflete sobre a profundidade da questão que está por trás da descrição do seu perfil pessoal. As respostas mais comuns são algo como o perfil do narcisista: “Sou divertido, loiro, alto, gosto de malhar e de conhecer pessoas novas.”
Há também aquela apresentação de estilo Poliana: “Sou extrovertida, simpática, gosto do meu trabalho e dos meus amigos”. Ao intitular-se “simpática” já perdeu, pelo menos, três pontos.
E o que dizer dos perfis curriculares encaixotados: “Sou matemático, fiz pós em trigonometria na UNESP, gosto de jogar xadrez e da série The Big Bang Theory”.
Mas pense um pouco no título dessa crônica: “Quem é você?” Será que consegue responder com certeza ao se abstrair de seus papeis sociais?
Será que somos a nossa profissão ou classe social? Será que somos a cor dos nossos olhos ou do nosso cabelo? Será que somos o sorriso solto ou a cara amarrada?
Particularmente prefiro o caminho inverso, o da exclusão, ou seja, o de responder aquilo que sei que não sou. Talvez por exclusão se atinja um resultado mais exato. Por exemplo: eu sei que não sou a minha profissão, sei que não sou a cor dos meus olhos ou cabelos, tampouco meu humor ou classe social.
Fisicamente, por telefone ou via internet continuaremos diariamente a nos apresentar, dizendo uns aos outros o que achamos que somos, uns despreocupados, outros, torcendo para serem bem aceitos, uns querendo se vender para o mundo, outros desejando doar-se, uns querendo entrar e outros, sair.
4 comentários:
Muito bom!!!
Muito bom mesmo, Darwinn... Rubem Alves já escreveu sobre isto e se pergunta o que seremos então quando nos aposentarmos? nada?? e então do que valeu a vida? Concordo muito que devemos caminhar no caminho oposto a tantos rótulos...
Beijão,
Cris.
Gostei Darwinn ! Eu sou o Zeca...
Um advogado, amigo comum, citou eu guardei e utilizo: "Prefiro ter histórias para contar do que coisas para mostrar"
Abraço
J.A.K
Os antigos já diziam: "Visita interiora terrae, retificando invenies ocultum lapidem". Está faltando esse exame interior, esse retorno a si mesmo, como forma de relembrar a essência. No corre, corre cotidiano as prioridades foram invertidas...
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