Morrendo e aprendendo “Bardo Todol”, ou o livro tibetano dos mortos, tornou-se mais conhecido no ocidente a partir de 1927, quando de sua tradução para o inglês. Atribui-se a sua escrita a Padmasambhava, por volta do século 8 a.C. Mais do que um mero guia de auxílio sobre a morte e o morrer, o livro nos auxilia principalmente a viver.
Tudo o que foi adquirido ou acumulado será perdido. Tudo o que se fez ou deixou de fazer será contabilizado. Tudo o que nos é mais caro deixará de ser. E assim, no momento final, deixando de lado os cargos (inclusive os cargos em comissão), os títulos, o curriculum lattes, os mandatos e as aparições na TV, restarão as inarredáveis perguntas: quem sou eu? O que restou de mim?
Por isso, e também porque a ciência está longe de achar a pílula da eternidade, é que eu me pergunto: como é que alguém aprova a usina de Belo Monte ou financia outros projetos igualmente destrutivos? Como é que alguém tem a coragem de desviar dinheiro público, de furar fila ou de comer a carne de seres indefesos? Estamos todos morrendo nesse exato momento, quando células novas substituem as antigas, mas não percebemos mudanças na nossa autopercepção.
Podemos morrer no próximo instante, se um carro bater em mim ou eu for vítima de uma enxurrada (se morarmos em área de preservação permanente, aí fica até mais fácil). Apesar disso, continuamos fazendo tudo igual.
A resposta que dou a mim mesma é que velhos hábitos são difíceis de morrer. Continuamos apegados a desejos, bens e comportamentos que nos tornam escravos, mas ainda assim construímos uma bela justificativa para eles. Dinheiro, poder, prazer e aplauso são as coisas que nos movem e essa chama de vaidade vai demorar a morrer.
Como as explicações costumam nos acalmar, as que parecem se encaixar melhor para tudo que está aí são a dos espíritas e budistas. O mundo é o que é porque não aprendemos muito rápido. Vamos morrer e nascer de novo até “cair a ficha”.
Talvez por isso o mundo hoje pareça tão igual ao de séculos atrás, e o futuro não será muito diferente. Ex-governadores ladrões e empresários megalomaníacos terão que reencarnar; servidores públicos preguiçosos igualmente, e assim por diante. Estamos aplaudindo a China e ignorando o Tibete, quando deveria ser o contrário. Vivendo e aprendendo é o ditado, mas pelo visto teremos que morrer para aprender o que é “ser” humano.
2 comentários:
Caro darwinn:parabéns pelo texto!
Sugiro publicá-lo também através de outros meios.
Abraço,
Jackson Torres
Meu amigo Jackson, agradeço a tua manifestação. É sempre um prazer falar contigo.
A autoria do texto é da Samantha Buglione (vide título). O blog dela está entre os meus favoritos (lista no canto direito da tela).
Um abraço!
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