(Luiz Carlos Prates - Diário Catarinense de 22.09.2007).
Já contei aqui da frase do Pedro de Lara desabafando uma mágoa para a amiga Elke Maravilha. Pedro, um sujeito muito sensível, um dia foi maltratado pelo Sílvio Santos e foi dizer a Elke que existem pessoas tão pobres, mas tão pobres, que só têm dinheiro. Achei a frase magnífica. Ela diz muito de muitas pessoas. Mas não estou entre os bobos que dizem que mais fácil é passar um camelo pelo fundo de uma agulha que entrar um rico no reino dos céus.
Eu queria conhecer a cara do bobão que inventou isso. E não foi Cristo. Muita gente, séculos depois Dele, valeu-se das pregações do Cristo para escrever tolices em seu nome. Basta que uma pessoa seja razoavelmente inteligente para não dizer essa bobagem que une todos os ricos numa corrente de estupidez. Claro que é injusto. O que quero dizer é de uma reportagem que acabo de ler, sobre gente rica, vazia e, essa sim, estúpida. O título da reportagem, da revista Exame, é "Meu Iate É Maior Que O Seu". Sabe aquela disputa boba entre os que têm dinheiro para saber quem tem mais dinheiro? É disso que trata a reportagem a que aludo. Ricos se exibem, e os ricos estultos dizem mesmo essas bobagens sobre o tamanho do iate... Mas muita gente "boa", entre nós, faz parecido com seus filhos. Os filhos pedem mochilas com grife, e ganham. Qual a diferença? O que nossos filhos, em nosso nome, vão dizer no colégio é que Meu Pai Pode Mais Que o Teu, como dizem os ricos insensíveis sobre o iate de uns e outros.
Quanta gente comum, muitas vezes e sempre por parvoíces, entra nesse barco das aparências? Muitos compram carro para pagar em 36 vezes e vão morrer de velhos pagando... ou até, nem pagando. Só para aparecer. Pessoas viajam para o exterior e depois vêem as rugas crescer no rosto enquanto ainda pagam pela viagem já esquecida. Qual a diferença com os caras dos iates?Na verdade, os que entram nessa de jogar com as aparências enganam, antes de mais nada, a si mesmos. Depois, pensam que enganam os outros. Bolas, todos sabemos dos salários pagos aqui e em qualquer cidade em todo tipo de emprego.
Fora disso, ou o sujeito é grande empresário, o que é para poucos, ou passa para a linha da suspeita: "humm, isso não me cheira bem, esse cara anda ostentando o que não pode, hummm". E a mulher, ao lado, concorda.Melhor é dizer aos nossos filhos que a grife da mochila não interessa, interessa o que lhes está dentro da cabeça. É isso o que, mais tarde, vai fazer diferença na vida. Isso, sim, vai fazer diferença, não o iate ou os carros não pagos.
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