Há tempos que as empresas contratam desportistas, artistas, navegadores e celebridades em geral para, volta e meia, proferirem palestras motivacionais aos seus empregados, principalmente da área de vendas.
O objetivo desse investimento é que tais ícones sociais falem de suas histórias de (relativo) sucesso e revigorem o estado de ânimo dos empregados, com vistas a incrementar o desempenho de determinados setores da empresa ou desta como um todo.
Assim sendo, geralmente no momento final da convenção empresarial, surge o navegador falando aos empregados do escritório que a vontade em vencer desafios é que o tornou bem sucedido; pode aparecer também a profissional do basquete falando que a virtude da persistência em atingir as metas do seu time é que lhe conduziu ao sonho olímpico; e até a ilustre ex-anônima sorteada (ou indicada por seus dotes físicos) para participar do BBB ganha dinheiro para falar da importância de serem traçadas estratégias vencedoras para faturar o grande prêmio da vida real.
Porém, antes de os empregados estarem motivados para cumprir as metas propostas, penso que eles, precisam ser vistos como seres humanos e, a partir disso, incentivados a buscar razões para viver e viver bem.
Para isso é necessário primeiro procurar respostas para aquelas questões Titânicas: você tem fome de que? Você tem sede de que?
Por muito tempo, a religião cumpriu com esse papel. As hordas de fieis acreditavam piamente nas promessas de vida eterna no paraíso, o que aplacava sofrimentos, anestesiava os ânimos e justificava as desigualdades da vida na Terra (repetia-se que era mais fácil um camelo passar por um buraco de agulha do que um rico entrar no reino dos céus).
Entretanto, depois da emblemática morte de Deus anunciada por Nietzshe, esse estado de coisas (e principalmente de ideias), tem passado por profundas mudanças. A sociedade vem depositando e concentrando as suas esperanças no indivíduo corpóreo e material. Aos poucos, o senso de unidade (comum unidade – comunidade) foi sendo também dissipado e transferido para a figura do indivíduo, único responsável por sucessos ou fracassos.
Nesse cenário é que o indivíduo passa a se perguntar: trabalhar com afinco, objetivar a perfeição, cumprir metas extenuantes, para que? O que o espera na velhice ou na morte? Vale a pena o risco do fracasso? Será ele mais um a engordar as grossas fileiras de excluídos do padrão de sucesso? E sucesso até quando? Existe permanência no atual cenário líquido e mutante?
Na realidade, a palavra-chave da motivação sempre será “acreditar”. O ser humano, para sentir-se motivado precisa, antes de tudo, acreditar em algo, em uma ideia, em uma proposta ou ideologia. É justamente por essa razão que as religiões funcionaram eficazmente durante muito tempo e, em alguma medida, ainda funcionam.
Essa aspiração essencialmente humana de crer, de procurar uma causa para viver foi bem ilustrada pela Legião Urbana na canção Índios:
Quem me dera ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.
É por isso que acho engraçadas essas palestras motivacionais proferidas por ex-participantes de reality shows e outros magos do sucesso instantâneo. Na verdade, reputo-as como investimentos de retorno duvidoso.
Como disse acima, o ser humano precisa de uma verdade para acreditar, de uma convicção para defender, de um ideal para cultivar. É daí que surge a verdadeira motivação.
Não é por acaso que José Ingenieros iniciou o seu clássico O Homem Medíocre, com as seguintes palavras: “Quando você dirige a proa visionária para uma estrela e estende a asa para tal excelsitude inalcançável, no afã da perfeição e rebelado contra a mediocridade, leva com você a mola de um ideal.”
O que vale, portanto, é identificar a mola propulsora do homem (a verdade a ser acreditada) em direção ao melhor, ao perfeito e às virtudes desejadas, o que não se consegue com palestras de fim de convenção, e sim, através de um trabalho contínuo de aproximação e relacionamento com as pessoas, apresentação de objetivos claros, justos e coerentes da organização, bem como com a demonstração de que através da consecução de tais objetivos será possível a satisfação, ao menos em parte, das aspirações pessoais de quem estiver envolvido.