4 de setembro de 2012

YOGA E MEDITAÇÃO PARA "LIBERTAR" PRESOS

Condenado a quatro anos em regime fechado, acusado de roubo, o mineiro Manoel Fagundes, de 45 anos, diz que viu uma porta se abrir diante dele no Presídio Evaristo de Moraes, em São Cristóvão, onde está preso há um ano e seis meses. As grades que cercam o lugar continuam bem trancadas e, segundo Manoel, essa experiência só foi possível graças aos cursos de meditação e ioga oferecidos dentro da casa de detenção, semanalmente, para cerca de 40 internos. As aulas fazem parte do projeto voluntário Prision Smart, criado pela Fundação Arte de Viver, voltado para a reabilitação de presos.
 
Cerca de 400 detentos já foram beneficiados pelo programa no Evaristo de Moraes que, por enquanto, é a única cadeia do estado do Rio de Janeiro a ter esse tipo de atividade.
 
Fundada há 30 anos, presente em 156 países e há dez anos no Brasil, a Arte de Viver oferece cursos de fortalecimento individual e ensina técnicas de respiração que ajudam os internos a eliminar emoções negativas. As aulas têm o mesmo conteúdo dos cursos realizados fora da prisão. Na cadeia o objetivo é o mesmo e, segundo Manoel, quando medita o preso consegue sentir amor, fé e esperança, sentimentos que ajudam os detentos a conviver com a privação de liberdade.
 
- Os presos aprendem técnicas de limpeza, esvaziam a mente. Ensinamos a sudarshan kriya, uma técnica de respiração que funciona como uma ação purificadora, traz a visão clara e ajuda a eliminar toxinas. É uma limpeza em nível celular - diz a advogada Carolina Jourdan, que dá aulas para os presos e integra a Arte de Viver, fundada pelo líder espiritual indiano Sri Sri Ravi Shankar, que está em visita ao Brasil.
 
Segundo ela, as mudanças de comportamento são visíveis:
 
- Você vê que a transformação é verdadeira, não tem como dissimular. Eles são muito sinceros, não têm máscaras.
 
- É como um espelho que está sendo limpo, um fenômeno mágico - diz o interno, que alega segredo de Justiça para não dar detalhes sobre sua condenação, mas não esconde a satisfação ao tentar mudar o seu destino. - Estou aprendendo a viver o presente. A gente fica preso ao passado, às angústias e, com a meditação, afloram muitas sensações. Costumo dizer que médicos dão remédios para curar os males do corpo e, para curar conflitos sociais e jurídicos, levam para a casa de detenção. Mas ainda não há um tratamento para isso, é preciso pensar nisso, se antecipar, oferecer tratamento psicológico para quem está no presídio.
 
Há 26 anos vivendo no sistema carcerário, com passagens por unidades que já foram desativadas e até demolidas, como o presídio da Frei Caneca, Cristiano José da Silva perdeu a liberdade aos 23 anos. Hoje, aos 49, faz uma análise fria da cadeia: segundo ele, o modelo tradicional de detenção no país não é capaz de recuperar os internos.
 
- Nunca tinha visto nada que levasse bem-estar ao preso. Eram só brigas e mortes. Vi algumas rebeliões. Mas, graças a Deus, a Arte de Viver me trouxe uma paz inexplicável. Sinto mais amor hoje em dia - diz Cristiano, que foi condenado a 68 anos de prisão por assalto, tráfico e homicídio e, para se reencontrar, teve que passar por um processo de desintoxicação pessoal. - Tivemos uma aula muito intensa, falei durante cinco minutos sobre mim mesmo, não estava preparado, não sabia controlar minha respiração. No dia seguinte não consegui sair da cela, senti náusea, tive diarreia, fiquei deitado durante dois dias. Depois eu soube que isso já ocorreu com outras pessoas.
 
Os detentos que fazem o curso de meditação são orientados a passar uma semana em silêncio e usam uma plaquinha no peito, indicando que não podem falar. A tarefa é complicada porque os companheiros de cela ficam curiosos, mas tentam colaborar.
 
Fonte: O Globo

3 de setembro de 2012

SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DO DIREITO DE MORRER

A resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que permite aos pacientes dizer não à sobrevida artificial em casos de doenças crônicas e terminais esbarra na falta de um respaldo legal. Apesar de terem entrado em vigor ontem, as diretivas antecipadas de vontade foram entendidas por especialistas no tema como o pontapé para que o Congresso Nacional legisle sobre o assunto.
 
O deputado federal Hugo Leal (PSC-RJ), autor do único projeto de lei sobre o assunto na Câmara, espera que o texto, parado desde 2009 na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, ganhe força para voltar ao fluxo de tramitação. “A decisão do CFM é válida, mas falta uma marco regulatório”, defende. A expectativa de Leal é de que o tema entre em discussão e se aperfeiçoe. Uma das alterações sugeridas por ele é a criação de um modelo de manifestação da vontade com abrangência maior que a do prontuário — como ficou definido na resolução do CFM. “Pode ser o mesmo formato da doação de órgãos, com planejamento semelhante. Atualmente, essa opção fica registrada na carteira de identidade. Poderíamos adotar o método e deixar explícito o cuidado que a pessoa quer”, defende. O parlamentar, porém, reconhece que o procedimento é complicado e, por isso, merece uma discussão.
 
Fonte: Correio Braziliense