21 de dezembro de 2012
20 de dezembro de 2012
SOZINHA NO BRASIL
Numa época, meados do século 19, em que máquinas fotográficas eram
um trambolho e, ao mesmo tempo, um luxo, quem retratava a natureza eram os
artistas viajantes, com seus lápis e pincéis. Por sorte, ainda havia muita
natureza a retratar, principalmente no Brasil, embora, entre uma viagem e outra,
os europeus que nos visitavam já percebessem o começo da devastação.
Um desses artistas só está sendo revelado agora: a inglesa
Marianne North (1830-1890). Sua viagem ao Brasil, em 1872-73, lhe rendeu 112
pinturas a óleo sobre papel da nossa paisagem e flora -o que supera em número a
obra de Thomas Ender, Rugendas e Debret no gênero, além de antecipar em cem anos
a de outra inglesa, a querida Margaret Mee (1909-1988). A íntegra de sua
produção brasileira está no livro "A Viagem ao Brasil de Marianne North", com
texto de Julio Bandeira, recém-lançado pela Sextante.
Marianne veio ao Brasil sozinha, o que não foi pouca façanha, e,
pelo que pintou e escreveu, nunca se arrependeu. Era fascinada pelas árvores,
plantas, flores, frutas, borboletas e cobras com que deparava, e deixou um
exuberante registro pictórico de tudo isso -com o qual, em Londres, matava seus
conterrâneos de inveja.
Segundo Bandeira, o único desgosto de Marianne era constatar, a
cada passo, a aversão dos brasileiros à floresta, vista como um lugar ameaçador,
"um pesadelo a ser destruído". O que a mata virgem provocava na gente da terra
era "o nojo, um terror iluminado apenas pelo clarão ardente das queimadas". E
não se conformava com a total ausência de naturalistas brasileiros -como se a
riqueza natural não fosse digna de estudo.
Quase 150 anos depois, se Marianne voltasse aqui, não lhe
faltariam brasileiros com quem discutir a mata. Entre esses, os defensores de
códigos florestais movidos a motosserras.
A crônica foi publicada no Jornal Folha de S. Paulo, mas eu li no www.irbianchi.com
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