Quem ainda não ouviu falar no grande “evento” de fim do mundo programado para o final de 1999 e, depois, para a virada entre os anos 2000 e 2001? Teve até um grupo inteiro de uma seita que se suicidou (isso que é ansiedade) para não ter que passar pelo sofrimento do fim do mundo.
Lembro-me que, na época, assisti ao vídeo em que uma religiosa aconselhava as pessoas a manter as portas e janelas lacradas, fazer estoque de alimentos, imposição de mãos para magnetizar a água (?) e demais providências para aumentar a sobrevida durante o apocalipse.
Ora, se fosse realmente para acabar o mundo de que adiantaria fazer estoque de alimentos? Melhor seria sentar num barranco na beira de um rio e esperar o show de fogos.
Mas o milênio virou e, para a desgraça de muitos, a vida no planeta continuou. Religiões, seitas, profetas, adivinhos e outros esclarecidos tiveram que fazer mudanças, afinal, previsão de fim do mundo que se preze muda de data!
Sim, porque depois daquele fim do mundo frustrado, a onda agora é outra, muito mais sofisticada. O lance é que estávamos nos baseando no calendário errado, entendeu? Também, como é que poderia se esperar algo do calendário Gregoriano?
Certo mesmo é o calendário dos Maias! Esse é muito mais legal, dividido em duas contagens de ciclos e, para demonstrar o fim do grande ciclo temos que levar em conta a chamada contagem longa. Pois bem, essa tal contagem longa não tem previsão de recomeço. Ora, se não há previsão de novo ciclo, então a única conclusão plausível é que se trata do fim do mundo, certo?
Simples, claro e indiscutível, não?
Assim sendo, nos últimos anos, milhares ou milhões pelo mundo se impressionaram com a chamada “Profecia Maia” que, aliás, de profecia não tem nada. Trata-se de um equívoco hermenêutico que está sendo capitalizado por alguns e comprado por uma multidão de ingênuos assustados.
Por conta disso, temos que ficar aguentando os meios de comunicação explorando, torcendo e distorcendo o tema à exaustão, para atrair audiência e vender comerciais.
Pessoalmente, não suporto mais esses pseudo documentários do Nat Geo e do History Channel falando da Profecia Maia e das Profecias de Fim do Mundo em geral.
Com tantos temas interessantes de história, vida animal, sociologia, antropologia e arqueologia, esses canais continuam exibindo besteirol de péssima qualidade e procedência.
Não quero dizer que sou um cético para tudo que não seja evidenciado pelos meus cinco sentidos, mas o bom senso recomenda certos limites.
A respeito do fim do mundo, prefiro pensar que muitas pessoas estão acabando individualmente com os seus mundos e suas vidas, ao tomarem decisões erradas ou ao serem vítimas de seus semelhantes. No conjunto, infelizmente, estamos lentamente cometendo a mesma tolice ao não cuidar do planeta, do ambiente que nos cerca e privilegiando o imediatismo, o lucro fácil, alienado e irresponsável.
Porém, o planeta sobreviverá ainda por algum tempo suportando a ganância humana em subtrair-lhe todos os recursos sem piedade. Não seremos nós, caros leitores, que presenciaremos o término da vida na Terra.
Agora, uma coisa é certa, os Maias nunca imaginaram que tanta gente iria, num futuro distante, interpretar tão pateticamente o seu calendário astronômico.